No mês de aniversário de Madonna, relembre hits da diva

Podcast Inside the Groove disseca canções icônicas da cantora e mostra como ela influenciou outros artistas – e foi influenciada também.


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O legado de Madonna segue pulsante. Não estranhe ao ouvir ecos de Confessions on a Dance Floor, o clássico disco de dance lançado pela cantora em 2005, em Future Nostalgia, o mais recente da inglesa Dua Lipa. Lady Gaga evoca Madonna mais uma vez em “Babylon”, uma faixa de house music de Chromatica que lembra “Vogue”. Os álbuns são dois dos mais elogiados do pop deste ano, o mesmo em que completam três décadas “Vogue”, a icônica turnê Blond Ambition e I’m Breathless, trilha sonora que a diva fez para o filme Dick Tracy, em que ela atuou.

A cantora americana, que faz 62 anos neste domingo, 16 de agosto, é frequentemente celebrada por ser uma trendsetter e causar escândalo ao confrontar valores morais conservadores. Entretanto, no que depender do galês Edward Russell, os talentos da rainha do pop não deixarão de ser tão celebrados quanto.

O consultor de mídia de 50 anos lançou em março Inside the Groove (“dentro da batida”, em livre tradução para português), podcast que tem deixado os fãs de Madonna em alvoroço durante a quarentena e já bateu a marca de 50 mil downloads. O título é uma referência à “Into the Groove”, trilha que vossa majestade deu a Procura-se Susan Desesperadamente.

“Quando as pessoas falam sobre Madonna, elas raramente abordam a música, e quando o fazem, não falam sobre o processo”, diz Russell à Elle Brasil. “Há uma crença de que Madonna tem pouca participação na criação de seu trabalho, mas isso não é verdade.”

Usando demos, gravações de instrumentos isolados e outtakes (trechos gravados mas não usados em versões finais) espalhados pela internet, Inside the Groove explica os mecanismos por trás dos singles abordados, além de contextualizar os ouvintes no que acontecia na carreira de Madonna à época em que essas músicas saíram. Curiosidades de bastidores e entrevistas — como uma com Lucy O’Brien, biógrafa da artista — fazem do podcast um prato cheio para fãs e curiosos.

Inside the Groove mostra o quão elaboradas as músicas da cantora são. Em “Vogue”, por exemplo, ela faz referências a hits anteriores, usando o sintetizador de “Lucky Star” e a guitarra de “Like a Virgin”, enquanto em “Ray of Light”, ela usa trechos de “Sepheryn”, faixa da obscura dupla folk Curtiss Maldoon lançada em 1971.

“Arte cria arte. Quem nunca se inspirou por algo que tenha ouvido? Talvez até uma música de Madonna”, questiona Russel. “Tantas canções populares são inspiradas por outras grandes obras, e com ela, não é exceção.”

O podcaster defende que a rainha do pop não é bem-sucedida por causa de talento, mas de determinação. “Tecnicamente, ela não é a melhor cantora, mas a autoconfiança dela é mais importante, é o que se destaca nas performances. Quando Madonna canta, você acredita no que ela diz. Ela faz isso parecer fácil, mas na verdade exige bastante trabalho.”

Nesses quase 40 anos de carreira, nunca faltou determinação à Madonna — e criatividade também, como mostram as minúcias levantadas por Inside the Groove. Confira alguns momentos da carreira da cantora abordados pelo podcast:

“Vogue”


Madonna – Vogue (Official Music Video)

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Em 1990, a faixa lançou Madonna “para além da estratosfera”, como diz Russell no podcast. Líder de paradas em mais de 30 países, o single que Shep Pettibone co-produziu e co-escreveu com a cantora já vendeu mais de seis milhões de cópias e foi eternizado no videoclipe dirigido por David Fincher (A Rede Social, Clube da Luta, Garota Exemplar). O visual, todo em preto e branco, remete ao trabalho do fotógrafo fashion Horst P. Horst e na Art Deco dos anos 1920 e 1930.

“Vogue” é inspirada na cultura de bailes de voguing, protagonizada pelos LGBTQIA+ negros e latinos de Nova York nos anos 1980. A gravação teve orçamento de US$ 5 mil, baixo valor para os padrões da época, e foi literalmente underground: aconteceu em uma cabine improvisada dentro do armário de um estúdio construído no subsolo de alguém desconhecido. Os autores reutilizam na faixa trechos da guitarra, do sintetizador e do baixo de “Like a Virgin”, “Lucky Star” e “Causing a Commotion”, respectivamente, além das batidas de um remix feito antes por Pettibone para “I Miss You Much”, de Janet Jackson.

“Vogue” é composta por uma bateria em constante repetição, tamborins, estalar de dedos e piano, entre outros instrumentos. A letra foi parte cantada e parte declamada por Madonna, como no rap em que ela menciona nomes icônicos de Hollywood — Greta Garbo, Marilyn Monroe e Marlon Brando, entre outros. Madonna e Pettibone foram processados pelo grupo Salsoul Orchestra, acusados de usar samples de “Ooh I Love It (Love Break)” sem autorização. Dois anos depois, a bateria foi utilizada novamente em “Deeper and Deeper”, do álbum Erotica.

Ouça aqui o episódio de “Vogue”.

