Morre Virgil Abloh: relembre a trajetória meteórica do designer

O estilista estadunidense foi o primeiro diretor criativo negro do grupo LVMH e acumulou conquistas ao longo da carreira.


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Foto: Edward Berthelot / Getty Images



Virgil Abloh morreu neste domingo (28.11), vítima de um câncer. Mestre em arquitetura, Virgil Abloh ingressou oficialmente na moda ao estagiar na Fendi em 2009. Sua longa parceria criativa com Kanye West foi fundamental para o reconhecimento do rapper como artista genial. Customizando peças de um estoque morto da Ralph Lauren e depois vendendo caro, o designer criou a controversa Pyrex Vision. Em 2013, fundou a Off-White, sua grife de streetwear de luxo, e em 2018 foi chamado para comandar a linha masculina da Louis Vuitton. Após uma luta privada contra uma forma rara de câncer, Virgil Abloh morreu em novembro de 2021.

Acompanhe a sua trajetória abaixo.

A origem de Virgil Abloh

Filho de imigrantes ganeses, Virgil Abloh nasceu em 30 de setembro de 1980, em Rockford, cidade nos arredores de Chicago, nos Estados Unidos. Sua mãe era costureira e foi ela quem lhe deu as primeiras lições de moda. No entanto, realizando o sonho de seu pai optou por outro caminho no ensino superior, graduando-se em engenharia civil pela Universidade de Wisconsin-Madison em 2002 e recebendo mestrado em arquitetura pelo Instituto de Tecnologia de Illinois, em 2006.

Virgil conheceu a esposa Shannon Sundberg ainda no ensino médio, na escola católica onde estudava. Casaram-se em 2009, mesmo ano em que ele finalmente adentrou para valer no mercado da moda, embarcando em um trainee de seis meses na Fendi, em Roma, ao lado de Kanye West. A dupla havia se conhecido em 2002, após o designer Don C descobrir seu talento artístico em uma gráfica e introduzi-lo ao círculo de Yeezy (apelido de West).

A parceria de Virgil Abloh com Kanye West

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A parceria de Virgil Abloh com Kanye West Pascal Le Segretain / Getty Images

Virgil Abloh se tornou uma espécie de assistente criativo do rapper, co-criando capas de álbuns, desenhando cenários, desenvolvendo o merch, entre outras coisas. Tudo quase sempre por debaixo dos panos. Ele era conhecido por muitos como “o cara que está sempre segurando um laptop ao lado de Kanye”.

Taz Arnold, integrante da crew de Yeezy, conta em entrevistas que todos que fizeram parcerias com ele naquele período – como Louis Vuitton, Nike, Fendi e Daft Punk – também trabalharam com o designer. Em 2010, Virgil assumiu oficialmente o título de diretor criativo da Donda, agência de conteúdo de Kanye.

Seu primeiro grande projeto foi a direção de arte do álbum Watch the throne, parceria do amigo com Jay-Z. Esse trabalho lhe rendeu uma indicação ao Grammy e a chance de enfim adentrar por si mesmo no círculo comercial e social do hip-hop.

A controversa Pyrex Vision

A Pyrex Vision foi a primeira grife de Virgil Abloh. Fundada em 2012, seu conceito era todo baseado uma customização de itens de outras marcas. Ele comprou peças básicas da Champion e um estoque morto da Ralph Lauren por preços baixos e, em seguida, imprimiu por cima a palavra Pyrex e o número 23, escolhido em homenagem a Michael Jordan, seu ídolo de infância, entre outras estampas.

As roupas que custavam originalmente cerca de 40 dólares passaram a ser vendidos por 550 dólares cada, causando polêmica e gerando um rebuliço. Durou um ano. Segundo o designer, era para ser um experimento artístico e não uma empresa. Foi nesse remix que ele usou pela primeira vez a frase “The youth will always win” (“a juventude sempre irá vencer”, em português), atualmente um marco da Off-White.

O surto coletivo que foi a Been Trill

Foi na Donda que Virgil conheceu os designers Matthew Williams e Justin Saunders, com quem criou o coletivo de DJs Been Trill, em 2013. O funcionário da Nike Heron Preston, a jogadora de futebol Florencia Galarza e o misterioso YWP completavam o grupo. O merch deles fez tanto sucesso que passou a ser encarado como marca de roupas, usada por celebridades como Drake, Rihanna, ASAP Rocky e o próprio Kanye West.

Com isso, a Been Trill se tornou um dos primeiros cases de como o marketing de influência realmente impacta, até porque as peças eram consideradas caras para a baixa qualidade dos materiais e, ainda assim, venderam como água. Sua queda foi tão rápida quanto o seu hype meteórico, mas seus criadores, que encararam tudo como uma grande brincadeira entre amigos, também estavam bem mais focados em outros projetos.

O surgimento da Off-White

Sua real ascensão no mundo da moda veio com a criação da Off-White, sua pioneira grife de streetwear de luxo, em 2013 em Milão. Logo no começo, as aspas se tornaram uma assinatura de Virgil e da marca, sempre acompanhando de maneira irônica a descrição óbvia das peças – “raincoat” (capa de chuva), “shoelaces” (cadarços), “wallet” (carteira) e afins –, seja apenas na etiqueta ou literalmente estampando o item.

A estreia na Semana de Moda de Paris foi logo no ano seguinte, com as coleções feminina e masculina. Em 2015, a Off-White é nomeada finalista do prestigiado prêmio LVMH, tornando Virgil o único estadunidense a alcançar esse feito. Já em 2016 a grife abre a sua primeira loja conceito em Tóquio. O local disponibilizava xícaras nos bebedouros, que eram surrupiadas pelos clientes e revendidas no mercado secundário, prática comum entre os fãs do streetwear de luxo, que encaram as labels como um estilo de vida a ser consumido de todas as formas possíveis.

Rihanna, Justin Bieber, Kim Kardashian e, é claro, Kanye West são algumas das estrelas que desde o começo apoiaram a Off-White. O moletom que Beyoncé usou no clipe Feeling myself, por exemplo, ajudou a dar um gás na linha feminina. Essa lista quente de contatos atrelada ao talento de Virgil para se comunicar com uma juventude ultraconectada (atualmente a Off-White tem mais de 10 milhões de seguidores no Instagram) contribuíram muito para o meteórico sucesso da casa.

Collabs icônicas da Off-White

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Off-White x Nike Divulgação

Não demorou para que começassem a surgir colaborações com outras marcas, incluindo itens de decoração, perfumes, embalagem de fast-food e espetáculos de dança – sempre com Virgil Abloh no comando. A lista é grande, mas alguns dos destaques são:

  • Nike
  • Levi’s
  • Rimowa
  • Mc Donald’s
  • Jimmy Choo
  • IKEA
  • Moncler
  • Browns
  • Warby Parker
  • SSENSE
  • Sunglass Hut
  • Champion
  • Évian
  • Converse
  • Dr. Martens
  • Barneys New York
  • Umbro
  • Timberland
  • Takashi Murakami
  • Heron Preston
  • ASAP Rocky
  • Byredo
  • Boys Noize
  • Le Bon Marché
  • Asspizza
  • Kerwin Fros
  • The Ballet Composer’s Holiday

A The Ten, parceria com a Nike em 2017, é um dos maiores sucessos. Nela, Virgil recriou dez modelos icônicos da Nike em um estilo “trabalho em desenvolvimento”, cada um adornado com o lacre de segurança característico da grife, na cor vermelha, ao redor dos cadarços. Para deixar claro que se trata de uma peça Off-White original, os consumidores da marca costumam deixar esse zip sempre preso a ela – e até se desesperam quando alguém o corta equivocadamente ou ele solta.

Virgil Abloh na Louis Vuitton

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Virgil Abloh em seu primeiro desfile pra Louis Vuitton Peter White / Getty Images

Se havia ainda algumas cabeças no mundo da moda que não estavam voltadas para Virgil Abloh, elas com certeza se viraram definitivamente em 2018, quando ele foi nomeado diretor artístico das coleções de roupas masculinas da Louis Vuitton – sendo o primeiro estilista negro a ser contratado tanto pela maison, quanto pelo conglomerado LVMH.

Michael Burke, CEO da marca, disse ao The New York Times que estava de olho nele desde o estágio na Fendi. “Fiquei realmente impressionado com a forma como (Abloh e West) trouxeram uma vibe totalmente nova para o estúdio e foram perturbadores da melhor maneira”, revelou.

O primeiro desfile de Virgil à frente da Louis Vuitton foi realizado no Palais-Royal, na Semana de Moda Masculina de Paris. A passarela teve os rappers Playboi Carti, ASAP Nast, Kid Cudi desfilando junto a outros 14 modelos, todos negros. Naomi Campbell, Kim Kardashian e Rihanna – já vestindo um look Virgil Abloh para LV – eram algumas das estrelas na primeira fila. Foi uma estreia positiva, deixando claro novos ares que sopravam na maison.

De lá para cá, o designer seguiu comandando com êxito as duas casas. Em 2019, o Museu de Arte Contemporânea de Chicago realizou uma exposição em celebração a toda sua carreira, dos trabalhos arquitetônicos aos tapetes para a Ikea, lançados no mesmo ano. Foi a primeira exibição individual de Virgil, que incluía também moda, música e arte contemporânea, enaltecendo todas as suas facetas como artista multidisciplinar.

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