Como funciona o desenvolvimento de cosméticos da Chanel Beauty?
Em entrevista à ELLE Brasil, os cientistas da Chanel Beauty falam sobre o processo de criação de produtos que unem luxo, inovação científica e sustentabilidade.
Nathalie Volpe, vice-presidente internacional de inovação e pesquisa da Chanel Beauty, descreve a experiência de usar os produtos da etiqueta como uma verdadeira aventura, que começa no momento em que seguramos a caixa. “Trata-se de entregar para a consumidora uma experiência quase emocional. Quando experimentamos um cosmético, vários dos nossos sentidos entram em ação: vemos a embalagem, sentimos o aroma e a textura. Isso é muito especial”, diz em entrevista à ELLE.
A cientista desembarcou pela primeira vez no Brasil junto com Armelle Souraud, diretora de conteúdo e comunicação científica, e Youcef Ben Khalifa, diretor de pesquisa e performance. O trio está à frente do desenvolvimento dos produtos de skincare da Chanel Beauty – o que significa que são eles os responsáveis por pesquisar novos ingredientes, testar diferentes tecnologias e criar as fórmulas de todos os cosméticos que chegam às prateleiras. A seguir, eles contam os bastidores deste processo.
Nathalie Volpe, Armelle Souraud e Youcef Ben Khalifa, cientistas da Chanel Beauty, pela primeira vez no Brasil. Foto: Divulgação
Como vocês descreveriam um cosmético que é essencialmente Chanel?
Armelle Souraud: A Chanel é uma marca de criação, então tudo o que fazemos está a este serviço. A marca foi fundada por uma mulher com uma visão muito moderna e holística de beleza. Então, quando falamos sobre produtos, é necessário considerar todas as etapas dessa cadeia. Começando pela planta que transformamos em ingredientes ativos preciosos e que integramos em fórmulas incríveis. E, no final, o design das embalagens – tudo é pensado para ser extremamente luxuoso e muito inovador. Acho que se trata de alcançar a excelência em cada etapa do processo de criação. O resultado são produtos que são extremamente eficientes e sensoriais, que proporcionam prazer para quem os utiliza.
Como vocês equilibram inovação com a manutenção do apelo clássico da Chanel, considerando toda sua tradição como marca?
AS: Gabrielle Chanel representa o espírito pioneiro, a audácia e a vanguarda. Acho que essas são ferramentas para podermos pensar de forma diferente e nos reinventar diariamente. Por isso falamos sobre o passado, o presente e o futuro. Temos uma herança dinâmica e algo ao qual podemos prestar homenagem, mas incorporamos novas tecnologias, pesquisas avançadas, ciência e descobertas mais recentes para continuar inovando e para que Chanel seja atemporal. É uma marca realmente conectada ao que está acontecendo nesta era.
Qual o processo de repensar produtos clássicos da marca?
Nathalie Volpe: É uma melhoria contínua. Do ponto de vista da pesquisa, quando renovamos algo, precisamos manter o espírito do produto, da linha, da imagem, e continuar oferecendo o melhor. Isso significa que renovamos com pequenas mudanças, incorporando a ciência mais avançada em nossos produtos, mas não de forma disruptiva.
AS: É um processo muito dinâmico e, como Nathalie mencionou, trata-se de nos aperfeiçoarmos. Isso acontece principalmente porque sempre há novas descobertas no campo científico e queremos ir além. Se você observar Sublimage [linha de skincare] quando foi lançada, em 2004, e hoje, 20 anos depois, ela continua com os mesmos produtos icônicos, mas com avanços científicos e novos ingredientes adicionados. O creme, por exemplo, agora também é refilável e em um formato que permite levá-lo em viagens – uma abordagem moderna, conectada ao estilo de vida das mulheres de hoje. Mas, no fim das contas, ainda mantém o belo pote de vidro com a embalagem dourada com todos os símbolos clássicos de Sublimage. Ele evoluiu, está sempre evoluindo, mas mantendo a essência de quem somos. Acho que se trata de continuar conectados ao que é verdadeiro para a marca, ao contexto em que vivemos e às necessidades e expectativas das mulheres.
