A volta do cabelo com volume

Enquanto o Grammy 2024 premiava os melhores da música, no tapete vermelho havia apenas um vencedor: o cabelo com volume de Miley Cyrus. Criado pelo icônico hairstylist nova-iorquino Bob Recine, o penteado, com a raiz levantada e ondas bufantes, nos levou em uma viagem no tempo, diretamente para os anos 1980, década em que o maximalismo coroava o volume como rei absoluto. 

Miley Cyrus no Grammy 2024 Foto: Getty Images

Ao mesmo tempo, Beyoncé se preparava para lançar o segundo ato de Renaissance, o álbum Cowboy Carter (2024), com grande influência da música country. Desde a estreia do disco, a cantora tem apostado em looks que remontam ao estilo musical em sua era de ouro, e, portanto, cabelões supercheios, vez ou outra, arrematam suas produções. 

Se duas das maiores divas pop da história não são suficientes para convencer você sobre a volta do cabelo com volume, a confirmação também pode vir das passarelas. Na temporada internacional de moda para o inverno 2024, marcas como Marc Jacobs, Christian Cowan, Sergio Hudson e Willy Chavarria trouxeram o cabelão em diferentes estilos, entre topetes altos e cachos ultradesfiados.

Inverno 2024 de Marc Jacobs Foto: Getty Images

E o que explica esse movimento? Para a especialista em tendências Nina Grando, ele é uma resposta às estéticas minimalistas que dominam a moda e a beleza já há algum tempo. “O estilo clean girl, com cabelo alinhadíssimo, pele toda iluminada e pouquíssima maquiagem, veio com muita força nos últimos anos. O visual parecia muito natural e sem esforço, mas era milimetricamente pensado para passar a imagem de perfeição”, explica. “Agora as pessoas parecem estar se cansando desse look, que no fundo é uma mentira, e têm buscado mais autenticidade.” 

De acordo com Mariana Santiloni, gerente de experiência do cliente na América Latina do WGSN – agência expert em previsão de tendências para diferentes mercados –, os jovens recorrem, cada vez mais, às plataformas digitais para o autodescobrimento, rejeitando conceitos unidimensionais deles próprios e explorando diferentes possibilidades visuais. 

“A geração Z, principalmente, experimenta múltiplos estilos, dependendo do dia e de seu humor”, comenta. Isso explicaria por que o cabelo com volume voltou a despertar o interesse das mulheres, já que, em comparação com o liso alinhado, ele oferece muito mais possibilidades – pense em ícones dos 1980, como Dolly Parton, e seus mil tipos de penteados bufantes, Diana Ross, e seus cachos texturizados de várias formas, e Joan Jett, com seu mullet, bagunçado cada dia de um jeito. 

Dolly Parton em 1976 Foto: Getty Images

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É importante ressaltar que esse retorno do volume, ainda que englobe diferentes texturas, talvez não fosse possível sem o movimento em prol da transição capilar, que aconteceu sobretudo nos anos 2010 e ajudou a quebrar o padrão do cabelo liso, que vinha dominando por mais de duas décadas. O problema na época, porém, é que até os cachos precisavam seguir a estética alinhada. “Mesmo com textura, o cabelo também tinha que ser comportado e com cachos muito definidos. O volume ainda não era liberado”, comenta Nina. É justo aqui que essa nova tendência chega para literalmente bagunçar um pouco as coisas. 

Então, qual é a cara dessa nova era do cabelão? De acordo com o hairstylist Celso Kamura, ele não é uma cópia literal dos cabelos dos anos 1980, mas uma releitura atualizada, que tem ares um pouco mais suaves. Isso se deve principalmente aos produtos disponíveis no mercado hoje, que são muito mais tecnológicos e oferecem um acabamento mais leve.

“Diferente dos looks daquela década, que eram feitos com bobe, desfiando a raiz e com muito spray (o que deixava o cabelo superduro!), agora conseguimos dar o efeito de volume de maneira mais natural, deixando os fios mais soltos e macios”, explica. Segundo o expert, é aqui que entram as musses, os xampus secos, os pós-modeladores e também os sprays, agora com formulações mais leves. 

Para resultados mais definitivos, temos visto também o retorno dele: o permanente, um procedimento de salão que dá volume e textura aos cabelos. Apesar da imagem gravada na memória de décadas passadas (em que o resultado era principalmente o de cachos muito marcados), Celso garante que esse não é o caso das versões modernas do permanente. “Hoje em dia, com um cabeleireiro especializado, você consegue um efeito natural”, comenta. Caso essa não seja uma opção para você, cortes mais repicados ajudam a criar movimento e volume.

O mais legal da tendência é não precisar se restringir a visuais muito específicos e explorar todas as possibilidades com base no tipo de cabelo e no seu estilo pessoal – seja abraçando o volume e a textura natural dos fios, seja fazendo um penteado bufante e exagerado. Isso significa também poder ser Miley na segunda-feira, Dolly na quarta e Beyoncé no fim de semana! 

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