Maturidade não é para amadores
Chega um momento em que você entende que a vida não é sua se for baseada apenas na opinião alheia, no roteiro que o outro escreveu.
“Há alguns anos atrás, eu estava casada, vivendo com meus filhos e com meu companheiro, quando me apaixonei loucamente por uma mulher… Eu fui obrigada, então, a olhar para as minhas escolhas, porque eu estava acomodada, vivendo confortavelmente uma vida desconfortável.” O depoimento é de Rox, 46 anos, instrutora de Trauma Informed Yoga. E ela não é a única a encarar uma reviravolta bem naquele momento em que a vida parece estar completamente estabilizada. A maturidade é um convite às mulheres que querem escrever a própria história. Padrões não cabem mais, imposições sociais perdem sua força e regras, mais do que nunca, só servem para você decidir se quer ou não continuar no jogo.
Com a posse da maturidade, a escolha passa a ser sua. Você descobre que não pode mais terceirizar sua felicidade nem culpar o mundo por algo que, única e exclusivamente, foi você quem escolheu. Preconceitos e julgamentos não deixam de existir quando amadurecemos. A diferença é que agora nós falamos “foda-se”.
Mas engana-se quem pensa que a maturidade é um passe livre para fazer o que quisermos sem pensar nos outros. Não se trata disso. O outro continua importante, apenas não aceitamos mais nos definirmos pelo olhar dele. Para quem atravessa o portal da maturidade, ser fiel a si mesmo, à sua essência, ao que pensa e ao que sente é a busca que faz sentido na existência.
Para Rox, deixar os filhos, o companheiro, a bela casa e a falsa segurança de que estava tudo bem não foi fácil. A maturidade a obrigou a olhar para suas próprias escolhas e ela viu, nesse novo amor, a potência da liberdade de poder escolher o que se quer viver. Se isso feriu sua família? Sim, muito. Mas a escolha que ela fez a libertou. E, pasmem, libertou, principalmente, a família dela de seguir um padrão de infelicidade que, mesmo sem querer, ela estava passando para seus filhos: o de que para ter uma família ela precisava se sacrificar.
Quando vivida com consciência, além do “foda-se”, a tal da maturidade também traz o entendimento de que suas atitudes refletem e são espelho para aquelas pessoas que você cuida e ama. Rox entendeu isso e não precisou continuar vivendo dentro das caixinhas pré-estabelecidas pela sociedade para continuar sendo a mãe de seus filhos e amando-os loucamente.
No livro Indomável, Glennon Doyle define muito bem isso quando diz: “Meus filhos não precisam que eu os salve. Meus filhos precisam ver eu salvar a mim mesma.”
Viver a vida verdadeiramente é um exemplo para que seus filhos possam também viverem a vida deles verdadeiramente. Se você se anula, se você é infeliz, se você passa por cima de sua essência, o que você acaba ensinando, mesmo sem querer, é que a vida é um grande martírio. E não precisa ser assim. Cada uma de nós pode ser feliz à sua maneira, encontrar o seu melhor jeito de viver.
Se tem uma coisa que nós, mulheres maduras, aprendemos é a relativizar o peso e a importância das coisas. E talvez, pela primeira vez, sentimos que está tudo bem. A maturidade nos faz caminhar no equilíbrio que vem de dentro, independentemente de quantos muros estejam caindo lá fora. Porque chega um momento em que, finalmente, você entende que a sua vida não é sua se for baseada apenas na opinião alheia, no roteiro que o outro escreveu.
Sim, sabemos que tomar posse da própria vida, muitas vezes não é fácil. O conceito de maturidade é libertador, mas viver a maturidade é pensar em si tendo empatia pelo outro. Não é para amadores.
“Se houve algum evento em particular que me mostrou que eu deveria sair da minha cabeça e voltar para o meu corpo foi ter tido meu primeiro orgasmo aos 40 anos com uma mulher. Eu estava nervosa, eu pesquisei em como fazer, em como tocar. Sabe aquela coisa de pegar o espelho e beijar igual a adolescente? Foi mais ou menos isso. Mas, quando eu cheguei diante dela e a força das nossas emoções, eu só consegui acompanhar os movimentos, torcendo para que os meus também estivessem certos. Ela dizia ‘Rox, calma, não pensa, só sinta…’ E então, o meu corpo em toda sua potência, ecoou pelo quarto.”
Para terminar essa matéria convidamos você para assistir ao depoimento da Rox, nossa amiga que generosamente compartilhou seu processo cheio de dor, mas, sem dúvida nenhuma, profunda e delicadamente libertador na busca de sua felicidade. Afinal, se tem uma coisa em que a gente acredita é que temos o direito de ser feliz do jeito que quisermos, vivendo da forma mais plena possível a nossa essência. Seja qual for.Camila Faus e Fernanda Guerreiro são criadoras do @shet_alks. Uma plataforma de conteúdo feita para mulheres que acreditam que a idade dos “enta” rima com experimenta.
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