As viagens surreais de Gabriel Watoniki

O jovem maquiador assina o editorial "Um novo digimundo" da segunda edição da ELLE View e aqui você confere uma conversa sobre seus processos, sua história e seu ponto de vista sobre a intersecção entre beleza e arte.


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Esta reportagem faz parte de uma série de perfis que estamos publicando aqui em ELLE.com.br na qual apresentamos novos talentos da maquiagem no Brasil e no mundo.

Antes de se tornar uma sensação da maquiagem experimental no Instagram, Gabriel Watoniki fazia faculdade em Curitiba. Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ele estudou design. No meio do caminho, acabou participando de uma oficina Drag ministrada por um de seus amigos e, daí por diante, o talento para desenhos minuciosos encontrou um outro e instigante suporte para brilhar: o seu próprio rosto. “Fui me interessando cada vez mais, passando horas no YouTube vendo tutoriais, comprando uma coisinha aqui e ali, testando várias técnicas para entender o que eu conseguia e o que eu gostava de fazer”, relembra a respeito de suas primeiras aventuras com maquiagem.

Aos 25 anos, Watoniki tem mais de 35 mil seguidores em seu perfil no Instagram. Por lá, ele revela constantemente as suas mais recentes criações que, quase sempre, flertam com algum tipo de surrealismo. “Estou sempre colando alguma coisa na cara e brincando com texturas e iluminações diferentes. Basicamente, faço tudo o que me dá na telha”, explica. Alguns bons exemplos são a série de visuais inspirados em Pokémons, a maquiagem tipo “chroma-key” (em que ele projetou uma curadoria engraçadíssima de memes) e a recriação da beleza assinada por Ana Takahashi para a capa do disco SAWAYAMA (2020) da cantora nipo-britânica Rina Sawayama.

Gabriel Watoniki

Gabriel Watoniki

Em “Um novo digimundo“, editorial de beleza da segunda edição da nossa ELLE View, emprestamos o seu talento para, em vez de Pokémons, pintarmos releituras das diferentes linhas digievolutivas dos Digimons no rosto do casting selecionado para as fotos. “Acho que o que eu espero passar com meu trabalho é o incentivo a novas formas de expressão. Não é preciso seguir ‘regras’ de maquiagem nem ter a melhor técnica. Uma boa ideia basta para ser possível criar algo interessante.” O que casa perfeitamente com o que pensamos para os cliques que você confere aqui.

“O belo, para mim, é tudo o que me cativa, o que atrai minha atenção em um conjunto de fatores que não se restringem só à estética ou à imagem. Também levo em consideração a mensagem, a história e o contexto.”

Dentro desse universo digital, Watoniki faz parte de uma nova safra de maquiadores que usam as redes sociais como válvula de escape para devaneios criativos que, nem sempre, encontravam espaço em mídias tradicionais. “Maquiagens experimentais tendem a ser mais intrigantes, possuindo assim um caráter compartilhável alcançando diversos públicos até fora do meio da beleza. Além disso, acredito que o maior valor das redes esteja na possibilidade de criar conexões com artistas do mundo inteiro. Estamos formando uma rede de apoio e, através dela, podemos trocar experiências de diferentes pontos de vista”, diz antes de citar perfis que ele tem como referência. “Poderia ficar aqui o dia inteiro citando nomes, mas vou mencionar apenas alguns que tenho acompanhado recentemente. Eles são: Dee (@deemakeupart), Tania (@luciphyrr), Dain Yoon (@designdain), Sgaire (@sgairewood), Ele (@elepeints), Nushafarin (@nush.mu) e Claudiu (@claudiu.burca).” Vale o follow!

Gabriel Watoniki

Gabriel Watoniki

A inspiração por vezes chega, sim, do Instagram ou do Pinterest, mas não só. Animes, filmes, clipes ou até itens aleatórios que ele encontra em uma papelaria podem funcionar como ponto de partida para suas composições. “É importante não deixar de testar algo que esteja fora da sua zona de conforto, se desafiar a fazer algo que, a princípio, você se julga incapaz de executar. O resultado pode te surpreender!”, diz. Sobre a sua reconhecível mão firme que desenha os detalhes incríveis de suas maquiagens, ele ressalta a importância do tempo e da prática: “Desde pequeno sou apaixonado por arte, desenho e ilustração. Já fiz aulas de pintura a óleo, mangá, representação realista… Tenho um grande apreço por trabalhos minuciosos e intrincados e sempre fui muito paciente em relação às minhas produções. Posso passar dias e dias aperfeiçoando uma arte.”

E o resultado dessa combinação de referências, talento e esforço está visível nas imagens que ilustram esta entrevista. As criações de Watoniki fogem à regra convencional de pele perfeita, olho esfumado e boca definida. São verdadeiros organismos que, lentamente, se desenham sobre o rosto para criar uma beleza de sonho, que quase não pertence a este nosso mundo terreno. “O belo, para mim, é tudo o que me cativa, o que atrai minha atenção em um conjunto de fatores que não se restringem só à estética ou à imagem. Também levo em consideração a mensagem, a história e o contexto.”

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