Conheça a Cena, nova marca que quer mudar nossa relação com a roupa
Por meio do slow fashion, tecidos nobres e construções elaboradas, etiqueta do estilista Lucaz Roberto propõe um questionamento sobre o papel da roupa hoje.
Foi durante o trabalho de conclusão do curso de moda, na FMU, em 2019, que Lucaz Roberto decidiu lançar uma marca de slow fashion. O tema do TCC era o mundo como palco e daí o nome do negócio, Cena. “A ideia veio de um monólogo de Shakespeare, que me fez questionar até onde vai o palco da moda”, explica o estilista paulistano, de 26 anos. Seu questionamento envolvia a exposição nas redes sociais, o que cruza as passarelas e o que se veste nas ruas. “Tenho a impressão de que, hoje, a moda é cada vez mais sobre espetáculo e menos sobre roupa. Então, quis explorar o que uma peça, por si só, pode fazer com as pessoas”, completa ele.
Lucaz desenvolve roupas com modelagens elaboradas, ora bem amplas, ora coladas ao corpo, quase sempre de tecidos nobres, entre eles seda, chiffon e cetim, e muitos plissados. “Penso em como fazer a mulher se sentir dentro de um espetáculo, pertencente a uma cena mesmo.”
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Para isso, ele trabalha com três perspectivas de base: silhueta, jogo de volumes e decorativismo. “Acredito que o corpo é uma tela em branco nesse palco, então ele sempre será evidenciado de alguma maneira” explica. “Depois, brinco com volumes exagerados, metros de tecido e mangas bufantes, pensando até onde a roupa pode caber em relação ao corpo”. Por fim, a inspiração artística se traduz em decotes ousados e cinturas bem marcadas. “Quero trazer a ideia do rococó para uma moda brasileira, com cores mais quentes e destaque para os quadris”.
Cada coleção – já são duas lançadas – é desenvolvida minuciosamente por Lucaz, ao lado da costureira Helena Naka, sem a pressão de seguir o calendário tradicional de lançamentos. Pelo contrário. As peças têm tiragem limitada, a maioria produzida apenas sob medida. “Prefiro que a coleção demore mais para sair e tenha roupas nos padrões de uma alta costura, cada uma com sua importância e um carinho especial no desenvolvimento.”
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A opção pelo formato independente e 100% artesanal vem da experiência profissional de Lucaz, principalmente com grandes varejistas de moda, como C&A e Riachuelo, onde atua como coordenador de Visual Merchandising. “Trabalhando para uma marca de fast fashion pude ver como mudou a relação das pessoas com as roupas”, fala ele, sobre a descartabilidade das peças. “Estou tentando fazer o oposto com a Cena.”
Atualmente, o estilista está focado em sua terceira coleção, que será dividida em quatro partes e lançada a partir de março do próximo ano. Enquanto isso, a Cena vem ganhando cada vez mais destaque. Recentemente, a marca foi a escolhida por Badsista para capa do álbum Gueto Elegance. Linn da Quebrada é outro nome que também já vestiu criações de Lucaz. “Sempre tento me aproximar de pessoas que usam o corpo e a imagem como potência, mas que tenham uma voz e uma mensagem por trás do espetáculo”, diz ele. “Não tive muitas oportunidades no mercado de moda e a Cena está me dando esse espaço. Ainda estou no começo, mas aos poucos vamos conquistando.”
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