Corrida contra o tempo: a alta-relojoaria busca se tornar mais sustentável

Mercado de luxo testa diferentes faces da sustentabilidade e dá sinais de como pode se manter relevante sem jogar o planeta no lixo.


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Desde que soou o alerta para os efeitos nocivos do descarte, das tensões sociais, do aquecimento global e da finitude dos recursos, a sustentabilidade passou de conversa sussurrada para um grito de ordem. A moda também levantou a voz, mesmo imersa em polêmicas sobre o uso marqueteiro do tema. Mas a vertente dessa indústria que lida diretamente com o tempo também trabalha com formas de retroceder os ponteiros do apocalipse.

Na última Watches & Wonders, evento anual de alta relojoaria em Genebra, Suíça, algumas das grifes mais poderosas do setor mostraram como vêm colhendo frutos de projetos ambientais e novos métodos de produção mais responsáveis. Um dos exemplos é o relógio Submersible QuarantaQuattro eSteel, da italiana Panerai. Cerca de 72 g, ou 52% de toda peça, são feitos com técnicas de upcycling: do aço utilizado em sua caixa, o eSteel, às pulseiras, uma de fibra de garrafas recicladas e outra de borracha, também de origem sustentável.

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Submersible QuarantaQuattro eSteel, Panerai.Foto: Divulgação

“A sustentabilidade não pode ser só sobre o produto, mas também sobre mudanças desde a manufatura até o pensamento. Se você só produz milhares de relógios, não fez nada. Então, toda a nossa produção de aço será movida para ‘eSteel’. E não patenteamos nenhuma dessas novidades, para que outras marcas possam usá-las”, explica o diretor de desenvolvimento de produto da Panerai, Alessandro Ficarelli.

Durabilidade, uma das bases do discurso sustentável, é outro fator perseguido pelas marcas de relógios de luxo. A grife suíça IWC Schaffhausen elevou ao máximo essa lógica com o desenvolvimento do Ceratanium, um tipo de cerâmica mais resistente que o titânio, que, quando fundido em altas temperaturas, ganha uma tonalidade escura e alta resistência a arranhões. Essas características impedem o desgaste do tempo e são uma das grandes apostas da marca em seu Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Ceratanium.

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Pilot’s Watch Chronograph 41 Top Gun Ceratanium, IWC Schaffhausen.Foto: Divulgação

Numa iniciativa inédita em sua história, a marca também passou a divulgar, em 2020, um relatório bianual de sustentabilidade aberto ao mercado – o deste ainda está sendo desenvolvido. A ideia encontra eco nos guias de conduta do grupo Richemont,

Já na TAG Heuer, são os diamantes os principais destaques. Trata-se do Carrera Plasma Diamant d’Avant-Garde, que tem o mostrador com diamantes policristalinos. O material dá um efeito de brilho à caixa, e pedaços de diamantes feitos em laboratório, aplicados nas laterais, reluzem na estrutura de alumínio.

Durante o lançamento, o CEO da TAG, Frédéric Arnault, disse que a ideia é criar uma visão nova sobre o design em carbono e diamante. Além dos efeitos práticos dessas pedras feitas quimicamente em laboratórios, há a preocupação e a busca de alternativa para a extração do mineral, que, embora seja rastreado mundo afora, ainda agride o meio ambiente.

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Carrera Plasma Diamant d’Avant-Garde, TAG Heuer.Foto: Divulgação

O planeta em si é, de longe, a maior preocupação da Rolex em seus programas de sustentabilidade. Em vez de executivos, são organizações e ambientalistas, cujos projetos são patrocinados por ela desde 2019 por meio da iniciativa Perpetual Planet (planeta perpétuo), os verdadeiros rostos da grife suíça nessa frente.

Entre eles, estão os brasileiros João Campos-Silva, laureado com 200 mil francos na edição do Prêmios Rolex de Empreendedorismo de 2019, e Luiz Rocha, um dos cinco escolhidos para essa mesma láurea na premiação do ano passado.

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João Campos-Silva, na Amazônia.Foto: Divulgação

Campos-Silva está à frente de um projeto de preservação da fauna de pirarucus na Amazônia, que são o sustento para centenas de famílias e estão ameaçados pela pesca predatória. E Rocha comanda uma iniciativa pioneira de conservação dos corais submersos das Ilhas Maldivas, no Oceano Índico, decisivos para a manutenção do ecossistema local.

Se depender de parte da alta relojoaria, o mundo pode até ganhar alguns milésimos de segundo antes da meia-noite.

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