As escovas rotativas estão de volta
Fenômeno nas redes sociais, a ferramenta (estranhamente) virou case de marketing boca a boca e provou, de uma vez por todas, que o penteado 70's à la Farrah Fawcett é hit no mundo capilar.
Não existe amante das belezas que não tenha, no decorrer das últimas semanas, dado de cara com uma escova rotativa à la Polishop pelos quatro cantos deste país chamado internet. Ou, quem sabe, não apenas uma, mas duas, três e até várias – tamanha foi a febre! Chame do quiser: efeito dominó, “maria vai com as outras”, puro suco da influência digital: a febre do instrumento dominou o Instagram em uma comoção que não se via nas terras digitais desde a grande obsessão da comunidade internauta pelas receitas de banana bread em abril do ano passado. Mas, afinal, de onde ela (res)surgiu? Por que agora? Ela lava, passa e seca? E o mais importante: as redes sociais vão te levar a fazer mais uma compra online?
O fenômeno – ou melhor, os seus adeptos – se respaldam em argumentos muito convincentes para justificar a paixão repentina e que, para muitos, tem até um quê de descobrimento: a escova é, em teoria, prática, rápida e muito fácil de usar em si mesmo. Em tempos em que não podemos simplesmente ligar e marcar um horário no salão (afinal, ainda há ou deveria haver isolamento!) a ferramenta se revelou uma mão na roda (literalmente) para quem não dispõe de coordenação ou habilidades manuais suficientes para fazer uma escova sozinho. No começo do ano passado, o modelo da Revlon chegou a tornar-se o bestseller número 1 na seção de beleza da Amazon estadunidense. E aqui, no Brasil, as escovas da Philco, Mondial e Britânia estão atualmente presentes entre os itens mais vistos e vendidos em lojas como Magalu, Pontofrio, Lojas Americanas e muitas outras.
Escova Rotativa, Mondial, R$ 160Foto: Divulgação
Virginia Barbosa, que é cabeleireira e maquiadora em São Paulo, confirma a tese: “Acredito que a escova voltou com tudo por causa do isolamento que estamos vivendo. Muita gente fazia escova semanalmente nos salões de beleza e, com tudo fechado, foi preciso (re)aprender a cuidar dos cabelos sozinho e em casa”, diz. A hairstylist, que também produz conteúdo para o seu perfil no Instagram, aderiu à febre e confessa que já até gravou alguns vídeos mostrando como usar a tal da escova. “A tendência é real e eu aposto que veio pra ficar. Tem várias opções no mercado, então dá pra escolher uma que faça mais sentido pro seu tipo de rotina”, Virgínia conta. E se vamos considerar os dias de home office em que acordamos 15 minutos antes de uma call, sem esperança alguma de salvação, o combo praticidade e rapidez parece muito promissor. Não dá pra negar o apelo.
O que dá pra negar, no entanto, é que as escovas rotativas são novidade. Presentes entre nós desde, no mínimo, os anos 1970, elas – ou melhor, as suas tataravós – já faziam sucesso entre as mulheres e homens que, naquela década, penduravam pôsteres da pantera Farrah Fawcett e do dançarino John Travolta em seus quartos e sonhavam com o visual volumoso, que ficou conhecido como “feathered hair”, ou cabelo plumado. “Não há uma origem certeira, e tem inclusive algumas polêmicas entre cabeleireiros da época, mas a popularização [dessa tendência] com certeza aconteceu com a Jill, personagem de As Panteras interpretado por Farrah Fawcett” explica Virgínia.
À época, a própria atriz creditou o penteado ao seu hairstylist, o francês José Eber que teria, supostamente, usado o visual em si mesmo bem antes de aplicá-lo na estrela. Eber, que também cuidava das madeixas de Cher, Ali MacGraw, Barbra Streisand e Elizabeth Taylor, foi um dos responsáveis pela sedimentação do look groovy, descontraído, cheio de um glamour vivaz ao qual, até hoje, somos levados quando pensamos na década. “A era Disco veio um pouco depois, mas também trouxe consigo o cabelão”, diz.
“A moda é sempre cíclica, né? De tempos em tempos, alguma tendência que a gente jurou que nunca usaria volta, e nos pegamos sonhando com aquilo”, confessa Virgínia. A cabeleireira se lembra de que, em 2005, Madonna resgatou o visual 70’s com a estética de seu álbum Confessions on a dance floor, mas foi apenas agora, com a força das redes sociais e, sobretudo, do Tiktok, que a retomada se deu com força (e volume) total.
Na rede ao lado, um vídeo postado pela usuária Mallory Jade reproduzindo o cabelo plumado em si mesma atingiu mais de 20 milhões de visualizações em pouco mais de um mês. Quase imediatamente depois, surgiram mais de 1 milhão de uploads com a hashtag #farrahfawcetthair na plataforma, de pessoas com diversas texturas, cores e comprimentos de cabelo experimentando o visual, incluindo até celebridades como Ciara e Lizzo, que testaram (e aprovaram!) a trend. Misture a onda 70’s com a força de um #challenge nas redes sociais e a eles some a promessa de uma ferramenta prática e rápida com resultado de salão em tempos de isolamento e voilá: está explicado porque você não para de ver escovas rotativas em seus stories.
O que resta, agora, é saber se você pode seguir para o carrinho. Bom, esteja você querendo testar o cabelo “Farrah” para viralizar no Tiktok ou buscando um pouco mais de volume para a sua franja, arriscamos dizer que a escova rotativa pode te ajudar. Para reproduzir o efeito mostrado por Mallory, bem plumado e volumoso, Virgínia explica que o corte em camadas é um elemento importante para obter o resultado: “quando seco com a escova, ele cria um volume incrível!” Mas, para quem tem cortes mais retos ou fios mais finos, a cabeleireira recomenda o uso de produtos que garantam volume, como os mousses de cabelo, antes da escovação. “O segredo é escovar “pra fora”, deixando as pontas viradinhas, sabe? Depois de escovar, espere o cabelo esfriar e então solte balançando a cabeça, como no vídeo que viralizou”, ela explica. “Esse cabelo é bem ousado, então se você escovar e achar que está volumoso demais, jogue um jato quente de ar do secador, forçando o cabelo pra baixo. Isso vai tirar um pouco o volume.”
Porém, se o apelo para você foi a possibilidade de arrematar 15 minutos extra de sono pela manhã, só nos resta dizer que a) assim como outros instrumentos de calor, a escova pode, sim, danificar os fios com o uso constante. “Muito calor pode acabar ressecando e quebrando os fios, por isso é fundamental sempre usar um produto que seja protetor térmico”, alerta Virgínia. “Mousses e sprays fixadores geralmente já tem essa função, mas se quiser garantir, aplique um sérum protetor no cabelo úmido e espalhe bem antes de aplicar os demais”. E b) seja bem-vindo ao clube.
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