Carta da editora

Num rancho fundo com esperança à vista.

Existem muitos Brasis dentro do Brasil, já nos ensinou Darcy Ribeiro. De região em região, de influência em influência (portuguesa, africana, indígena etc.), mudam as comidas, os sotaques, as religiões, os modos de vestir e de interagir com o mundo. E, claro, a música. Mas, se tem um ritmo que parece ecoar de Norte a Sul, esse ritmo é o sertanejo ­– a sofrência se espalha pelas casas e lota shows, polêmicas à parte.

Não tem uma região do Brasil em que o sertanejo não reverbere de alguma forma.

Sim, os escândalos envolvendo apresentações milionárias em cidades que não têm sequer rede de esgoto precisam ser investigados. E, em outra sintonia, deveríamos investigar também a facilidade com que Marílias e Gusttavos dialogam com os brasileiros. “O mood sertanejo é muito maior do que um bando de agroboys machistas envolvidos com desvio de verba pública. O sertanejo tem raízes populares e multirraciais que encontram diferentes encarnações em diversas regiões do Brasil”, escreve Vivian Whiteman em um texto imperdível, logo na abertura desta ELLE View.

Prestes a estrear no papel de uma cantora sertaneja e, não à toa, estrela da nossa capa, Alice Wegmann segue na mesma toada: “Não tem uma região do Brasil em que o sertanejo não reverbere de alguma forma. Precisamos entender por que é tão fácil ele chegar às massas”, diz durante uma conversa deliciosa, que vai além das telas e das modas. Alice sabe bem que tudo esbarra em política, da cultura ao corpo feminino e, nas vésperas das próximas eleições (e quiçá, de um Brasil melhor), não tem medo de se posicionar. Pelo contrário.

Do som para as passarelas, mostramos ainda como o estilo musical mais pop do País veste caubóis e cowgirls modernas, desde que Hollywood eternizou o look “antes de tudo, um forte” de Clint Eastwood e cia. E mais: nesta edição, que marca os 2 anos da ELLE View, relembramos matérias icônicas escritas por um time de jornalistas que navega além da superfície e decupa para cada um de nós tudo o que ajuda a formar o que costumamos chamar de zeitgeist, o ar de uma época. Vale a pena clicar em cada link.

Assim como vale a pena entender por que nem todo comeback deveria ser bem-vindo – “warming” os anos 2000 e sua magreza umbigo de fora podem ser tóxicos para sua saúde física e mental.

Para terminar (e desanuviar!), indico uma matéria para abrir o sorriso: “Como irritar um bartender”. Prepare um drinque, sente no sofá, leia e, na próxima ida ao bar, lembre-se de não ser sem noção.

Saúde,

Renata

@renata_piza

P.S.: A partir deste mês, assumo a edição da ELLE View, legado de Nathalia Levy, e espero contar cada vez mais com a sua companhia. Obrigada Susana Barbosa e todo ELLE team pela acolhida. Avante!