Power players da beleza: Franciny Ehlke

De sensação na internet à dona de um império milionário de beleza. Conheça a trajetória da influenciadora e empresária que tem sacudido o mercado.

Quinze milhões e 500 mil seguidores no Instagram. Dez milhões e 700 mil inscritos no YouTube. Cento e trinta milhões de reais de faturamento em sua marca em 2022. Quando falamos de Franciny Ehlke, os números importam. 

A paranaense começou sua carreira na internet há uma década, quando tinha 14 anos, e não demorou muito para conquistar uma comunidade de seguidores fiéis. São eles os principais responsáveis por fazer com que a FRAN, sua marca de beleza, lançada no final de 2021, se tornasse um grande sucesso. “Minha relação com meu público é a minha prioridade. Quero que elas fiquem felizes e satisfeitas. Esse é o meu maior propósito”, diz Franciny em entrevista à ELLE Brasil. 

Mas a marca não estacionou nos limites da comunidade da influenciadora: ela estourou a bolha e tem conquistado diferentes públicos com produtos acessíveis que se tornaram verdadeiros hits na internet. “Quero gerar a sensação de curiosidade nas pessoas, que elas fiquem animadas de testar algo novo”, compartilha. Criar produtos que viralizam, aliás, faz parte da estratégia da empresária, que é, acima de tudo, uma grande expert em fazer qualquer coisa acontecer nas redes sociais. 

No bate-papo a seguir, Franciny fala sobre seu percurso e compartilha os bastidores de sua marca.

e6nJxEUE Fotos 01

Como foi o seu primeiro contato com o universo da beleza? 

Comecei a sentir vontade de me maquiar quando tinha 13 anos, observando as outras meninas da minha escola – às vezes uma amiga ia com uma máscara de cílios, outra com as bochechas mais coradinhas de blush. Naquela época, não tínhamos tanta informação sobre maquiagem como temos hoje, então eu basicamente reproduzia o que eu via. Acredito que isso tenha vindo da vontade de me sentir mais bonita, que hoje consigo enxergar que era apenas uma ferramenta para que eu me sentisse mais confiante em uma idade repleta de transformações. 

Foi nessa época que a internet entrou na sua vida? 

Sim! Aos 14 anos, criei meu canal no YouTube. Foi aí que realmente comecei a consumir mais conteúdo sobre o assunto e ficar cada vez mais inspirada para produzir algo que fosse meu. Era uma fase em que eu me sentia muito deslocada e encontrei na internet um refúgio. Foi onde me senti acolhida de verdade e passei a me sentir mais confiante, mesmo que, no começo, fossem poucas as pessoas que me acompanhassem.

Então você não tinha expectativas de que isso pudesse se tornar um trabalho?

Eu tinha a intuição de que algo poderia acontecer, mas não havia um planejamento para isso. Eu era muito nova e, por uns três anos, a internet era só um passatempo que eu tinha, enquanto decidia o que queria fazer da vida, qual faculdade iria cursar. Não esperava que um vídeo meu fosse bate 10 mil visualizações, depois 100 mil… Só comecei a me dar conta de que isso poderia ser um trabalho quando, no terceiro ano do ensino médio, as meninas mais novas começaram a pedir para tirar foto comigo, quando comecei a ser parada no shopping. Foi nessa época que as marcas começaram a me chamar para fazer parcerias e eu não tinha nem ideia de como fazer, de quanto cobrar. Foi uma brincadeira que deu certo. (risos)

Ter uma marca já estava nos seus planos ou a oportunidade simplesmente apareceu? 

Acredito que ela tenha sido parte do desenvolvimento do meu trabalho. Não era um sonho que eu tinha quando estava totalmente focada na produção de conteúdo, porque, na minha cabeça, lançar produtos era algo completamente inatingível. Eu tinha a MAC como referência, que lançava produtos legais toda hora, sabe? Eu não imaginava sequer que teria esse tipo de oportunidade. Mas, aos poucos, vi que outras influenciadoras estavam fazendo esse movimento, ao mesmo tempo que meu público começou a perguntar quando eu lançaria algo que fosse meu. Isso começou a nutrir a vontade e, há quatro anos, de fato se tornou um desejo real. 

Como foi o processo de criação da marca?

Quando decidi que queria lançá-la, comecei a pesquisar para saber quanto eu precisaria investir – de dinheiro, mas de tempo também, porque eu mal conseguia dar conta do meu canal sozinha! (risos) Entendi que não precisaria fazer isso por conta própria, que outras blogueiras que estavam seguindo esse mesmo caminho estavam fazendo por meio de licenciamento. Isso foi perfeito para mim, porque eu teria a empresa que tocaria a parte de negócios, enquanto eu poderia me focar nas coisas que gosto, como testar produtos, fazer as divulgações e pensar em campanhas. Foi aí que decidi fazer a parceria com a Mboom, que é quem cuida de toda a parte de desenvolvimento e distribuição dos produtos. 

Quais são as suas principais funções na empresa? 

Sou eu quem bate o martelo em tudo o que vai acontecer, basicamente – desde a data de uma promoção até o que vai no press kit para influenciadores e imprensa. Mas minha prioridade ainda é cuidar da minha imagem: preciso continuar alimentando minhas redes sociais com conteúdo que seja relevante e me manter em evidência. No final das contas, fico responsável principalmente pela divulgação e comunicação. 

