Cinco mais uma marcas independentes para ficar de olho

Da estética vintage às técnicas do origami e à mulher negra, conheça as inspirações por trás de alguns dos nomes mais frescos do mercado.


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Alfredo Que Me Encontre | Foto: Divulgação



Verkko

“Nós, mulheres, estamos nos reinventando constantemente e assumindo cada vez mais nosso lugar de importância na construção de uma sociedade mais equilibrada”, diz Thaís Delgado. A estilista é a responsável pela Verkko, marca carioca inspirada na mulher negra e com estilo casual, minimalista e levemente sensual. “Minha força motriz de inspiração e criação é alimentada pelo movimento feminino e as peças são pensadas para o enaltecimento do ser”, completa ela.

Incentivada pelo pai, que já foi assistente de alfaiate, a estilista de 34 anos começou cedo a se aventurar na moda. “Lembro dele me ajudar a fazer os looks que criava para as minhas bonecas com retalhos de tecido.” No entanto, encontrar uma oportunidade na área não foi uma tarefa simples. “Não sentia o mercado aberto e talvez isso tenha me impulsionado a criar a Verkko, em 2015, que surgiu dos meus questionamentos sobre ocupação de espaços”, diz Delgado, que é formada em Moda pelo Senai Cetiqt, do Rio de Janeiro. “Pessoas negras não encontram oportunidades de estágio, o que é contraditório. Usam tanto a estética africana como referência visual, mas não dão cargos e uma boa remuneração a esses profissionais.”

O algodão é o tecido-chave da marca, que também explora técnicas de tricô e, recentemente, vem desenvolvendo bordados feitos à mão dentro do mood clean e descomplicado a que se propõe. “Gosto de desenvolver modelagens que misturam conforto, sensualidade e ousadia, mas que sejam atemporais e versáteis”, explica Delgado. Na Verkko não existe um calendário tradicional com coleções de verão ou inverno. As novas peças são apresentadas pontualmente como drops. “Nosso próximo lançamento está previsto para junho e será uma cápsula de seis modelos”, antecipa.

Mile.Lab

“O Grajaú tem uma influência direta na minha vida. A realidade que vivo nesse lugar, a cultura, as pessoas que encontro, os olhares que cruzam com os meus na rua”, diz Milena Nascimento, da Mile Lab, sobre o bairro onde nasceu e vive, no extremo sul de São Paulo. “O que me inspira é o corre de cada dia, o milagre de todas as manhãs, a favela estar erguida mesmo com as atribulações, é entender a história que não é contada nos livros, resgatar meus ancestrais e mostrar que eles estão presentes em cada passo que dou.”

Recentemente a Mile Lab foi selecionada pelo projeto Sankofa, em parceria com a São Paulo Fashion Week, para ganhar acompanhamento financeiro, estratégico e jurídico e ser amadrinhada por uma das grifes já participantes do evento. “É um momento novo e importante. Estou vivendo um sonho e vendo um marco acontecer na história da moda, principalmente da moda periférica, com a qual me sinto muito honrada de poder contribuir.”

Criada por avós costureiras, Milena percebeu, aos 8 anos, que queria ser estilista. “Rabiscar os primeiros vestidinhos no papel foi o gatilho para imaginar esse futuro de ter a minha marca e, algum dia, poder vestir Rihanna e Beyoncé, mulheres que sempre me trouxeram muita inspiração e força.” Com seu primeiro salário como aprendiz em uma empresa de T.I, ela comprou uma máquina de costura, que a acompanha até hoje, e foi atrás de oportunidades.

Na mesma SPFW onde irá se apresentar, ela trabalhou como camareira para grifes como Osklen e Alexandre Herchcovitch. “Foi a primeira oportunidade de conhecer e entender o ritmo dos backstages e pensar que, um dia, poderia estar naquele lugar.” Na sequência, buscou vagas em outras marcas, mas encontrou muitas portas fechadas – chegou até a ser desqualificada de uma entrevista devido aos sapatos que estava usando. “Digo que minha maior experiência anterior à marca foi vendendo trufas, pois ali entendi o que era o empreendedorismo. Isso me trouxe força para mostrar que era capaz de ter meu próprio negócio”, diz Milena.

