Um guia para cuidar melhor das suas roupas
Como ler as etiquetas de lavagem e outras dicas para prolongar a vida de suas peças e reduzir seus impactos na natureza.
Você sabe o que significam os símbolos de lavagem nas etiquetas das suas roupas? Eles são obrigatórios, sinalizam quais são os procedimentos corretos para cada tipo de peça e, com isso, nos ajudam a preservar não só a qualidade do material, mas também a natureza: ”existem dois aspectos que implicam no meio ambiente”, explica Maria Adelina Pereira, superintendente do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Primeiro, manter a durabilidade para que a pessoa demore a descartar o item. E segundo, a questão da água e do efluente das lavagens”, diz.
Um estudo da Fundação Ellen MacArthur aponta que se o número de vezes em que as roupas fossem usadas dobrasse, a indústria têxtil deixaria de emitir 44% dos gases de efeito estufa (GEE). Esta é uma das razões que torna o uso prolongado dos itens uma fuga à obsolescência programada e excessos da moda e ainda contribui para um consumo responsável, com menos descartes.
Nas lavagens de roupas sintéticas, como o poliéster, ocorre a liberação de microplásticos: pequenas partículas que se desprendem do tecido na hora da lavagem e vão parar nos rios e oceanos. Um relatório da Companhia McKinsey sinaliza que a indústria têxtil e da moda é responsável por 20 a 35% do fluxo do elemento para o oceano, que ainda prejudica a biodiversidade marinha. Uma pesquisa recente da Universidade Federal do Pará (UFPA) revelou que o material foi encontrado em algumas espécies de peixes da região amazônica. E nós também acabamos ingerindo esse mesmo plástico em nossas águas de forma indireta. Há, ainda, o impacto dos diversos químicos utilizados em sabões, alvejantes e amaciantes.
Um breve histórico da simbologia
Foi na França, na década de 1960, onde surgiu a primeira movimentação por uma simbologia universal de lavagem e cuidado com as roupas. Para isso, foi criado um comitê específico, chamado Ginepex. O grupo deu início, então, a uma articulação na Europa junto o ISO, entidade global de padronização e normatização. Na década seguinte, em 1973, tornou-se regra inserir a composição (fibra têxtil) nas etiquetas. Mais tarde, em 1981, o ISO publicou a norma que tornava obrigatório a inserção de símbolos de lavagem.
Segundo Maria Adelina, grande parte da aderência partiu das grandes magazines da época e ela se ”popularizou, pois quem queria exportar para a Europa, tinha que usar a norma. A Hering foi uma das pioneiras por causa disso”, explica. No Brasil, a superintendente diz que a norma foi traduzida em 1987, mas que o país já tem um histórico com as etiquetagens desde 1973.
Atualmente, as etiquetas devem obrigatoriamente conter o nome ou CPJ da empresa, origem, composição, simbologia de lavagem e tamanho.
”Foi uma iniciativa de empresários [do setor]. Eles estavam preocupados em comunicar o que exatamente o consumidor estava comprando, pois havia muita troca de nomenclatura, já que as fibras sintéticas estavam em profusão”, continua ela. Em 1992, a obrigatoriedade dos símbolos de uso e cuidado partiu também do Código de Defesa do Consumidor, impulsionada por empresários do setor têxtil que desejam intermediar a concorrência com as fibras químicas introduzidas no país.
Foi em 2001 que houve uma adesão conjunta da norma da ISO na América Latina, especificamente com os países do Mercosul, que se uniram para acatá-la. Atualmente, Maria Adelina avalia que os consumidores sabem ler melhor as simbologias e as empresas, usá-las. ”Já foi bem pior, em 2001 contávamos nos dedos quem usava as simbologias, tinha quem criasse a própria, mas com o tempo as pessoas foram assimilando”, acrescenta.
Afinal, o que significa cada símbolo?
Os símbolos são os desenhos que representam cinco categorias de cuidado das roupas: lavagem, alvejamento, limpeza a seco, secagem e passadoria. Eles surgiram na França, como explicado, e, desde então, não passaram por grandes alterações. Normalmente, são utilizados da mesma forma por empresas de diversos países e continentes, e são obrigatórios na maioria deles.
Cada tipo de roupa é produzida com um tecido e um beneficiamento específico, o que nos leva a cuidados diferentes. Não é nada de outro mundo, mas detalhes que fazem a diferença e permitem que o ítem dure mais, não desgaste, desbote, estique ou encolha. É claro que, às vezes, pode ser difícil seguir à risca todas as instruções. Nem sempre temos acesso a lavagem a seco ou um espaço adequado para secar um item na horizontal – e, em um país desigual como o Brasil, é impossível exigir isso. Mesmo assim, vale ficar atento ao que cabe na sua rotina. Mesmo que o problema vá muito além dos métodos de lavagem caseiros e digam mais respeito à indústria e aos modos de produção, buscar escolhas que sejam mais responsáveis é um passo muito bem-vindo.
Lavagem
A lavagem é a parte inicial do cuidado com as peças, mas Maria Adelina acredita que, no Brasil, as lavamos demais. É um hábito, algo até cultural e social. Não que a etapa não seja essencial, mas muitas vezes a roupa só precisa tomar um ar ou lavada num ponto específico.
1 – Sua peça pode ser lavada na máquina de lavar, normalmente;
2 – Sua peça pode ser lavada na máquina de lavar, mas na temperatura indicada pelo número;
3 – Sua peça pode ser lavada na máquina de lavar, porém no ciclo delicado;
4 – Sua peça deve ser lavada à mão;
5 – Sua peça não pode ser lavada com água.
Alvejamento
Diz respeito ao uso de alvejantes nos artigos têxteis.
1 – Sua roupa pode ser lavada com alvejante;
2 – Sua roupa não pode ser lavada com alvejante.
Limpeza a seco
Sinaliza se a peça pode, ou não, ser lavada a seco.
1 – Sua peça deve ser lavada a seco;
2 – Sua peça pode ser lavada a seco e a letra interna no círculo indica qual produto químico pode ser usada nos processos de lavagem;
3 – Sua peça não pode ser lavada a seco.
Secagem
Algumas peças podem deformar se secadas da maneira incorreta, outras podem encolher. Isso porque as tramas (entreleçamentos dos fios que foram os tecidos) das roupas são diferentes, bem como a composição (qual fibra é utilizada, natural ou sintética). Normalmente, ítens de malha ou tricô devem ser secados na horizontal, pois deixá-los na vertical faz com que o peso da água pese sobre a trama e deforme a peça. Ao utilizar a secadora, você deve ficar atento à fibra utilizada: o linho e a viscose, por exemplo, podem encolher quando submetidos a altas temperaturas.
1 – Sua pode pode ser lavada na secadora;
2 – Sua peça não pode ser lavada na secadora;
3 – Sua peça pode ser pendurada no varal;
4 – Sua peça deve ser secada na vertical;
5 – Sua peça deve ser secada na horizontal.
Passadoria
1 – Sua peça pode ser passada a ferro em alta temperatura;
2 – Sua peça pode ser passada a ferro em média temperatura;
3 – Sua peça pode ser passada a ferro em baixa temperatura;
4 – Sua peça não pode ser passada a ferro.
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