Catherine Martin fala do figurino de “Elvis” e da parceria com Miuccia Prada
“Não queríamos que fossem caricaturas”, disse a australiana à ELLE sobre o filme de Baz Luhrmann, que estreia nesta quinta-feira (14/07).
Catherine Martin está mais que acostumada a lidar com os desafios imaginados por seu marido, Baz Luhrmann, diretor de produções ambiciosas e visualmente exuberantes como Romeu + Julieta (1996), Moulin Rouge! – Amor em vermelho (2001) e O grande Gatsby (2013). Produtora, figurinista e diretora de arte, ela ganhou quatro Oscars por Moulin Rouge! e O grande Gatsby.
Mas nada se compara a levar à tela as vidas de Elvis e Priscilla Presley, em Elvis, que estreia nesta quinta-feira (14/07) no Brasil, depois de uma passagem bem-sucedida pelo Festival de Cannes, em maio. A trajetória pessoal e profissional do cantor foi bastante documentada em fotos e vídeos, e uma legião de fãs fiéis está preparada para reparar em cada detalhe da produção e das performances de Austin Butler e de Olivia DeJonge como o casal Presley.
Elvis de Baz Luhrmann | Trailer 2 Oficial – Legendado
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Fora isso, havia o desafio de cobrir a vida de Elvis dos anos 1950 até sua morte, em 1977, mas aproximando aquela época das plateias jovens de hoje. Tudo naquele ritmo frenético típico de Luhrmann – só Butler teve mais de 90 trocas de roupa. Elvis mostra a pobreza na infância do cantor, o luto permanente pelo irmão gêmeo que nasceu morto e a influência da cultura e da música negras em seu estilo. Em meio às leis de segregação racial no sul dos Estados Unidos, onde cresceu, o cantor fez a ponte entre a música negra e as plateias brancas. Sua ascensão foi impulsionada pelo empresário, o coronel Tom Parker (Tom Hanks, usando bastante maquiagem protética para parecer mais gordo), uma figura controversa e misteriosa que, na verdade, não era coronel, Tom ou Parker. O longa também traz o romance e a formação da família com Priscilla, além do vício em medicamentos, que contribuiu para sua morte precoce, aos 42 anos de idade.
Foi preciso muita pesquisa para encarar dois desafios: recriar as roupas mais conhecidas do cantor e imaginar aquelas usadas na privacidade, quando as câmeras e os fãs não estavam por perto. “Primeiro, tivemos de achar uma maneira de recriar de maneira respeitosa as peças que ele realmente utilizou”, disse Martin em entrevista à ELLE, por telefone. “Não queríamos que fossem caricaturas. Então, precisávamos ter certeza de que o físico de Austin e sua interpretação de Elvis guiassem nossa abordagem.”
Austin Butler (Elvis) e de Olivia DeJonge (Priscilla Presley)
A produção tentou chegar o mais próximo possível. Muitas vezes, especialmente no início da carreira, Elvis montava seu próprio visual – ele costumava ir à Lansky Bros., em Memphis, que vestia os artistas negros que ele admirava, como seu amigo B.B. King (interpretado no filme por Kelvin Harrison Jr.). Mais tarde, ele teve a ajuda fundamental de Bill Belew, que também criou figurinos para Ella Fitzgerald. “Usamos o mesmo design, mas às vezes mudávamos a cor um pouquinho, o comprimento ou o tamanho dos bolsos”, disse Martin. Os famosos macacões com capa de sua fase anos 1970 foram recriados em parceria com Kim e Butch Polston, da B&K Enterprises de Charlestown (Indiana), que produzem réplicas das roupas de Elvis com a permissão de Belew (morto em 2008) e em parceria com Gene Doucette, que bordava à mão as peças originais para o cantor e fez o mesmo com os figurinos do filme.
Ternos rosa com calças amplas e a parte de cima como um misto de paletó e camisa faziam parte do guarda-roupa do cantor, assim como camisas de renda. A combinação foi incluída no filme também por um motivo narrativo. “Baz queria que o público de hoje entendesse como ele era um contestador da geração de seus pais e dos pais de seus fãs, como seu comportamento remetia a sexo, como seu visual, cabelo, movimentos iam contra todas as normas dos anos 1950”, disse a figurinista.
A camisa rendada de Elvis
No caso de Priscilla, com quem Elvis se casou em 1967, Martin queria lembrar sua intimidade com a moda. “Queríamos mostrar às plateias jovens como ela era ousada e moderna na época.” Por isso, colaboram novamente com Miuccia Prada, diretora criativa da Prada e da Miu Miu, amiga do casal e com quem já haviam trabalhado em O grande Gatsby. Ela interpretou roupas usadas por Priscilla e criou looks que expressam o estilo de suas grifes. “Tanto Miuccia quanto Baz são muito influenciados pelo passado, mas sempre olham para o futuro. Fora que Miuccia tem um grande apelo feminino”, disse Martin. Para Austin Butler, a Prada criou um terno ameixa.
Por causa da parceria, a produção teve acesso a toda a tecnologia têxtil da Prada. Foi possível, por exemplo, usar o mesmo brocado de um terninho em um sapato. “O estilo da Priscilla era extremamente sofisticado. Não desejávamos apenas copiar, sem fazer jus. Queríamos que a Olivia, no filme, parecesse tão sofisticada hoje quanto Priscilla era nos anos 1950, 1960 e 1970.” Como no caso de Butler, todos os figurinos, além de cabelo e maquiagem, foram levemente atualizados e adaptados ao rosto, corpo, movimentos e interpretação da atriz Olivia DeJonge.
“Tanto Miuccia quanto Baz são muito influenciados pelo passado, mas sempre olham para o futuro.”
Priscilla aprovou todo o esforço da equipe, apoiando o filme nas redes sociais e indo com Butler ao Met Gala – no evento, parte do elenco, Luhrmann e Martin vestiram Prada. Ela também foi ao Festival de Cannes com a filha Lisa Marie e a neta Riley Keough (que apresentou no evento seu primeiro filme como diretora). “Ela se sentou ao meu lado na sessão de gala, o que foi lindo”, disse DeJonge. “Acredito que ela tenha visto que Baz e todos nós fizemos o filme com amor, respeito e gratidão pelo que eles deixaram, e isso aparece em Elvis.”
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