Hoje, com a Mile Lab prestes a estrear na principal semana de moda da América Latina, Nascimento é um exemplo para quem deseja seguir esse caminho. “Sempre costurei tudo sozinha e, nesse processo, entendi como é simbólico construir uma roupa que vestirá o corpo de alguém. É importante olhar a maneira como a periferia vem se comunicando através da roupa, costurando histórias com legitimidade, trazendo a relação do corpo marginal com sua ancestralidade e se mostrando de uma forma poética.”

Cocker Shoes

Foi por meio dos desenhos e tatuagens que Caio Nakane se aprofundou no universo da moda. “Comecei a tatuar em 2014 e, a partir daí, surgiu a preocupação com um senso estético na construção de uma identidade para o trabalho”, conta o paulista de Ribeirão Preto e nome à frente da Cocker Shoes. “Com o passar do tempo, isso se expandiu naturalmente para a forma como eu me vestia”, diz. “Acredito que a moda, a tattoo e o design estão totalmente ligados. Tratam de atitude, comportamento, personalidade e estética.”

A ideia de trabalhar na área, porém, veio por influência dos pais, Kenji e Cristiane, há tempos envolvidos no mercado calçadista. “Eles tinham uma loja em Ribeirão, a Mr. Cocker, onde trabalhei desde cedo, já vivenciando o ambiente de um negócio voltado para a moda”, lembra ele, que decidiu tomar as rédeas do business quando as coisas tomaram um rumo incerto. “Em meados de 2019, comecei a ver o negócio sofrer com as mudanças no comportamento de consumo. Isso nos levou a dar um reset e começar de novo. Em março daquele ano, fechamos a antiga loja e, no dia seguinte, recomeçamos com o nome de Cocker Shoes.”

Com coleções, collabs e drops pontuais, a Cocker tem todo um processo multidisciplinar para desenvolver seus produtos. “Fazemos sketchs, ilustrações, fotografias, além de trabalhos manuais e com maquinário sofisticado, Ou seja, exploramos os mais diversos materiais na concepção das peças, desde couro animal até tecidos tecnológicos e sustentáveis”. Os mocassins unissex são o hit da label, que atualmente está desenvolvendo sua próxima coleção, de inverno 2021, prevista para meados de junho.

Alfredo Que Me Encontre

Bianca Mendes sempre gostou de figurinos e direção de arte. Aos 14 anos, começou a produzir as próprias roupas, mas nunca imaginou que trabalharia com moda, muito menos empreendendo em uma marca própria. “Foi um acidente da vida. Costumo brincar que, quando aconteceu, eu estava sem capacete e cotoveleira”, brinca a pedagoga mineira de 25 anos, que largou as salas de aula para comandar a Alfredo Que Me Encontre.

Tudo começou em 2017, quando Bianca decidiu se mudar de Araguari, sua cidade natal, para São Paulo, e precisou desapegar de boa parte do guarda-roupa. “Tinha muitas peças vintage garimpadas em brechós locais, várias que tinham sido feitas sob medida”, comenta. Criou um perfil no Instagram e passou a vender os itens para amigas e conhecidas. “Minha irmã, minha avó, prima, todas as mulheres ao meu redor ajudaram posando para as fotos. Zero dinheiro, só um monte de roupa e um celular.”

Com esse tanto de peças em mãos, ela resolveu participar de uma feira de brechós em Uberlândia e precisou definir um nome para sua loja. “Nessa época, estava passando por uma crise existencial, então comecei a pensar em como refletir esse momento em uma marca. Queria que fosse divertida, uma brincadeira escapista, um nome que gerasse curiosidade”, conta. Depois de horas de brainstorming, surgiram ideias como ‘Rodolfo que se dane’, mas foi no noticiário que Bianca encontrou o nome ideal: Alfredo. “Foi o encaixe perfeito”, diz a mineira, que adicionou o ‘que me encontre’ para pontuar seu período de reconexão. “A marca sempre foi sobre encontros, principalmente o encontro comigo mesma, em uma nova profissão, em outra cidade, acompanhada ou sozinha.”