Fotos02

Associar a sua imagem de maneira tão forte com uma marca pode ser desafiador, principalmente em relação a críticas. Como é isso para você? 

Tem muita coisa que eu levo para o pessoal. Não vou negar. Mas acredito também que isso me faz estar mais envolvida com tudo o que é feito, porque é uma responsabilidade muito grande. Uma pessoa na qual eu me inspiro muito é a Huda Kattan, criadora da Huda Beauty. Ela começou como influenciadora, lançou a marca e foi, aos poucos, desvinculando sua vida pessoal dos negócios. Hoje em dia, ela tem um público conquistado totalmente por causa da qualidade de seus produtos, o que é muito legal. No momento, eu gosto de ser o rosto da marca, mas não sei se um dia isso vai mudar. 

Quais foram os primeiros lançamentos? 

A gente já começou com uma linha completa de produtos. Inicialmente, queria lançar iluminadores, mas foi estratégia da empresa começar com tudo para mostrar que a gente “chegou, chegando”. (risos) E realmente foi muito impactante, porque ninguém estava esperando. Isso gerou um baita burburinho! 

Quais foram as outras estratégias de lançamento? 

Na verdade, antes de fazer o lançamento, eu já vinha plantando a sementinha que algo estava para acontecer. De um dia para o outro, arquivei todas as minhas fotos no Instagram, o que deixou meus seguidores enlouquecidos! Passei um final de semana todo fora da internet e, na segunda-feira, lançamos um fashion film, um vídeo no YouTube contando sobre a marca, colocamos um ônibus coberto com o monograma da marca para rodar pela Avenida Paulista e organizamos vários eventos. Tudo isso sem ter os produtos disponíveis para a compra ainda, o que despertou ainda mais desejo. Depois de 15 dias, fizemos o lançamento oficial e eles esgotaram no primeiro dia. Outra estratégia que deu certo foi, logo de cara, vender os produtos em grandes lojas, como Renner, C&A, Riachuelo e Sephora, o que me ajudou muito a ter um faturamento bom. 

Como as redes sociais a ajudaram nessa divulgação? 

Essa é uma das maiores vantagens das influenciadoras que lançam marcas. A gente tem um potencial de alcance que já existe e é orgânico, enquanto outras empresas precisam batalhar muito para começar do zero. Eu tenho uma base muito forte na internet e sempre notei muito o meu público. Desde o começo, incentivei meus seguidores a postarem imagens usando os produtos para que eu pudesse compartilhar, comentar e até fazer outros vídeos reagindo. Isso gerou uma produção de conteúdo enorme com os meus produtos. Outra coisa que ajudou muito foi a minha relação com outras influenciadoras: tudo o que eu lanço, elas postam sem cobrar nada. Aliás, essa troca é muito comum entre os criadores – eu posto o seu e você posta o meu. 

O quanto essa comunidade influencia na criação de produtos? 

Influencia muito! Tenho muitas seguidoras, por exemplo, que precisam guardar dinheiro durante meses para comprar um produto. E é claro que quero entregar um produto de qualidade para ela, mas, para mim, é prioridade que eles sejam sempre acessíveis. Posso ter um faturamento maravilhoso se lançar uma paleta de sombras de 200 reais, mas sei que isso deixaria minhas seguidoras muito chateadas, então não faço. Minha relação com meu público é a minha prioridade. Quero que elas fiquem felizes e satisfeitas. Esse é o meu maior propósito.

Fotos 04

Quando você pensa em lançar um novo produto, qual o ponto de partida? 

Vejo o que está faltando no mercado, porque não quero concorrer diretamente com muitas outras marcas com produtos parecidos. Acho que temos muitas categorias para explorar, sabe? Quero gerar a sensação de curiosidade nas pessoas, que elas fiquem animadas de testar algo novo. 

Qual foi o maior hit até hoje? 

O Lip Chilli, com certeza! É um gloss que aumenta os lábios que viralizou na internet logo no lançamento. Na época, só marcas mais caras tinham esse tipo de produto e o meu era mais acessível. Sem contar que era o único item da marca que tinha uma embalagem vermelha, toda especial. Foi um item desenvolvido para viralizar mesmo. 

Como está o crescimento da marca? 

Nós tivemos um início muito forte e eu achava que os números poderiam cair depois, que isso seria natural. Mas foi o contrário. Alguns meses depois do lançamento, começamos a vender em outras lojas, chegamos às farmácias e levamos os produtos para cidades em que geralmente o acesso à beleza é muito menor. Tudo isso aumentou muito as vendas. Além de novas consumidoras, nós conquistamos uma comunidade fiel: quem compra uma vez compra de novo. Então, a marca só cresce.

Quantos funcionários vocês têm hoje? 

Em torno de 300 pessoas, mais ou menos. Nós temos principalmente um time de vendas muito forte. 

Quais os próximos planos? 

Meu sonho é lançar em Portugal. Esse é meu principal objetivo agora. Mesmo sendo um país pequeno, em comparação com o Brasil, tenho um público bem forte lá. Muitos seguidores contratam pessoas para virem para cá e levarem produtos para eles. Também estou aperfeiçoando o meu inglês para começar a criar vídeos para a comunidade internacional porque quero expandir para outros países também. 

Fotos 03