Casa de Criadores sem filtro: Not Equal, Woolmay Mayden, Leandro Castro, Mônica Anjos e mais
No terceiro dia da semana de moda, atenção ao produto e evolução técnica chamam mais atenção do que atrações ao vivo.
Já pedimos desculpas, mas hoje não tem muitos babadinhos de bastidores. Acho que estamos sendo filtradas!!! Brincadeira, a Casa de Criadores e sua assessoria de imprensa jamais fariam isso. Para dizer que não rolou nada, a modelo gata, que foi hostess ontem, fez uma aparição surpresa na passarela antes do primeiro desfile de hoje. O editor de moda da ELLE, Lucas Boccalão, que tem pânico de felinos, quase desmaiou. Ah, tinha um cachorrinho no camarim também, mas esse era contratado. Ele apareceu nos braços de um modelo no desfile de Woolmay Mayden
Apesar das apresentações ao vivo de MC Soffia, também na marca de Woolmay, e de Giovanna Fernandes, Gabriel Pitta e Robson Junior, na Mônica Anjos, o terceiro dia da Casa de Criadores não foi de grandes espetáculos. Quer dizer, pelo menos não no sentido teatral da coisa.
A gente já falou sobre isso no texto de ontem e durante a SPFW N54. Tem rolado uma maior atenção comercial nos desfiles desta temporada. Tanto na costura, no fazer das roupas como numa maior oferta de produtos, às vezes com novas categorias ou segmentos.
Woolmay Mayden. Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite
Woolmay, por exemplo, mostrou suas primeiras peças feitas de jeans, reforçando seu desejo de ir além do estilo esportivo pelo qual ficou conhecido. O material mais encorpado ainda deu uma cara nova para as peças recortadas que o estilista vinha apresentando nas apresentações anteriores. Boa parte das roupas são meio enroladas ou envoltas no corpo, tipo uma moulage presa com grampos de strass. Outras se aventuram por modelagens um pouco mais trabalhadas – e com bastante êxito.
Leandro Castro. Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite
Leandro Castro fez uma coleção inteira com resíduos da indústria automobilística e têxtil. Feltro, estopa, borracha e mais um tanto de coisas viraram peças estruturadas, com silhueta quadrada, com algumas inserções de tecidos mais convencionais e leves, como o tule e malhas transparentes. Ah, e tudo tingido de vermelho, porque ele sonhou com a cor e também porque “as pessoas tiveram medo de usar vermelho na rua por muito tempo”, nas palavras do próprio.
A habilidade técnica de Leandro impressiona, tem relevância com os contextos atuais e muito potencial de crescimento. Aliás, é curioso como parte da imprensa de moda subestima os desfiles da Casa de Criadores. Não é raro o silêncio na cobertura de alguns grandes talentos do evento que, dali alguns anos, geralmente só depois de migrarem para a SPFW, passam a ser noticiados como grandes descobertas.
Not Equal. Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite
Não seria nada surpreendente ver a história se repetir com Fábio Costa, da Not Equal. Há algumas temporadas, o estilista vem refinando sua paixão por uma moda complexa na construção e na apresentação. Na quarta-feira, 07.12, esse processo resultou no seu melhor desfile. Continuam presentes as assimetrias, as sobreposições, recortes, volumes e as desconstrução, porém tudo feito com grande primor e atenção às proporções e silhueta.
A escolha de materiais também surpreende: tecidos de alfaiataria, jeans e couro, propositalmente deixado sem acabamento, quase como uma janela para apreciação de quem conhece e valoriza o ofício. É uma imagem madura, sofisticada e com apelo comercial bem refinado.
Mônica Anjos. Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite
X Brand. Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite
Volat. Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite
Nesta temporada, Mônica Anjos convidou o também baiano Carlos Cruz para ser seu codiretor de criação. O resultado é um trabalho manual cheio de texturas aplicado às silhuetas já conhecidas da estilista, como as flores e o patchwork de elástico. Teve ainda o beachwear todo recortado da X Brand e a ressignificação da bandeira nacional pela Volat – ambas marcas fazem parte do PIM (Periferia Inventando Moda). Nesta última, para falar “de um Brasil antes do Brasil”, como disse a estilista Letícia Cortes, o casting foi composto de modelos indígenas e negros, exatamente meio a meio. Todos vestiam um streetwear de laise e tecidos a base de cânhamo e algodão.
Ateliê Vou Assim. Foto: Marcelo Soubhia | Agência Fotosite
Na Ateliê Vou Assim, rolou uma colaboração com a Casa F.U.R.I.A, um espaço de acolhimento para a comunidade LGBTQIA+ egressa do sistema penitenciário. A estilista Pimentel ensinou a técnica de transmutação têxtil (falamos disso ontem, lembram?) a cinco mulheres que moram lá e que colaboraram com suas mãos e vivências para essa coleção. “Na prisão masculina, elas já faziam esse trabalho com suas roupas”, diz Pimentel. Entre as roupas estão alguns protótipos de um figurino para uma peça do projeto Fractos Corpografados, prevista para estrear no primeiro semestre de 2023.
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