O universo feminino, especialmente as mulheres presentes em sua vida, é a maior inspiração ao lado da estética dos anos 1950 e 60. “Em nossos produtos, há muito babado, laços, transparência e mangas bufantes.” A produção é feita em pequena escala, respeitando o tempo de cada processo. “Não queremos lançar muita coisa de uma vez, pelo contrário, sempre fazemos cápsulas, geralmente de três peças”, fala Bianca, atualmente empenhada em desenvolver uma coleção colaborativa com outras profissionais mulheres, prevista ainda para este semestre.

Lapô

As sócias Gabriela Brandileone e Paula Kim começaram a trabalhar na Lapô em 2019. Foram quase dois anos de planejamento até o lançamento, previsto para abril de 2021. “Mergulhamos nesse movimento que se preocupa não apenas em reduzir os impactos ambientais, mas também com uma moda ética, transparente, que dialoga com todos os tipos de mulheres, suas formas reais e a beleza natural de cada uma”, explica Brandileone, formada em Moda pela Santa Marcelina e com pós na Central Saint Martins e passagem pela 284 e André Lima.

O universo esportivo e a natureza são as principais inspirações da dupla, junto às pessoas que fazem a diferença no mundo hoje. “Olhamos muito para atletas que fizeram história no esporte nacional e têm histórias de superação, para os jovens que hoje atuam nas mais diferentes frentes e defendem causas que podem mudar o futuro do planeta”, diz Brandileone. Os tecidos sustentáveis também fazem parte da essência da Lapô, que vem de “la peau” – pele, em francês. “Nosso processo criativo parte da seleção das matérias-primas”, conta a estilista. “Estamos sempre atentas ao que o mercado oferece de mais inovador e só trabalhamos com empresas comprometidas com a causa ambiental.”

Algodão orgânico ou de pet reciclado, elastano biodegradável, tecidos com as tecnologias Easy Care (que não amassa e não precisa passar), e Amni Soul Eco (CO2 Control), com fio de poliamida biodegradável que se decompõe em três anos sem deixar resíduos (se descartado da maneira correta), são alguns exemplos dos materiais utilizados. “Nosso desejo é ser uma marca alto astral que procura motivar as pessoas a serem o melhor de si mesmas.”

Orikin

Papel não é a primeira coisa que vem à cabeça quando pensamos em joias e bijoux, mas para a designer paulistana Rafaela Anselmi, da Orikin, o material é primordial. “Sou completamente apaixonada por todas as suas formas e especialmente como pode ser inserido ao metal”, explica ela, que transforma miniorigamis de diferentes cores em pingentes para colares, brincos e pulseiras banhados a ouro e prata e com pedrarias. “É um material frágil e que pode aparentar pouca durabilidade, mas utilizo produtos que o deixam mais resistente para o dia a dia.”

A estreia oficial da marca foi em 2020, mas a ideia de criá-la surgiu em meados de 2017, durante a produção de seu TCC em Moda, na FAAP. A inspiração foi no Balé Triádico de Oskar Schlemmer, da Bauhaus, que explorava o corpo humano no espaço, traduzindo a sua complexidade por meio da dança de forma matemática e orgânica ao mesmo tempo. “O origami já tinha chamado atenção de outros profissionais da Bauhaus por apresentar formas geométricas em sua construção, então consegui linkar essas duas ideias e transformá-las na essência da marca.”

Todas as dobraduras são feitas artesanalmente pela designer, o que torna cada item único dentro de coleções temáticas. Seu lançamento mais recente foi uma cápsula composta de três peças tie dye, mas outras novidades devem surgir em breve. “Estou pensando em algo para o dia dos namorados e também tenho interesse em fazer peças sob medida, dobradas pelo próprio cliente”, revela.

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