Como vocês determinam quais ingredientes e tecnologias incorporar em um novo produto?
Youcef Ben Khalifa: É novamente uma questão de alinhamento com o DNA da linha e da marca. Adicionamos tecnologia e observamos como ela conversa com isso que já está estabelecido. Em nosso laboratório, quando experimentamos com ingredientes ativos, já pensamos diretamente em produtos específicos porque sabemos onde eles se encaixam melhor. É algo que acontece, eu diria, de forma bastante natural. Às vezes também há um fator intuitivo. Nicola Fuzzetti, que é o chefe do departamento de criação de ingredientes ativos da Chanel, viaja pelo mundo a lugares ricos em biodiversidade e, ao analisar uma planta, imagina quais tipos de moléculas podem trazer quais benefícios. É um processo muito interessante e até divertido, mas é também longo e difícil.
NV: Exploramos todas as oportunidades vindas de plantas e das moléculas que elas contêm. Às vezes não obtemos resultados, então também enfrentamos fracassos, mas faz parte do processo de aprendizado. Além disso, temos uma abordagem botânica, o que significa que, ao selecionarmos plantas, procuramos informações do ponto de vista da pesquisa e analisamos as moléculas contidas. Depois, direcionamos nosso foco para uma família seletiva de moléculas. Sabemos que os testes nos permitem identificar o que pode ser destacado em termos genéticos.
Foto: Reprodução/@chanel.beauty
O que constitui uma formulação bem-sucedida?
NV: Trata-se de entregar para a consumidora uma experiência quase emocional. Quando experimentamos um cosmético, vários dos nossos sentidos entram em ação: vemos a embalagem, sentimos o aroma e a textura. Isso é muito especial. Essa descoberta começa quando você segura a caixa de um produto da Chanel em suas mãos e, depois, é como uma aventura. Estou convencida de que entregamos o melhor porque também temos pessoas apaixonadas em nossas equipes. É como um processo artesanal e excepcional, o que significa que precisamos de pessoas apaixonadas, com muitas habilidades e expertise.
A sustentabilidade se tornou um tema recorrente na indústria de cosméticos. Como vocês lidam com esse movimento na Chanel?
AS: Sustentabilidade na Chanel não é algo novo. Isso realmente faz parte de nossa estratégia há muitos anos, mas recentemente passamos a comunicar mais sobre tudo o que estamos fazendo nesse sentido, porque sabemos que as pessoas querem saber. Nossa filosofia é realmente desenvolver produtos de maneira ecológica: isso se aplica tanto às fórmulas quanto às embalagens. Hoje em dia há muitas ferramentas para selecionar ingredientes ativos, plantas ou recursos renováveis com o menor impacto ambiental possível e essa é uma análise que faz parte de todos os nossos processos.
NV: Começamos a reformular o nosso portfólio em 2019. Desde então, foram mais de 1.000 reformulações, repensando os ingredientes que utilizamos e nossa pegada ambiental. Foi um trabalho enorme para nós, porque estabelecemos uma nova forma de desenvolver produtos. Isso marcou o início de uma nova história para nós em termos de formulação. Desenvolvemos ferramentas internas, que chamamos de “scoring formulation”, para garantir que nossas formulações estejam sempre alinhadas com esses objetivos. Estamos iniciando um novo capítulo!
A associação de produtos sustentáveis com falta de desempenho ainda é comum. É realmente mais difícil manter a eficácia neste tipo de formulação?
NV: Sim! A formulação é uma ciência experimental. Quando você troca os ingredientes da química convencional para moléculas diferentes, você perde sua referência tradicional. Isso significa que você precisa reinventar, repensar todo o seu trabalho.
YBK: Agora estamos alcançando mais maturidade, mas tem sido muito difícil. Eu diria que não é uma questão de eficácia, mas sobre a sensorialidade do produto – algo que, para nós, é essencial.
AS: No fim das contas, o produto tem que ser eficiente, elegante, sensorial e também eco-friendly. Essa é sim uma combinação difícil de conquistar.
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