Como a longevidade entrou na mira do mercado de beleza

Depois de "wellness" e "autocuidado", o termo está na ponta da língua da indústria de cosméticos. A ideia é criar produtos de beauté que além de cuidar da pele, também nos ajudem a viver mais e melhor. Mas, como isso funciona?


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Foto: Getty Images



De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões de indivíduos até 2015 – algo por volta de um quinto da população do planeta. Por sua vez, a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que, em 2050, haverá 3,2 milhões de habitantes na centenários. O aumento da expectativa de vida gera alguns dilemas de beauté que já estão na mira do mercado de cosméticos. Entenda: “A beleza em prol da longevidade tem a ver com priorizar a saúde da pele e do corpo em vez de focar apenas na aparência da juventude”, diz Raquel Dommarco, especialista em tendências na WGSN, consultoria de tendência de comportamento e consumo.

Segundo ela, muitos preconceitos a respeito do envelhecimento estão caindo por terra. “Depois da pandemia, nossa relação com o passar do tempo mudou muito. Some essas reflexões ao fato de que os mais velhos integrantes da geração millennial já estão na casa dos quarenta”, explica. Nesse novo contexto, há de se pensar que a nova “meia-idade” são os cinquenta. Isso posto, nem sempre quem chega nessa idade vê representada no espelho a vitalidade que detém dentro de si. “Agora, a questão é que não dá mais para oferecer produtos ‘antienvelhecimento’. As pessoas estão mais cientes do quão incontornável é este processo. É preciso, portanto, iniciar conversas que encarem o assunto de uma maneira positiva, empoderada e, em certa medida, até comemorativa”, complementa Raquel.

É o caso da OneSkin, marca da Califórnia idealizada por cientistas brasileiras. Com apenas três produtos em seu portfólio, a empresa trabalha com “suplementos tópicos”, ou seja, é menos sobre beleza “anti-aging” e mais sobre envelhecimento saudável aliado a altíssima tecnologia. Além dela, vale mencionar a Stripes, criada pela atriz estadunidense Naomi Watts, focada em atender as necessidades das mulheres que estão na menopausa. Em parceria com a Amyris – conglomerado especializado em biotecnologia que detém Biossance, Rose INC, JVN e Costa Brazil – eles vão lançar onze cosméticos dedicados a questões vividas por mulheres no climatério. Entre eles, estão itens que combatem o afinamento dos fios de cabelo, o ressecamento da pele do corpo, que restauram a lubrificação vaginal e que auxiliam na regulação da temperatura corporal. Isso tudo dentro de um site recheado de informações para educar mulheres a respeito dessa nova fase da vida.

Aqui no Brasil, merece destaque a iniciativa da Vichy, que lançou a linha Neovadiol, com três produtos dedicados a questões semelhantes. Eles oferecem um sérum multicorretor de sinais de idade, um creme nutritivo redensificador e um creme leve com efeito lifting. Segundo Sabrina Peliks, a diretora da marca no país, foram mais de 30 pesquisas para entender a fundo os problemas mais latentes da menopausa aos quais cabem soluções dermocosméticas. “A baixa produção de estrogênio pode causar a perda acelerada de elasticidade na pele e queda dos níveis de colágeno. Por isso, um novo regime de skincare é necessário”, defende.

Conexão fundamental

Marcia Senra, dermatologista do Rio de Janeiro (RJ), acredita que a nossa pele conta a nossa história. “Através dele, percebemos se a pessoa pega ou já pegou muito sol. Se ela fuma, se é muito estressada, etc”, conta a especialista, uma das autoras do livro Psicodermatologia: Pele, Mente e Emoções (2014). A vertente alia estudos sobre dermatologia, psicologia e psiquiatria para estudar as causas e tratamentos de doenças de pele.

A consultoria WGSN adiantou, em seu relatório com 20 tendências para a década de 2020, que a psicodermatologia ganharia espaço nestes dez anos. “A dermatologia irá se preocupar igualmente com o emocional e o físico”, diz Raquel. “A gente não trata apenas a pele, mas a pessoa que a veste”, complementa Marcia. “Práticas integradas entre mente e corpo ajudam muito porque elas agem na regulação do sistema nervoso e, nesse novo contexto, podemos alcançar uma qualidade de pele que reflita o ambiente em que está inserida”, arremata a médica. Aqui, leia mais sobre a psicodermatologia.

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