A história do vestido-envelope
Como o wrap dress se tornou um símbolo da libertação feminina na década de 1970 graças à Diane von Fürstenberg.
Um vestido democrático, prático, que resiste ao tempo e às tendências. Esse é o wrap dress, ou, em bom português, vestido-envelope. Ao contrário do que muita gente pensa, ele não foi inventado pela estilista Diane von Fürstenberg, mas foi graças a ela que a peça se estabeleceu como um ícone da moda feminina na década de 1970.
A origem do vestido é do ano de 1930, durante a Grande Depressão estadunidense. A ideia da estilista Claire McCardell – uma das pioneiras a investir no modelo – era ter uma roupa que pudesse ser lavada menos vezes, para economizar, e o vestido-envolpe cumpre esse papel já que quando suja, é possível trocar a posição de forma que o lado limpo fique por cima, escondendo a área suja. Na década de 1940 o vestido atingiu um pico de popularidade e até recebeu citação da American Fashion Critics Association e do Coty Award em 1943. McCardell chamava a sua versão de Popover.
Elsa Schiaparelli também fez a sua versão. Ela se inspirou nos aventais para desenvolver uma modelagem que fosse democrática para todos os tipos de corpos. Os primeiros modelos eram amarrados na cintura, feitos de seda tussore, e alguns tinham botões.
Outro designer que ajudou a lançar a tendência dos vestidos transpassados nessa época foi Charles James, conhecido por sua moda feminina e ousada. James batizou sua criação de Vestido de Táxi, porque ele queria desenhar uma peça que uma mulher pudesse entrar ou tirar na parte de trás de um táxi.
Trinta anos depois, a designer belga Diane von Fürstenberg chega aos Estados Unidos com a mala cheia de vestidos de jersey com estampas chamativas desenvolvidas por ela enquanto trabalhava em uma fábrica na Itália.
Certa vez ela disse que “fez vestidinhos fáceis’’ e não pensou neles como algo grandioso para a moda.
A versão de Diane se destacava nos detalhes. O tecido ideal que envolvia o corpo perfeitamente (uma combinação de crepe de chine, jersey, seda), o decote em V e uma faixa amarrada na cintura em vez de grampos ou botões, tudo isso levou ao renascimento da peça, que se tornou uma sensação.
Como a própria designer já mencionou, “se você está tentando escapar sem acordar um homem, zíperes são um pesadelo.” O discurso tinha apelo sexual e refletia o momento que as mulheres estavam vivendo, desfrutando da liberdade sexual. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho se abria para mulheres e havia uma demanda por roupas práticas que permitissem elas transitar no ambiente de trabalho, sem deixar a feminilidade de lado.
‘’O vestido envelope, com sua construção sem zíperes ou botões e confeccionado originalmente em jersey, material que não amassa, ofereceu conforto e praticidade, sem abrir mão da feminilidade. A silhueta atemporal, agradou em cheio mulheres de biotipos, idades, estilos de vida e gostos variados’’, explica a stylist Roberta Weber.
Incentivada pela editora da Diana Vreeland, Diane criou sua marca e, no fim da década de 1970, já havia vendido mais de um milhão de vestidos. Em dois anos, foram cinco milhões, o que a fez ser chamada ‘’a estilista mais relevante desde Coco Chanel’’, pela revista Newsweek.
Roberta Weber ressalta a versatilidade do item, que pode ficar ”conservador ou sexy e transitar do escritório à pista de dança, dependendo do styling’’.
O sucesso foi tanto que inspirou outros designers e marcas a criarem suas próprias versões, de Alexander McQueen e Christian Dior a Proenza Schouler e Michael Kors. ‘’O modelo virou sinônimo de liberdade e versatilidade traduzindo perfeitamente os anseios e as diversas facetas da mulher moderna’’, conclui Weber.
O movimento feminista promoveu uma verdadeira revolução na moda e, hoje, as mulheres podem se vestir para agradar a si mesmas, para seu trabalho, estilo de vida e para expressar sua própria beleza e sexualidade, livre de tabus.
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