Mayara Bozzato conta como sua moda festa brilhou durante o distanciamento social
Estilista detalha escalada de marca homônima com operação focada no digital e presença certeira no closet de famosas.
Desde o início da pandemia no Brasil, em março de 2020, pensar em moda festa parece pura ilusão. Uma moda festa elaborada e bem fashionista mais ainda. Em meio às medidas de distanciamento social, não era raro ler ou pensar “quem vai usar isso” ou “vou para onde com esse look” ao avistar qualquer visual dado a um glamour, digamos, mais extravagente.
Para a estilista Mayara Bozzato, as respostas vieram com cliques de nomes famosos como Camilla de Lucas, Pabllo Vittar, Lettícia Munniz, Maísa e Juliette Freire. No comando da marca homônima, dedicada justamente a roupas da categoria mais afetada pelas restrições sanitárias, ela viu sua terceira coleção brilhar entre likes e compartilhamentos nas redes sociais.
Camilla de Lucas com look de Mayara Bozzato.Foto: Reprodução/Instagram
“Uma pessoa racional não teria feito o que fiz”, diz Mayara. “Comecei a criar as peças que estou vendendo agora entre abril e maio de 2020, no pico do primeiro lockdown. Pensei muito sobre ressignificar materiais que carregava comigo, já que não tinha lojas de tecido abertas. Muitas coisas vieram daí: os bordados de flores são sobras de paetês, detalhes de carnavais passados. Como é um processo que leva tempo, acabei projetando para o momento em que as pessoas quisessem e pudessem sair de novo.”
Um ano e meio depois, a marca lançada em 2018 se beneficia da flexibilidade que a produção 100% interna e a estratégia de comunicação e venda exclusivamente digital lhe permitem.
Mayara optou pela carreira ainda jovem, aos 14 anos. Fez graduação em design de moda, estagiou nas marcas de Carlos Miele e Adriana Degreas – “uma grande professora”, comenta – e cursou especialização em técnicas de alta-costura em Paris, com estágios nas grifes Georges Hobeika e Rick Owens.
A ligação com os stylists de famosas veio antes do empreendedorismo, com trabalhos exclusivos para editoriais de moda. Suas primeiras peças, todas de plástico, saíram da sala da casa do pai para a revista Plastic Dreams, da marca Melissa. Entre um contatinho e outro, Mayara foi parar também no guarda-roupas de Anitta, conexão firmada pela amiga e stylist da cantora na época Carol Roquete. “Fiquei cerca de quatro anos fazendo looks exclusivos para ela”, relembra.
Tal atuação lhe permitiu crescer de forma gradual e organizada até se ver pronta para desenvolver a assinatura própria. “O vestido que deu start no rumo que queria para minha marca foi um pink de lamê metalizado com mangas bem bufantes. As pessoas diziam: ‘mas será que você vai conseguir vender isso?’. Escolhi seguir meu feeling, algo que faço até hoje. Meu vestido de concha, por exemplo, saiu de uma viagem à praia. Queria vestir um concha gigante, então fui fazer! Tem quem diga que é algo maluco, mas também tem quem ache incrível. Por isso, me permito investir nestas ideias”.
O alcance online faz a ponte entre criadora e consumidores atentos às novidades. “Nos limitamos muito às capitais, aos ditos mercados ‘fashionistas’, mas a internet me abriu as portas a clientes de lugares que nunca imaginei – já vendi até para o Acre. Contudo, a oferta não-presencial exige cuidados específicos. “Procuro garantir elasticidade às peças e, assim, ganhar maleabilidade na grade dos tamanhos. Também trabalhamos muito no pós-venda, trocamos mensagens, checamos o caimento no momento em que cada cliente recebe sua peça. É importante tentar garantir uma experiência imbatível”, detalha.
O foco no nicho de festa, com produtos de qualidade, e a ajuda certeira do apelo midiático são, para Mayara, pontos decisivos para o sucesso da marca até agora. “Cresci sozinha, não tenho investidor, sócio ou ‘pai-trocínio’. Trabalho para que entre dinheiro e sigo investindo. Hoje, a marca se sustenta sozinha”, enfatiza antes de questionar fórmulas vistas como essenciais ao mercado. “Tento ser consciente: para vender mil peças é preciso capacidade para produzir mil peças. Além disso, uma marca emergente não precisa necessariamente fazer uma coleção gigante ou soltar novas ofertas a cada três ou seis meses”, reflete. “Estou há quase oito meses com a mesma coleção num mundo em que, teoricamente, as pessoas querem cada vez mais produtos inéditos.”
Sua produção também costura eficiência aos negócios ao ser finalizada quase sempre após a venda. “Fico com tudo graduado, tecidos e materiais à mão, mas não tenho as peças prontas. Assim que vendemos, cortamos, montamos e finalizamos, mecanismo que, além de não gastar dinheiro com estoque parado, também é atento à responsabilidade ambiental. Não há excedente ou desperdício já que tudo pode ganhar vida nova em uma roupa de artista mais à frente.”
De olho no futuro da empresa, os próximos passos são dedicados à primeira loja física. “Sondei pessoas que fazem parte de grandes eventos de moda, mas não sinto necessidade por enquanto”, diz. No quesito exposiçção, internet e famosos já dão conta do recado. “A maior repercussão que já tive foi com o vestido usado por Juliette”, fala. “Agora, estou focada em levantar a loja, criar uma estrutura para que os clientes conheçam fisicamente os produtos e suas histórias, mas sem abrir mão da comunicação digital.”
E tem uma cliente dos sonhos que gostaria de vestir? “Dua Lipa, ela ainda vai usar. Ou Miley Cyrus, essas garotas cool da música”, comenta. Com o plano de sucesso em mãos, o que recomenda a quem ensaia os primeiros passos na jornada como a sua? “Calma e persistência, tem que trabalhar muito! Faça o que você sente como sua expressão legítima. Sendo verdadeiro, autêntico e sem apego restrito apenas aos números, o negócio vai. Digo por experiência própria”, finaliza.
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