Quando se fala em “beleza de tapete vermelho”, o que vem à sua mente? Provavelmente, a imagem que vai se desenhando é a de uma maquiagem perfeita, impecável, com alta cobertura, contorno bem desenhado, iluminadores discretos e até um batom vermelho ou um delineador preto podem acabar entrando em cena. No entanto, se formos avaliar o que realmente tem pisado nos red carpets no Brasil e ao redor do mundo nos últimos anos, dá para perceber que esse estilo ultraglamouroso, a tal “make de bonita”, está perdendo espaço para belezas que priorizam a criatividade, a personalidade e a ousadia.
Pelo menos é isso que escreve Zanna Rossi, para a ELLE UK. Em maio deste ano, a fundadora da Milk Makeup – marca especializada em maquiagens disruptivas – e apresentadora do canal de TV E! percebeu que, ao descrever os visuais da última temporada de tapetes vermelhos, adjetivos como “perfeito”, “lindo” e “bonito” estavam dando espaço para “icônico”, “cheio de inspiração”, “corajoso” e “visionário”. “Atualmente, as celebridades não estão mais interessadas em mostrar o seu melhor (leia-se: pagar de gatinha). A ideia é se mostrar de verdade, se sentir representada na sua própria imagem”, defende em seu artigo.
O look alienígena da atriz e modelo Hunter Schafer chamou atenção no tapete vermelho do MET Gala do ano passado.Foto: Getty Images
“As personalidades com quem eu trabalho estão 100% determinadas a criarem momentos de beleza em suas aparições públicas e eventos. Muitas delas já vêm com um briefing supercompleto, por vezes desenvolvido ao lado de um stylist, que já sabe o que elas vão vestir”, explica Rodrigo Costa, maquiador de Sabrina Sato, Gessica Kayane, Helena Bordon e fundador da RC Beauty, uma marca de maquiagem com bastões coloridos multifuncionais. “A minha empresa é reflexo dessa movimentação”, continua. Seus Stick Multi, por exemplo, vêm em cores como amarelo-escuro, rosa-choque e azul-cobalto – tons que não eram tão associados a eventos de gala.
O beauty artist Krisna – que já maquiou mulheres como Grazi Massafera, Maisa, Izabel Goulart e Anitta – concorda com Rodrigo. “Acho que as redes sociais ajudaram muito a beleza a ganhar mais destaque. Com Instagram e TikTok, as pessoas começaram a se sentir mais livres para ousar um pouco mais”, opina. De acordo com ele, isso ocorre principalmente porque a resposta a essas imagens menos convencionais dentro desses aplicativos, em geral, é muito calorosa. “Cada saída para um evento, atualmente, é praticamente um editorial. Não é só o clique dos fotógrafos no tapete vermelho que conta. Tem que postar no Instagram, tem que fazer vídeo, e isso faz muita diferença em como as pessoas se arrumam para esse tipo de situação”, completa Rodrigo.
Além do polêmico vestido de Marilyn Monroe, Kim Kardashian também “causou” ao chegar no tapete vermelho do MET Gala deste ano com o cabelo platinado.Foto: Getty Images
Segundo Zanna Rossi, essa explosão de celebridades lançando suas próprias marcas de maquiagem tem a ver com esse novo cenário do tapete vermelho. “Com mais de 60 empresas de beleza lideradas por atrizes, cantoras e modelos nos Estados Unidos, toda oportunidade de aparecer em público virou uma chance de gerar mais publicidade e vendas de cosméticos”, escreveu antes de dar o exemplo de Hailey Bieber no Grammy deste ano. A modelo chegou com um glow supernatural, que tem a cara da sua mais nova marca de skincare, a Rhode. E quem lembra de Rihanna antecipando o iluminador magenta da Fenty Beauty no MET Gala de 2017?
“Cada saída para um evento, atualmente, é praticamente um editorial. Tem que postar no Instagram, tem que fazer vídeo, e isso faz muita diferença em como as pessoas se arrumam para esse tipo de situação”,
Rodrigo Costa
“Hoje em dia, o Carnaval e outros bailes à fantasia que eram entendidos mais como brincadeira e diversão são levados muito a sério pelas nossas clientes”, diz Krisna. “Elas enxergam ali uma oportunidade muito rara de ousar sem amarra alguma. De todo modo, são esses extremos que servem de inspiração para o público em geral puxar a maquiagem do dia a dia até um lugar mais interessante. Não é mais tão raro ver alguém com um cristal colado no rosto ou usando uma cor menos ‘normal’.”
Leo Almeida – nome por trás de algumas belezas de Claudia Leitte, Camila Coutinho, Mari Saad, Ana Clara Lima e Mari Gonzalez – lembra que não é qualquer devaneio criativo que entra no tapete vermelho. “A gente percebe que há uma vontade de ousadia, de novidade, mas a fundação disso tudo ainda é o clássico. Há uma preocupação maior em contar uma história, mais do que estar bonita apenas. Ainda mais agora que, quando você aparece no tapete vermelho, não é só o vestido que vai gerar assunto. Fico muito feliz em ver a maquiagem ganhando respeito”, diz. “Nesse novo ambiente, o que importa acima de tudo é fazer a sua personalidade brilhar. E isso é resultado da sua sinergia com a equipe de moda e beleza. É a partir dessa abertura que a gente consegue ir além, trazer algo que faz a diferença.”