Índice de Transparência da Moda Brasil: os destaques da 6ª edição

Relatório do Instituto Fashion Revolution atingiu a maior pontuação desde seu primeiro lançamento, mas avanços ainda são pouco pragmáticos no setor. A seguir, analisamos os resultados do Índice de Transparência da Moda Brasil 2023.


Índice de transparência da Moda Brasil
Ilustração: Gustavo Balducci



O Índice de Transparência da Moda Brasil (ITMB), realizado desde 2018 pelo Instituto Fashion Revolution Brasil, analisa a disponibilidade de informações que marcas com operações nacionais publicam sobre seus processos de produção, políticas e resultados socioambientais ao longo de toda sua cadeia de valor. Os indicadores são baseados em cinco seções: políticas e compromissos, governança, rastreabilidade, conhecer, comunicar e resolver, além de outros tópicos em destaque.

Em sua sexta edição, lançada em 30.11, foram analisadas 60 etiquetas de diferentes segmentos. Destas, cinco pontuaram acima de 60% (C&A com 70%, Malwee com 68%, Dafiti com 67%, Renner e Youcom com 65% e Havaianas com 62%). Nas avaliações anteriores, apenas uma ou duas marcas alcançaram esta faixa de pontuação. 

“O Índice ainda é relevante, pois a transparência não é a norma do setor”, diz Isabella Luglio, coordenadora do projeto no país. “Nosso sonho é que ele não precisasse mais existir, que esse passo de mudança sistêmica já tivesse sido dado.”

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Mas não é o que acontece: apesar do progresso, quase metade das marcas é pouco ou nada transparente. No ITMB 2023, 16 marcas tiveram zero na pontuação (Besni, Brooksfield, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Di Santinni, Dumond, Fórum, Havan, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompéia, Marisol, Moleca, Sawary e TNG). Zerar a avaliação significa que essas empresas não divulgam publicamente os cinco indicadores sociais e ambientais analisados. 

Para Isabella, isso pode acontecer por alguns motivos: “Talvez a participação no Índice não faça parte da estratégia da marca, ou que ser transparente sobre seus impactos sociais e ambientais não seja interessante”. O outro fator apontado pela coordenadora é o fato de algumas marcas não terem uma pessoa, equipe ou área específica para responder às demandas do relatório ou olhar para a pauta socioambiental. 

Índice de Transparência de Moda 2023: Uma nova métrica: decrescimento

Um dos indicadores adicionado na análise deste ano é o decrescimento. Trata-se de um movimento e conceito complexo que pode ser resumido como uma crítica acerca dos modos de produção e consumo atuais, que são baseados no crescimento infinito, e propõe um novo paradigma socioeconômico que invés do crescimento, busca o bem estar e equilíbrio ambiental e social. 

Isabella argumenta que o indicador, embora ambicioso, é essencial, visto que “não tem como falar de uma indústria de moda mais sustentável sem falar do problema da superprodução e do quanto isso está alinhado, ou não, com as dimensões planetárias. Os sistemas circulares e de reciclagem não vão dar conta se não olharmos para isso”.

A constatação do ITMB foi que nenhuma empresa analisada publica sobre decrescimento, ou seja, não comunica estratégias de desaceleração de produção. É uma realidade semelhante ao Índice de Transparência Global: na mais recente avaliação, apenas 1% das 250 marcas analisadas divulgaram um compromisso com o decrescimento. 

Índice de Transparência da Moda Brasil 2023: Pegada de carbono

A pegada de carbono mede as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) causadas pela ação humana. É uma métrica importante que está relacionada ao aquecimento global e, consequentemente com, as mudanças climáticas – cada dia mais intensas e visíveis, como as secas severas na Amazônia, as enchentes no sul do país ou o calor extremo no sudeste. 

No ITMB 2023, 45% das etiquetas divulgam as emissões das próprias instalações, e 40% publicam as emissões referentes à sua cadeia produtiva. Os dois números representam um aumento de 12 pontos percentuais em relação aos resultados do ano anterior. 

Contudo, outros indicadores mostram que o compromisso divulgado pelas empresas com a mudança climática é simplório. Somente 15% delas publicam um compromisso de descarbonização (redução de emissão de GEE) mensurável e com prazo determinado. 

“É uma certa discrepância”, fala sabella. “De um lado aplaudimos as marcas que estão sendo mais transparentes em relação às suas emissões e pegada de carbono, mas ainda faltam compromissos tangíveis para a descarbonização e redução do desmatamento.”

Índice de Transparência da Moda Brasil 2023: Outros destaques

25% das marcas analisadas publicam como investem em soluções circulares que vão além da reutilização ou downcycling e possibilitam a reciclagem de peças.

38% das marcas analisadas divulgam uma lista com pelo menos 60% dos seus fornecedores de nível 1 (etapas de corte, costura, montagem e acabamento das peças).

Mais da metade das marcas (55%) divulga uma política de combate ao trabalho escravo contemporâneo para seus fornecedores, mas somente 27% divulgam como fazem para identificar impedir violações de direitos humanos em sua cadeia de fornecimento.

18% das marcas divulgam informações sobre a divisão por cor ou raça de seus funcionários, considerando dados de diferentes níveis hierárquicos na empresa.

Menos de um terço das marcas (30%) divulgou a distribuição por gênero dos trabalhadores em cada instalação de fornecedores diretos.

 

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