Força dos palcos, Tina Turner ganha mostra em SP

Exposição no MIS reúne imagens da intimidade e de shows da cantora, que superou um relacionamento abusivo, foi uma das grandes estrelas dos anos 80 e conta ter ensinado Mick Jagger a dançar.


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Ian Dickson/Divulgação/MIS



Com 120 fotos, materiais audiovisuais e instalações, Tina Turner: uma viagem para o futuro acaba de chegar o MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, propondo um mergulho íntimo na obra e na intimidade da cantora entre os anos de 1960 e 1990.

Foi neste período que Tina viveu os traumas do relacionamento abusivo com Ike Turner (1931-2007), que ela mesma trouxe à tona no filme Tina – a verdadeira história de Tina Turner (disponível no Brasil pela Star+), indicado a dois Oscars em 1994 e com a cantora no time de roteiristas, e no documentário Tina (2021, HBO). Mais do que isso, a “viagem para o futuro” que batiza a mostra retrata uma artista à frente de seu tempo e nem sempre reconhecida à altura do posto de rainha do rock and roll, como ela mesma disse recentemente que gostaria de ser lembrada.

As imagens pertencem ao acervo da The Music Photo Gallery e foram clicadas pelos fotógrafos estadunidenses Ebet Roberts, Bob Gruen – que fez algumas das imagens mais conhecidas de John Lennon e também foi tema de mostra no MIS –, Lynn Goldsmith e pelo inglês Ian Dickson. Entre o material inédito, há registros da carreira de Tina na música, no cinema e de sua relação com a moda, repassando seus figurinos e penteados que marcaram época. A curadoria é do coletivo MOOC e da jornalista Adriana Couto.

Julia Borges Arana, idealizadora da mostra ao lado de Lia Vissoto, relembra o início do processo. “Contatamos a galeria (The Music Photo Gallery), que se mostrou interessada em desenvolver essa exposição. E aí fizemos uma seleção de fotógrafos que acompanharam a carreira da Tina desde o início e que tinham diferentes olhares sobre ela e a carreira”, diz. “O Bob Gruen, por exemplo, acompanhou muito a vida pessoal (da cantora), e a carreira dele também despontou por causa dela. Nas fotos com a Lynn, você vê que ela está muito à vontade, solta.”

Relembre abaixo mais sobre a trajetória da cantora, que, aos 83 anos, vive longe dos holofotes, na Suíça:

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Tina e Ike Turner, em clique de Bob Gruen, em exibição na mostra

Outros nomes
Nascida Anna Mae Bullock, em 1939, no Tennessee, nos Estados Unidos, Tina morou durante algum tempo na cidade de Nutbush com a avó e a irmã, após serem abandonadas pelo pai. Em 1957, já em St. Louis, vivendo com a mãe, deu os primeiros passos na carreira, com o nome artístico Little Ann. Três anos mais tarde ela adotaria o nome com o qual ficaria famosa ao lançar o single “A fool in love”, já ao lado de Ike Turner.

Abusada pelo marido
Mentor da cantora em seu início e responsável por inseri-la no mundo da música, tornando-a inicialmente vocalista de sua banda, Ike Turner também foi seu marido entre 1962 e 1978. Neste período, em meio ao enorme sucesso da dupla que passaram a formar, Ike & Tina Turner, ele a espancava e estuprava, levando-a tentar se suicidar com remédios e sofrer até hoje com TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), como contou em seu documentário.

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Tina, em Copacabana, durante sua turnê no Rio, em 1988 Dave Hogan/Hulton Archive/Getty Images

Os hits e o Maracanã
Já separada de Ike, em 1984, e em carreira solo, Tina lançou um dos maiores hits de sua carreira: “What’s love got to do with it”, do disco Private dancer, com o qual ganharia seu primeiro Grammy no ano seguinte e chegaria ao topo da parada da Billboard Hot 100. Cinco anos depois, a cantora transformou “The best”, canção que já havia sido gravada pela cantora Bonnie Tyler (do sucesso “Total eclipse of the heart”), em um megahit. Em 1988, a cantora entraria para o Guinness Records, graças ao Brasil. Tina alcançou o maior público para um show de uma artista solo – 188 mil pessoas – no estádio do Maracanã, no Rio, com transmissão ao vivo da Rede Globo e para o mundo todo.

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Mick Jagger e Tina nos anos 80, em imagem da mostra Lynn Goldsmith/Divulgação/MIS

Bowie, Cher e Jagger 
Em sua biografia, Tina Turner – minha história de amor, a cantora revelou a importância de David Bowie e Cher em sua carreira. Segundo ela, no fim do anos 70, recém-separada de Turner, endividada e buscando espaço como artista solo, foi acolhida por Cher, que também havia passado por um divórcio turbulento. Já Bowie teria anunciado que não iria à festa de lançamento de seu próprio disco, Let’s dance (1983), pois queria ir ao show de Tina, o que a ajudou a esgotar ingressos e conquistar um contrato com uma gravadora. A proximidade com Mick Jagger tinha mais a ver com um crush, ela admitiu recentemente ao jornal The Guardian. Segundo Tina, nos anos 60, durante turnês juntos, foi ela quem ensinou a Mick Jagger a dança que se tornaria sua marca.

Mad max e o afrofuturismo
O lado afrofuturista de Tina é bem exemplificado em filmes como Mad max – Além da cúpula do trovão (1985), terceira parte da sequência de sucesso em que a cantora viveu Aunty Entity e fez parte da trilha com o megahit “We don’t need another hero”. Se naquela época pouco se falava sobre o tema, hoje essa faceta ganha destaque também na exposição que desembarca no MIS, destaca Vissoto. Para além disso, ao longo dos anos, a cantora fez história com sua imagem emblemática. O cabelo repicado e as pernas torneadas se tornariam suas marcas assim como o vestido de franjas.

MIS (av. Europa, 158, São Paulo). Até 9 de julho. Mais informações aqui.

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