O minimalismo artesanal da Rocio Canvas

Etiqueta curitibana de cinco anos mostra maturidade em sua estreia na SPFW.


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Diego Malicheski, 30, é o diretor criativo da Rocio Canvas, que se pronuncia Rocío e não Rócio, como alguns podem imaginar. Este é o nome do meio de sua mãe, que o inspirou a entrar na moda e o ensinou, principalmente, a beleza dos trabalhos manuais, como o crochê.

Por isso, uma forte característica do designer, que tem formação em desenho industrial, é a sua relação com o artesanal, com o ateliê. É importante frisar isso porque a imagem de moda da sua marca é bastante minimalista e, às vezes, cai no industrial, o que pode dar uma falsa ideia de impessoalidade.

A Rocio foi fundada em 2016 e, desde 2017, faz apresentações em semanas de moda. A marca esteve no line-up da Casa de Criadores por quatro anos e, agora, em sua décima coleção, leva o tal minimalismo handmade para a São Paulo Fashion Week.

Nesta temporada, o fio condutor é a ideia de deslocamento. O tema reflete a pandemia e a maneira como ela nos forçou a um isolamento, além da mudança de Diego para São Paulo, no ano passado. “É um conceito mais abstrato, o que eu adoro. Pensei principalmente sobre ter que abrir mão das coisas, fazer escolhas”.

Nas roupas, essa história aparece em peças funcionais e adaptáveis. Outro recurso para lembrar a questão do movimento foi o uso de faixas, que amarram, acinturam ou ficam pendentes nos looks. Revisitar os passos que ele já deu também faz parte do processo de entender o deslocamento, e isso está nas modelagens que o estilista já tinha produzido e foram trabalhadas mais uma vez, em tecidos como o linho, crepe e malha canelada.

Os destaques ficam por conta dos casacos largos, a criação de uma estampa inspirada em cascos de tartarugas, o uso de algodão para trazer mais leveza e a primeira investida da etiqueta no jeans, em um macacão. Fora isso, há pitadas do que o estilista chama de “estranhezas”, como na composição de cores com lilás, menta e vermelho, e também no styling, assinado por Marcell Maia, com direito a óculos futuristas.

“A ideia é cada vez mais conseguir conversar com essa mulher que a gente veste, se conectando com ela e criando códigos”, afirma Diego. “Não quero reinventar a roda na moda”, diz. E, de fato, a coleção, que estará disponível para compra a partir de agosto, transparece maturidade. Fica claro que é resultado de um trabalho bem racional.

“Por mais artístico que seja o processo criativo, sempre encarei o fato de ter uma marca como um negócio”. Um exemplo disso é o esforço de Diego em levar essa experiência de um produto handmade para o online.

Além de estar em alguns marketplaces, a marca tem focado na venda sob demanda. “A minha roupa é de alto valor agregado. Sei quanto ela custa, então acredito que o sob demanda funciona para uma cliente que investe na moda. Tem desafios, sim, como a questão da prova, mas que são revertidos, por exemplo, com ferramentas de medidas virtuais. É possível dar um atendimento personalizado, mesmo que online. Acredito que o futuro está nas coleções enxutas e mais assertivas, que fazem o cliente feliz e dão um bom retorno para a marca. Isso é uma produção sustentável”.

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