“Open Your Heart”


Madonna – Open Your Heart (Official Music Video)

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A faixa foi originalmente composta para Cyndi Lauper por Peter Rafelson e Gardner Cole, mas a demo nunca chegou aos ouvidos da cantora de “Girls just wanna have fun”. Segundo Rafelson, ele colocou a demo às escondidas em uma fita à qual empresários de Madonna tiveram acesso. Depois, uma nova versão foi gravada com Donna DeLory, então namorada de Cole, nos vocais. Rafelson e Cole foram creditados, enquanto DeLory tornou-se backing vocal e dançarina de Madonna pelas duas décadas seguintes.

Ela reescreveu a letra e adicionou à composição uma trilha de baixo, tornando-a dançante, e fez questão de ter bateria ao vivo nas gravações, algo incomum ao pop daquela época. A percussão, feita pelo brasileiro Paulinho da Costa, também foi ao vivo. “Open Your Heart” marca a primeira colaboração no estúdio da cantora com Patrick Leonard, colaborador de longa data.

O videoclipe foi dirigido pelo fotógrafo de moda Jean-Baptiste Mondino, parceiro da diva em muitos outros vídeos e ensaios fotográficos.

Ouça aqui o episódio de “Open Your Heart”.

“Music”


Madonna – Music (Official Music Video)

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O primeiro single do álbum Music (2000) também é um dos primeiros trabalhos da rainha com Mirwais Ahmadzaï, produtor avant-garde cuja parceria com Madonna se estende até Madame X (2019).

Com o objetivo de fazer uma música dançante, a cantora uniu trechos escritos a esmo e construiu rascunhos da faixa com o auxílio de um violão. A produção tem trilhas de guitarra e sintetizadores inconfundíveis. Com a voz distorcida por um filtro, Madonna declama alguns trechos da letra. No início, ela diz “Hey Mr. DJ, put a record on/I wanna dance with my baby“. Depois, o recurso é usado novamente em “Do you like to?/Boogie-woogie, do you like to?/Boogie-woogie, do you like, like, like acid rock?“. “Music” fez enorme sucesso e Madonna emplacou na moda o estilo country girl, com o qual fez as fotos do ensaio clicado por Jean Baptiste Mondino. O vídeo, rodado quando a cantora estava grávida de Rocco, foi dirigido por Jonas Åkerlund e teve participação de Sacha Baron Cohen.

Ouça aqui o episódio de “Music”.

“Hung Up”


Madonna – Hung Up (Official Music Video)

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Madonna disse ao produtor Stuart Price que queria fazer um álbum que fosse como “o ABBA drogado”. Ele levou a instrução ao pé da letra e usou como elemento central de “Hung Up” a flauta de “Gimme Gimme Gimme (A Man After Midnight)”, do grupo sueco. A faixa, que é o carro-chefe de Confessions on a Dance Floor, repete versos de “Love Song” (de Like a Prayer) e fala sobre não perder tempo, daí o constante som “tic-toc” de relógio. Price trabalhou com Dua Lipa em Future Nostalgia.

Ouça aqui o episódio de “Hung Up”.

“Erotica”


Madonna – Erotica (Official Music Video)

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“Meu nome é Dita. Esta noite serei sua meretriz”, diz Madonna, com voz grave e rouca, no início da controversa “Erotica”, do disco homônimo que abalou a carreira da diva por causa do conteúdo explicitamente sexual.

Escrito e produzido por Shep Pettibone com Madonna, repetindo a parceria de “Vogue”, o single tem um sample de “Jungle Boogie”, do grupo Kool & the Gang, e de “El Yom ‘Ulliqa ‘Ala Khashaba”, da cantora libanesa Fairuz. Ela processou Madonna, alegando que o trecho foi usado sem permissão e tirado de contexto, uma vez que é de teor religioso. A letra é quase toda declamada por Madonna.

Dirigido pelo fotógrafo fashion Fabien Baron, o vídeo mostra a cantora vestida como uma dominatrix, com direito até a um dente de ouro postiço.

Ouça aqui o episódio de “Erotica”.

“Living for Love”


Madonna – Living For Love (Official Video)

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Assim como “Vogue” e “Rescue Me”, “Living for Love” é uma faixa de house music, com toda a glória das baladas gay dos anos 1990. Produzida por Madonna, Diplo e Ariel Rechtshaid e escrita pelos três com Mozella e Toby Gad, “Living for Love” é sobre se reerguer com otimismo após o fim de um relacionamento.

Há 15 trilhas diferentes compondo a música, incluindo sintetizadores, baterias, baixos e um coral gospel. Alicia Keys faz backing vocals e toca o piano que atravessa a canção. Madonna canta nos registros grave e agudo, usando o filtro “reverb”, que faz a voz soar como se estivesse reverberando. O single foi lançado às pressas após vazar na internet com outras músicas de Rebel Heart (2015). Depois disso, a própria Madonna se encarregou da masterização e da mixagem.

O elegante videoclipe, dirigido pela dupla francesa Julien Choquart e Camille Hirigoyen — que assina como “J.A.C.K.” —, traz corsets desenhados pela alemã Verena Dietzel, da marca V-Couture. Madonna usa macacão e jaquetas de toureiro feitos pelo designer libanês Shady Zein Eldine, enquanto os dançarinos se vestem como minotauros, usam máscaras de cristal assinadas por Marianna Harutunian e chifres de couro.

Ouça aqui o episódio de “Living for Love”.

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