5 segredos de Will Vieira
Completando uma década na beleza, o beauty artist – que já foi jogador de vôlei profissional – conta sua história cheia de reviravoltas e os aprendizados que vieram junto dela.
“Meu primeiro contato com o universo da beleza foi por meio das maquiagens da minha mãe, quando eu tinha 5 anos. Eu tinha um fascínio pela caixinha de make dela e quando ela saía de casa, eu abria os produtos, cheirava e testava tudo”, conta Will Vieira. O beauty artist, que celebra uma década de carreira este ano, sempre foi apaixonado pelo mundo da moda, área que é hoje o foco do seu trabalho. “Quando passava pelas bancas de jornais, ficava louco pelas revistas. Não tinha dinheiro para comprar, mas ficava olhando as capas. Venho da periferia do extremo leste de São Paulo, nunca tive contato com pessoas do meio, então era tudo muito distante para mim. Na minha mente, era algo impossível de acontecer.”, lembra.
Foi por isso que, antes de se aventurar profissionalmente pela beleza, ele foi para o esporte. “Tive uma paixão avassaladora pelo esporte ainda no ginásio. Fui jogador de vôlei federado por alguns anos e comecei a sonhar em entrar para a seleção brasileira”, lembra. Tudo mudou quando sua mãe faleceu – ele tinha apenas 20 anos. “Ela cuidou de mim e dos meus dois irmãos sozinha. Na época do vôlei, minha mãe também me ajudava financeiramente porque, como sabemos, esportes que não são o futebol não dão dinheiro no Brasil. Com a morte dela, tive que deixar as quadras para cuidar dos meus irmãos e sustentar a casa.”
Assim, ele foi trabalhar em um call center e, entre uma ligação e outra, não é que a paixão pela maquiagem começou a reaparecer? “Às sextas-feiras, antes dos happy hours, eu maquiava as meninas que trabalhavam comigo. Isso tomou uma proporção tão grande que, às quintas-feiras, elas já começavam a brigar para saber quem eu maquiaria no dia seguinte.” Foi assim que, em 2011, Will se inscreveu em um curso no Senac. “Foi quando comecei a pensar que talvez isso pudesse ser de fato uma profissão para mim”, conta.
No ano seguinte, ele já estava trabalhando como assistente de diferentes maquiadores, fazendo principalmente campanhas de grandes marcas de beleza. “Passei três anos da minha carreira como assistente e trabalhei com diversos profissionais. Comecei a assinar meus próprios trabalhos quando um desses maquiadores saiu do Brasil e me indicou para assumir os jobs com os clientes. Fiquei morrendo de medo no começo”, confessa. Ainda bem que Will foi em frente, ainda que com medo: hoje ele é um dos principais nomes da beleza dentro do segmento de moda, ganhando, inclusive, o Prêmio Avon de Maquiagem na categoria Editorial.
A seguir, o beauty artist compartilha os maiores aprendizados desses 10 anos empunhando pincéis e dá dicas para quem quer seguir os seus passos.
Aprenda muito como assistente
“Trabalhar como assistente por alguns anos me deu a oportunidade de pegar o que cada maquiador tinha de melhor – um era muito bom no cabelo, outro adorava fazer pele, outro fazia uma boca maravilhosa. Eu com certeza não estaria onde estou se não tivesse passado por todo esse processo. Essa foi a chave para me transformar no profissional que sou hoje. Aqui no Brasil, a gente não tem faculdade para se tornar maquiador, apenas cursos, que são geralmente bem básicos. Por isso, acredito que o trabalho como assistente seja a nossa escola. Não só para aprender o processo de construção da beleza em si, mas como se portar em um set, como ter diálogo com outros profissionais e como lidar com clientes. Não é só sobre execução de maquiagem, mas sobre como ser um bom profissional.”
Fora da zona de conforto
“A gente nunca chega em um ponto final de aprendizado. O mercado e os produtos mudam, as construções de beleza se renovam e as tendências se transformam. É essencial se manter atualizado e aberto para aprender – não dá para ficar preso à zona de conforto. Para mim, a internet facilita muito esse processo, porque temos acesso a informações que são riquíssimas. Esse tipo de matéria que você está escrevendo agora também. (risos) Mas também é importante olhar para outras áreas que não sejam a maquiagem. Eu amo cinema e artes plásticas e me inspiro pelo dia a dia também.”
Maquiagem é intimidade
“Não sou uma pessoa religiosa, mas tenho um lado espiritual muito forte. Acredito muito na troca de energia que acontece quando maquiamos alguém. Você toca na outra pessoa, é um contato de pele com pele. Por isso, cuido muito para estar bem comigo mesmo – eu medito, pratico esportes, entro em contato com a natureza. Isso é essencial para mim e reverbera no meu trabalho. Quando você não está bem, a pessoa sendo maquiada sente. Esse cuidado que tenho comigo, é um cuidado que tenho com o outro também.”
Paciência, foco e disciplina
“As pessoas acham que tudo acontece rápido, mas quase nunca é assim. Existe um processo. Paciência, foco e disciplina: essa é a santíssima trindade. Um dia após o outro, é preciso fazer o que tem que ser feito. Tem dias que a gente não consegue entregar tudo – e não tem problema. O importante é ir e fazer com amor e tratando as pessoas bem sempre.”
Dupla dinâmica
“Logo que comecei a trabalhar como maquiador, aprendi que era fundamental que eu soubesse fazer cabelo, além da maquiagem. Aqui no Brasil essa divisão não é tão comum como é lá fora. Na grande maioria das vezes, a contratação é de um profissional que consiga fazer as duas coisas. Entendo que essa é uma dificuldade para alguns profissionais, mas você precisa, pelo menos, conseguir fazer um cabelo que complemente a maquiagem. Aliás, isso é algo que escuto muito de clientes: ‘nós gostamos do seu trabalho porque você consegue entregar muito bem as duas coisas’. Gosto de ver o cabelo como a moldura e a maquiagem como a pintura: elas devem andar sempre juntas.”
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