Casa de Criadores 52: o desfile emocionante de Rober Dognani e outros destaques do 4º dia

O penúltimo dia da semana de moda teve as estreias de Guilherme Valente e Sherida, upcyling na Pedra, Baile Xyboia e Studio AH e um olhar diferente para a cultura dos peões e as vaquejadas por Jorge Feitosa.


Detalhe de look do desfile de Rober Dognani na Casa de Criadores 52.
Rober Dognani. Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite



O quarto dia de desfiles da Casa de Criadores foi marcado por histórias de morte e nascimento. O grande destaque fica para Rober Dognani, que fez um desfile em agradecimento a sua mãe, falecida no começo deste ano em decorrência de um câncer. Foi ela quem o ensinou tudo sobre seu ofício – e sobre a vida.

“É um desfile de trás para frente”, diz o estilista, com os olhos marejados. Mas isso não tem nada a ver com o vestido de noiva –  tradicionalmente o último – que abre a apresentação. Ao se virar de costas, via-se uma máscara de látex na parte de trás da cabeça e, na cintura, duas mãos entrelaçadas feitas do mesmo material. Ah, e a peça era praticamente idêntica de ambos os lados.

O truque visual se repete ao longo de toda a coleção. “É para simbolizar o outro lado”, explica Rober. Foi algo que Dona Iracema, sua mãe, sonhou. E a noiva também tem é representativo da relação entre os dois. Aos quatro anos, o primeiro croqui que o designer desenhou foi de um vestido de casamento.

O látex, material de difícil manuseio e há tempos entre os favoritos do estilista, aparece ainda em adereços acoplados aos longos de tule (outra marca registrada) com cristais e renda, imitando anjos, mãos unidas em oração, pombas, beija-flores e espinhas dorsais (onde o câncer de sua mãe começou). Tudo devidamente encenado com gestos e atitudes da alta-costura, como em desfiles anteriores.

O look final, uma Nossa Senhora Aparecida em luto, com a frente no verso, tirou lágrimas da plateia. Desfile emocionante e com toda a renda das vendas a ser doada ao Grupo de Apoio aos Portadores de Câncer da cidade de Fartura, em São Paulo. 

Sobre o renascimento, vale a pena ficar de olho na nova leva de estilistas e frequentadores assíduos da noite de São Paulo que trabalham com upcycling. O melhor exemplo é a Pedra, que usou os prédios e o caos da cidade para apresentar uma confusão (no melhor sentido) de tecidos, texturas e matérias-primas em silhuetas curtíssimas e com muita pele à mostra. 

 

Leia mais: Felipe Fanaia e Shitsurei são os destaques do 3º dia da Casa de Criadores 52.

 

Outras marcas que seguiram esse caminho de transmutação têxtil (ensinamento colocado em prática de Vicenta Perrotta no Ateliê Transmoras) foi a Baile Xyboia, que falou de destruição, e a Studio.AH, no mood sereia dominatrix.

Nas estreias do dia, tivemos as marcas Guilherme Valente e Sherida. O primeiro olhou para a iconografia do bingo para criar roupas volumosas e cheias de texturas. A segunda apostou em estampas e elementos náuticos de um ponto de vista psicodélico.

Outro nome que merece atenção é o de Jorge Feitosa. Nesta temporada, o estilista pernambucano repensa o ambiente das vaquejadas e todo o universo dos peões para além do machismo. É a partir dessa associação que os tons sóbrios de peças inspiradas nas indumentárias típicas daquele universos ganham cores suaves e recortes geométricos de tecidos reaproveitados. Aliás, quase toda a coleção é feita de materiais encontrados no estoque da marca, fornecedores e amigos.

Leia mais: Casa de Criadores 52 termina com amadurecimento de novas marcas, coleções inspiradas em diferentes formas de espiritualidade e Pabllo Vittar na passarela.

 

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes