Medo de gastar combina com vontade de investir?

Quase 50% das brasileiras e brasileiros sentem pavor de encarar as finanças, mas a jornada investidora pode ser caminho para lidar melhor com dinheiro.


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CONTEÚDO APRESENTADO POR BTG PACTUAL DIGITAL

Acredite se quiser: no Brasil, duas em cada três pessoas apresentam algum tipo de sintoma físico ao precisar pensar ou falar sobre dinheiro ou encarar a falta dele. Foi o que constatou uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva para entender melhor o comportamento – e a ansiedade acima dos níveis mundiais, embora esta seja uma questão presente em muitos outros países – de brasileiras e brasileiros que ficam apavorados por terem de lidar com questões monetárias. O que vai desde abrir extratos e boletos (algo que 21% dos entrevistados disseram evitar) a adiar decisões financeiras relevantes por travar na hora de analisar o orçamento (como 39% dos respondentes).

Mesmo que a aversão atinja e, de certa forma, prejudique boa parte da população, falar sobre ela é mais um dos tantos tabus dentro da temática “dinheiro”. “De fato não se aborda a dificuldade em se relacionar com finanças sob essa perspectiva”, diz a psicóloga Ana Sandra Seabra, especializada em transtornos compulsivos. “Por outro lado, temos uma infinidade de conteúdos, de livros a filmes como a série Delírios de Becky Bloom, que representam aqueles que gastam excessivamente, como se este fosse o único transtorno que pode comprometer a saúde das finanças e a saúde mental do indivíduo”, completa, destacando que a fobia financeira é considerada uma questão na psicologia do dinheiro.

Tabu histórico e experiências negativas

De onde vêm? Onde vivem? Como se alimentam os medos em torno do dinheiro? As construções históricas ajudam a explicar. “O assunto dinheiro é cercado, ainda hoje, de reservas. Culturalmente, é um tema visto como chato, feio, deselegante de se comentar”, explica Ana Seabra. E esse é um ponto de atenção, algo que estimula o bloqueio. No entanto, algumas vivências traumáticas ao longo da vida de alguém, de escassez prolongada de recursos a conflitos familiares por bens e grana, também podem ser determinantes para que a fobia se instale.

O comportamento é considerado patologia quando um quadro similar ao de ansiedade é desencadeado nas situações que envolvem as finanças, com incômodos físicos como náusea, batimento acelerado e tontura, entre outras reações. De acordo com o grupo de pesquisa de Oniomania (transtorno de consumismo compulsivo) do Hospital das Clínicas, o alerta deve soar para quem evita abrir o extrato ou a fatura do cartão, prefere comprar sem olhar o preço – e não necessariamente porque está sobrando dinheiro – e não quer nem saber se gasta mais do que ganha. Atitudes como essas são consideradas típicas de quem sofre com a fobia.

O resultado, nesses casos, é inversamente proporcional ao que se espera. “Fugir do assunto faz com que as pessoas comecem a perder dinheiro por pagar juros no cheque especial, em função do não controle, ou no cartão de crédito, por não se atentar à data de vencimento e pagar com atraso”, alerta Fernanda Bottari, head de relacionamento do BTG Pactual. “E, mais adiante, impede ganhos por deixar somas paradas ou mal investidas. Sem contar que o dinheiro parado vai perdendo poder de compra, em função do cenário econômico e da inflação”, lembra.

Investir, então, só para as corajosas?

Enfrentar a fobia é determinante para alcançar tranquilidade e deixar de ser refém do dinheiro, mesmo que em um primeiro momento o objetivo seja apenas para organizar as contas fixas. Para Fernanda, o primeiro passo é buscar administrar a ansiedade, focando no momento presente. “Isso vale para a vida e também para as finanças”, reflete. Ana Seabra acrescenta ser necessário deixar a vergonha de lado, algo muito comum, sobretudo para quem está em dificuldades financeiras, além de reconhecer e aceitar os erros passados para seguir em frente com mais chances de acertar.

Ter a clareza do que dinheiro significa para você e identificar os gatilhos que causam desconforto também são pontos importantes nessa jornada. Para ajudar nisso, ambas as profissionais orientam a consumir conteúdos de educação financeira, algo que culturalmente ainda não somos estimuladas a fazer. “Atualmente temos muitos formatos e abordagens e é fácil encontrar um caminho que traga calma e leveza ao assunto. Porque, de fato, é preciso encarar!”, afirma a executiva do BTG Pactual. Aliás, neste aspecto, Fernanda faz um alerta: justamente pelo receio e pela ânsia de encontrar soluções rápidas e que dependam menos de si mesma, quem sofre para lidar com finanças está também mais suscetível a cair nos contos dos retornos milagrosos.

“Não existe almoço grátis, lembremos. Portanto, a recomendação é buscar orientação de quem fala sobre o tema, mas se certificar de que sejam profissionais sérios e assessores que estejam ligados a instituições mais conhecidas”, ensina. E, então, com conhecimento e mais organização, a jornada investidora pode, sim, ser uma consequência, uma escolha, um passo seguinte. “Idealmente, o dinheiro deveria ser visto como uma ferramenta para realização de sonhos. E esse propósito certamente fará do processo de economizar algo mais leve e possível para todas.”

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