O retorno da bichectomia: os riscos por trás do rosto ultraescultural

Depois de uma série de celebridades aparecerem misteriosamente "afinadas", a cirurgia de retirada da gordura da bochecha volta aos holofotes.


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Bochechas marcadas e contornos definidos: este é o resultado prometido pela bichectomia. O procedimento já é velho conhecido do universo de beauté, mas, depois de ganhar uma série de celebridades hollywoodianas, ele retornou aos holofotes.

Polêmico, o hype levanta questões sobre a real eficácia e segurança dessa intervenção exclusivamente estética. Pelas redes sociais, viralizaram alguns vídeos, por exemplo, de pessoas que se arrependeram, ficaram insatisfeitas ou tiveram danos colaterais indesejados depois da realização da cirurgia – que, vale dizer, é irreversível.

O que é a bichectomia?

A bichectomia é um procedimento simples e rápido que consiste na remoção das bolas de bichat – tecidos de gordura localizados próximos às laterais dos lábios.

“Acredita-se que elas são importantes para os recém-nascidos porque ajudam no movimento de sucção durante a amamentação. Depois, na vida adulta, elas viram um suporte para a mastigação, mas não são essenciais”, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff, de São Paulo.

“Com um corte de aproximadamente 1,5cm na mucosa interior da boca, conseguimos esvaziar toda essa gordura”, complementa a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da American Society of Plastic Surgery.

Quais são os riscos da bichectomia?

Segundo ela, uma bichectomia dura em torno de meia hora e o paciente vai para casa logo na sequência. “Por isso, ela acabou se tornou uma solução simplista, feita de uma forma muito mais ampla do que deveria”, opina a cirurgiã.

“A bola de bichat está no meio de um monte de nervos faciais importantes. É preciso saber muito de anatomia para entrar ali. Um tantinho que você vai a mais, você pode causar uma lesão grave”, alerta.

Alguns riscos são os mesmos intrínsecos a qualquer cirurgia, como sangramento e infecção. Outros são mais específicos. “Uma consequência crítica, seria uma paralisia facial ou um ferimento das glândulas parótidas, afetando a produção de saliva, por exemplo”, diz Paola.

“Teoricamente, ela deveria ser feita apenas em pessoas que têm uma hipertrofia dessa gordura”, diz a dermatologista, acrescentando que, antes dos fins estéticos, o procedimento era realizado para reduzir o desconforto destes pacientes, que mordiam a região e feriam a boca.

“Então muitas pessoas estão fazendo bichectomia, mas o rosto não muda. Por que? Porque o ‘problema’ do rosto mais redondinho não era a bola de bichat. Poderia ser a mandíbula, os músculos ou até a estrutura óssea”, adiciona Beatriz. “Em quem a gordura não é hipertrofiada, não vai fazer diferença no contorno do rosto. Ao contrário, pode fazer até falta”, complementa Paola.

Por que podem surgir resultados indesejados?

A flacidez pode ser uma consequência destes casos em que o volume da bola de bichat não é excessivo. “A pele está lá bonitinha. Quando você esvazia esse rosto e tira o volume, sobra pele“, explica Beatriz. “Nesse sentido, a bichectomia é o princípio inverso do preenchimento, que aumenta o volume e, assim, estica a pele”, compara.

Essa flacidez, aliás, poderá piorar com o passar dos anos. “No processo de envelhecimento normal, as células de gordura da face vão desaparecendo. Os músculos começam a ficar atróficos, e os ossos começam a sofrer reabsorção óssea. Ou seja, naturalmente, o conteúdo do nosso rosto começa a diminuir e, por isso, a pele cai”, explica a dermatologista.

“Na literatura médica, ainda não temos um follow up de pacientes que eram jovens e retiraram essa gordura mesmo sem a hipertrofia. São consequências que vamos saber melhor daqui 10, 15 anos”, comenta sobre decorrências que ainda podem ser descobertas.

Ainda assim, quer fazer o procedimento? Aqui vão algumas orientações!

“Não sou contra a bichectomia, sou contra bichectomia sem critérios”, afirma Paola. “Enquanto médica dermatologista, eu acredito muito na influência da pele no cérebro e do cérebro da pele”, diz.

“Então, sim, se algo te incomoda, você pode buscar uma melhora porque vejo diariamente no consultório como esse cuidado impacta a autoestima. Mas existe um limite, e o limite é o risco de afetar sua saúde. É um risco grande que não vale a pena”, comenta.

Sua dica principal? Buscar recomendação médica. “As pessoas precisam ir atrás de profissionais sérios e capacitados para não caírem nessa armadilha da busca infinita pela perfeição“, aconselha a dermatologista. “Até porque perfeição não existe. Pessoalmente, acho que a beleza está nisso de cada um ser diferente do próximo, e não de todos terem uma cara igual“, reflete.

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