Raul Lopez sempre se inspirou em “bitches” poderosas. Nascido em Williamsburg, no Brooklyn, o fundador e designer da marca nova-iorquina Luar passou a infância impressionado pelas mulheres que eram lendas no seu bairro. “Eles eram líderes de gangue”, lembra ele. “Minha mãe sempre disse que o homem pode até usar a cabeça, mas a mulher é o pescoço, é quem a segura. Eu quero trazer esse tempo de volta.”
Na coleção de outono 2023, Raul fez exatamente isso. Intitulada Calle Pero Elegante (“da rua, mas elegante”), o show homenageou essas mulheres e os looks que as faziam brilhar. “Queria celebrar as silhuetas clássicas, mas dar um toque Luar”, afirma. Pense em ombreiras largas, cintos exagerados e roupas ousadas. Uma em particular, um casaco de pele preto que chega até o chão, me lembrou uma peça usada por minha avó. E esse é exatamente o ponto. O objetivo da coleção era representar um dos muitos produtos culturais transmitidos entre as gerações nas comunidades latinas e negras. “Para uma família caucasiana, é um anel de diamante ou um colar de pérolas”, diz Raul. “Para nós, é um visom. Minha mãe herdou o casaco da minha avó, que provavelmente comprou num brechó, e é ele que as faz se sentirem vitoriosas. Essas são heranças duradouras na minha comunidade. É assim que a gente faz.”
Como um garoto latino orgulhoso de sua ascendência dominicana, Raul ganhou destaque pela primeira vez em 2005, quando fundou a marca de streetwear Hood by Air com o amigo Shayne Oliver. Após cinco anos, ele deixou a label para se aventurar sozinho e criar a Luar (seu nome escrito ao contrário), em 2017.
“A Luar é de todo mundo. Sem ela, eu não existo. E, sem mim, ela não existe. Trabalhamos em conjunto, com muita harmonia.”
Desde o início, o designer procurou maneiras de representar sua hereditariedade no trabalho. “Não se trata apenas de ser dominicano”, diz ele. “São também as unhas, o cabelo, a forma como nos vestimos e nos comportamos. Somos altivos e intensos. Sabemos como nos destacar, entrar numa sala e parar tudo.”
A intenção com a Luar é essa mesma. “Com as nossas peças, todos vão ficar de olho em você. Gosto de fazer as pessoas se sentirem confiantes e confortáveis na própria pele. Quero que elas se sintam poderosas.”
Uma forma de Raul Lopez inspirar poder é por meio de acessórios. Sua bolsa Ana (o nome de suas avós, mãe e irmã), usada por Dua Lipa e Troye Sivan, recentemente lhe rendeu o prêmio CFDA de Designer de Acessórios Estadunidense do Ano. Ele desenhou o item para que pudesse ficar apoiado na mesa e ser visto. “Ela é boa para iniciar uma conversa”, diz ele.
A vitória no CFDA também foi uma vitória para a sua família. “Eu represento os imigrantes da República Dominicana. Como não pude estudar numa escola de moda, o prêmio foi como um diploma para mostrar aos meus pais: ‘Olha aí, esses anos todos, vocês reclamando, porque eu não me tornei médico nem advogado. Aqui está o maldito diploma para a lareira.” (O prêmio está mesmo na casa dos pais.)
Desfilar no cobiçado horário de encerramento da New York Fashion Week, anteriormente um domínio de Marc Jacobs e Tom Ford, pareceu não ser só uma conquista dele. “Foi de nossa comunidade”, garante Raul. “A Luar é de todo mundo. Sem ela, eu não existo. E, sem mim, ela não existe. Trabalhamos em conjunto, com muita harmonia.”
Quando Raul Lopez diz que seu trabalho é “cultural”, ele não está apenas falando da boca para fora. “Eu não gosto desse troço de clickbait, de lacração na internet. Eu vivo a cultura. Eu também sou essa garota e já fui essa garota antes que ela se tornasse tendência. E, como já afirmou a ‘filósofa’ Sheree (do reality show The Real Housewives of Atlanta): ‘Quem vai me desmentir, bebê?’”