O pop com raízes africanas de Marieme

Cantora filha de refugiados lança videoclipe, consolida parceira com Nicola Formichetti e defende que o amor é a resposta para os dias atuais.


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Com uma trajetória desafiadora, Marieme Diop deu a si própria uma missão: espalhar mais amor no mundo por meio da música. E, nessa missão, acaba de lançar “Love now”, videoclipe com styling de Nicola Formichetti, também conhecido por seu trabalho com Lady Gaga.

“Love now” confirma que amor não é apenas uma palavra recorrente na carreira da cantora. É como um antídoto para quem teve a vida afetada pela violência da guerra. Marieme nasceu na Mauritânia, pouco antes do país entrar em conflito com o Senegal, entre 1989 e 1991. Com a guerra na fronteira entre os dois países, sua família deixou para trás uma vida confortável e se mudou para o Senegal.

Quando ela tinha apenas 2 anos, os pais foram tentar a vida em Nova York, deixando os filhos no país sob os cuidados de uma tia da cantora. Antes de mudar para os Estados Unidos, Marieme ficou cinco anos sem vê-los. “Naquela época, não me pareceu estranho porque no Senegal você cresce cercada por uma família numerosa, e eu tinha meus avós e primos por perto”, conta ela de sua casa em Santa Monica, na Califórnia.


Marieme – Love Now

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Nos Estados Unidos, Marieme conheceu de perto o preconceito racial. Ela era a menina africana que não falava inglês. “Tiravam sarro de mim por causa da cor da minha pele.” Nesse processo de adaptação a um novo país, a música teve papel fundamental. Foi através dela que a cantora aprendeu a falar inglês.

Nascida em uma família muçulmana conservadora, ela quase não escutava música em casa. Quando ouvia, era imediatamente aconselhada pelos pais a trocar por uma leitura do Corão. Até o dia em que achou, embaixo da cama deles, uma caixa cheia de CDs, de Whitney Houston a Mariah Carey. Foi um divisor de águas na vida de Marieme, que passou a ouvir essas cantoras com a convicção de que seguiria o mesmo caminho. O desejo de cantar ficou ainda maior ao descobrir nas aulas de música da escola a voz de Billie Holiday. “Aquilo teve um impacto profundo em mim, o jeito como ela usava sua voz, soando quase como um trompete. Algumas vezes também tento soar como um instrumento.” O resultado é uma mistura de R&B, soul e pop que ela mostrou no seu EP de estreia, que leva seu nome, lançado em 2018.

A educação conservadora religiosa também foi um obstáculo para que Marieme se dedicasse a uma outra paixão: a moda. Ela cresceu fazendo roupas para suas bonecas, mas não se vestia da maneira como queria. “Mesmo agora, com meu cabelo, minha mãe pergunta porque não posso me parecer como uma mulher.”

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Marieme era fã declarada de Nicola Formichetti. No ano passado, resolveu mandar uma mensagem pelo Instagram dizendo que tinha o desejo de que um dia ele pudesse ser seu stylist. Para surpresa da cantora, Formichetti não só respondeu a mensagem como elogiou a sua voz. Na mesma semana, marcaram um encontro e, desde então, ele tem colaborado com ela. “Toda a vez que a gente se encontra, ele vem cheio de araras de roupas e eu fico sentada, chorando às vezes, sem acreditar.” Ao falar sobre a colaboração com Nicola, Marieme se emociona. O stylist está entre as pessoas que acreditaram no trabalho dela. “Acho que a lição que fica é que vale a pena ir atrás dos seus sonhos.”

A cantora ficou conhecida no Brasil depois que o videoclipe de “Be the change”, de seu EP de estreia, viralizou com a ajuda de alguns fãs famosos, como o casal Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. O ator cedeu por um dia seu perfil no Instagram à cantora. Está nos planos dela visitar o país. Enquanto isso, ela também se volta às suas raízes, trabalhando em alguns projetos com músicos africanos. Um dos nomes que mais apoiam sua carreira é o senegalês Youssou N’Dour, pioneiro do mbalax, gênero musical que ajudou o país a se tornar conhecido mundo afora. Marieme segue com um pé na África e outro no mundo.

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