Se você viveu os anos 2000 intensamente, é bem provável que tenha aderido ao bronzeado em algum momento. Na época, o visual, muito atrelado a celebridades, como Paris Hilton e Lindsay Lohan, tinha uma coloração vibrante e era conquistado principalmente de forma artificial. Não é de estranhar, então, que a queda do bronze não tenha demorado muito para acontecer – mas o motivo não foi apenas estético.
Estudos científicos mostraram que a exposição às luzes ultravioleta, presentes nas camas de bronzeamento, muito utilizadas naquela época, aumentam as chances de desenvolver o câncer de pele. “O efeito delas é como tomar um sol muito intenso por um longo período de tempo, acelerando radicalmente o processo de produção de melanina, o que gera, além de problemas graves de saúde, o risco de queimaduras”, explica o dermatologista Daniel Dziabas. É por isso que o procedimento foi proibido em diversos países do mundo, inclusive no Brasil.
Os bronzeamentos a jato, por sua vez, outro método queridinho entre as celebridades da década, até eram mais seguros, mas não entregavam um bom acabamento. O procedimento basicamente consistia em pintar o corpo todo com uma tinta especial. Ela foi pensada apenas para ser usada em pessoas de pele branca e geralmente tinha um tom alaranjado intenso (alô, bronze tipo Cheetos!). Além disso, manchava o corpo, ressecava a pele e tinha um cheiro forte, que permanecia mesmo tempos depois da aplicação.
A partir dos anos 2010, outro fenômeno chegou para enterrar de vez o bronzeamento – o skincare. Usar protetor solar todos os dias deixou de ser apenas uma recomendação esquecida no consultório dermatológico para se tornar uma noção popular básica de cuidado com a pele e prevenção de doenças. E, mesmo com o uso do produto, muitas pessoas passaram a evitar a exposição solar direta. “O bronzeamento é um processo de defesa da nossa pele contra os danos do sol: nosso organismo aumenta a produção de melanina como uma forma de proteger o DNA de nossas células contra a ação dos raios ultravioleta, que pode causar manchas, acelerar o envelhecimento (quebrando nosso colágeno e nossas fibras elásticas) e ainda levar ao câncer de pele”, explica Daniel.
Quer dizer então que a volta do bronzeamento significa que esquecemos de todas essas questões? De jeito nenhum! Primeiro porque o bronze da vez tem uma cor mais natural e um efeito iluminador. Segundo porque o processo para conseguir o visual também é diferente. É claro que os sprays, agora com mais qualidade, ainda têm adeptos, mas quem protagoniza o comeback são os cosméticos. Ainda de acordo com o WGSN, o mercado global de autobronzeadores valerá quase 5,5 bilhões de dólares até 2026 (Transparency Market Research), com a Europa registrando a maior demanda, estimada em mais de 2,8 bilhões de dólares. No TikTok, a hashtag #fakebronze (bronzeado falso) já soma mais de 2 bilhões de visualizações.
“A ideia dos produtos da categoria é trazer a cor e a luminosidade de uma forma natural e não definitiva”
Rodrigo Costa
A estratégia das marcas que encabeçam esse movimento é justamente ir contra os estereótipos colocados no bronzeado em décadas passadas. “Existe uma maior disponibilidade de produtos no mercado que vêm com múltiplos benefícios, com fórmulas sofisticadas, e são fáceis de aplicar, além de serem confortáveis e convenientes de serem usados em casa”, explica Bruna Ortega, especialista de tendências e diretora de contas do WGSN. Outro diferencial é a maior gama de tons (e até subtons) disponíveis – inclusive para a pele negra, o que antes era quase inexistente. Para Bruna, o próprio mercado, ao disponibilizar tantos tipos de bronzeadores com alta performance, foi responsável pela volta da tendência.
Nessa onda, surfam grandes marcas de beleza, como a Dior Beauty. Sua nova linha, a Dior Solar, é formada de produtos que nos acompanham durante todo o processo de bronzeamento natural – da proteção solar à reparação da pele. O destaque, porém, é o Gel Autobronzeador (299 reais), que é composto de 90% de ingredientes naturais e contém ativos de skincare, como o ácido lático, que ajuda na renovação celular. Outras marcas famosas de cuidados com a pele, como Avène, Clarins, Nivea e Drunk Elephant, também têm produtos similares.
Outras empresas, por sua vez, já nascem com foco específico. É o caso da britânica Isle of Paradise e da estadunidense Tan-Luxe. Ambas contam com portfólio realmente imenso com diferentes tipos de bronzeadores (do óleo à musse) e outros itens dedicados ao assunto. Nos sites das marcas, aliás, é possível selecionar o produto pela cor que você deseja alcançar. Outra queridinha do mercado é a Dolce Glow, criada nos Estados Unidos por Isabel Alysa, conhecida por fazer os bronzeados de várias celebridades, como irmãs Kardashian, Jennifer Lopez e Miley Cyrus – a cantora, aliás, se tornou uma das investidoras da marca.
No Brasil, a maior parte dos produtos autobronzeadores utilizados pelos consumidores ainda vem de marcas tradicionais, como Australian Gold e Best Bronze. Mas pequenas empresas com itens de make que simulam o bronze começam a surgir. É o caso da RC Beauty, do maquiador Rodrigo Costa. “A ideia dos produtos da categoria é trazer a cor e a luminosidade de uma forma natural e não definitiva”, explica. Para quem quer fazer o teste, a dica do expert é misturá-los com hidratantes. “Dessa forma, você consegue medir exatamente o acabamento que deseja, sem cair no exagero”, finaliza.