Cuidado com o fake: pirataria de beauté aumentou na pandemia

Fábricas fechadas, falta de matéria-prima e entraves na importação contribuíram para o aumento de fakes de cosméticos.


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No confinamento social, o skincare, que já vinha bombando, estourou de vez. Todo mundo apostou em máscaras faciais e rotinas de cuidado para manter pelo menos parte do seu dia sob controle enquanto, do lado de fora, milhões de pessoas morriam por conta da infecção causada pelo novo coronavírus. Porém, além de nos colocar para dentro de casa, a pandemia também parou uma parte da indústria e fechou o comércio. Com vontade de consumir mais produtos de beleza, mas com o mercado passando por desafios, criou-se o ambiente perfeito para a proliferação de mercadorias falsificadas.

Em 2019, o Brasil perdeu R$ 29,1 bilhões para o mercado ilegal, de acordo com o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). A entidade ainda não divulgou um relatório atualizado, mas, com a pandemia, a previsão é que este número tenha aumentado. As fábricas paradas, falta de matéria-prima no mercado e mesmo os entraves na logística de importação fizeram com que produtos originais ficassem indisponíveis e as versões fakes se tornassem uma alternativa.

Um dos setores mais afetados pela falsificação de produtos é o de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos que, em 2019, sem ter uma pandemia, perdeu por volta de R$ 25 milhões para o mercado ilegal. O segmento é o segundo que leva mais prejuízo, perdendo apenas para o de vestuário, que levou um rombo de R$ 58,4 milhões no ano passado.

“O mercado ilegal usa o prestígio de marcas renomadas, no entanto, não seguem as regras de vigilância sanitária, muito menos passam por inspeção de qualidade dos órgãos reguladores”, Victor Bechara, dermatologista

Com certeza você já teve o impulso de comprar um creme para o rosto ou uma maquiagem por causa da embalagem que fica bem na foto do Instagram. Ou porque viu que todos os seus amigos estão apostando naquele protetor solar ou balm labial durante o teletrabalho. Essa vontade que temos de estar por dentro das novidades de beleza é o que torna esse segmento tão lucrativo. Ela trabalha a nossa vaidade por nos deixar mais bonitos e também porque nos inclui em um grupinho seleto que tem acesso ao produto. “E a busca pela beleza incessante pode, em alguns casos, ser uma armadilha ao consumidor desavisado”, aponta o dermatologista Victor Bechara. Influenciados pelas redes sociais e com FOMO (sigla em inglês: “fear of missing out”, ou, em adaptação para o português, medo de ficar por fora), as pessoas criam a necessidade de ter e usar um produto de tal marca de qualquer forma. Nem que seja lançando mão da versão falsificada dela.

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Confinados em casa e longe dos shoppings, o e-commerce se tornou a melhor forma de manter o arsenal de beleza em dia sem correr o risco de ser contaminado pela Covid-19. Por isso, desde o início da pandemia, as vendas de produtos de beleza online aumentaram de 20% a 30%, de acordo com relatório da consultoria de negócios McKinsey. Porém, por mais que seja uma boa fonte de renda, a internet também é o lugar onde produtos falsificados conseguem ser vendidos com mais facilidade.

Na série “Desserviço ao Consumidor”, da Netflix, um dos especialistas fala das regras dos três “P”: price (preço), place (lugar de compra) e packaging (embalagem). Você pode evitar o consumo de produtos falsificados prestando atenção nesses aspectos.

Em uma loja física, é fácil levar a regra em consideração, uma vez que você terá acesso ao produto para você inspecionar a embalagem. “E a maior parte dos produtos falsificados são vendidos em sites duvidosos”, pontua Victor Bechara. Se for um marketplace (um grande portal que reúne diversas pequenas lojas), o risco é maior ainda. Tanto que, nos Estados Unidos, a Amazon e a Etsy estão sendo pressionadas por fabricantes para ter uma política mais efetiva para evitar a venda de produtos falsificados em suas plataformas.

Visto que o cuidado com a pele bombou nos meses de confinamento, o segmento de beleza sentiu bastante este crescimento da pirataria: as vendas de fakes aumentaram aproximadamente 37%.

Além disso, tenha em mente que nem sempre o melhor dos negócios é realmente o ideal. Por exemplo, um pote de 125ml do hidratante facial Dramatically Different Moisturizing Gel, da Clinique, custa R$ 255 na Sephora Brasil, uma loja confiável. Encontrá-lo com algum desconto em outras lojas não é tão incomum. Porém, se, em sua pesquisa, você der de cara com uma loja vendendo-o por R$ 100 ou menos, talvez seja o caso de acender a luz vermelha. “Por isso, prefira comprar direto do site da própria marca ou de sites de revenda autorizados de confiança”, recomenda Bechara.

Em 2020, a Red Points, agência de proteção de marca que atende por volta de 700 empresas, viu um aumento de 56% no número de produtos falsificados vendidos online nos primeiros seis meses de 2020. Visto que o cuidado com a pele bombou nos meses de confinamento, o segmento de beleza sentiu bastante este crescimento: as vendas de fakes aumentaram aproximadamente 37%.

A FOREO, empresa de gadgets de beleza que se tornou queridinha com a popularização das rotinas de skincare, faz parte de um dos setores mais visados pelos falsificadores: o de eletrônicos. Nos Estados Unidos, a Red Points trabalhou para banir por volta de 11 mil produtos falsificados da marca, que estavam disponíveis em 180 marketplaces como a Amazon e Etsy. Foram cerca de US$ 2 milhões em mercadorias fakes.

“Entendemos que combater falsificações não é só proteção da nossa marca, mas sim também dos consumidores, pois assim garantimos que eles tenham acesso a produtos seguros, que seguiram os protocolos corretos de higiene em produção, transporte e também de garantia”, fala Bianca Tavares, gerente-geral de operação de FOREO no Brasil.

Salve a sua pele

Há quem tenha uma rotina de cuidados da pele supercomplexa sem nunca ter pisado no consultório de um dermatologista. Isto está longe do ideal. A pele do nosso rosto é muito nobre e sensível, por isso deveríamos ter cuidado com o que passamos nela. Seja hidratantes, cremes de tratamento ou maquiagem.

Porém, na ânsia de experimentar as novidades, um consumidor não se atenta à procedência do produto. Ou, no pior dos casos, prefere consumir a versão falsificada de um produto por conta do preço mais baixo ou por ela ser mais acessível. Mas, lembre-se, o barato muitas vezes pode sair caro. Meses de cuidado com a pele podem ser jogados no lixo por causa de uma loção com uma composição duvidosa.

“O mercado ilegal usa o prestígio de marcas renomadas, no entanto, não seguem as regras de vigilância sanitária, muito menos passam por inspeção de qualidade dos órgãos reguladores”, fala Bechara. Ao pularem estas etapas, os fabricantes colocam à venda produtos que podem ser uma bomba-relógio que vai estragar dias e dias de dedicação no cuidado da pele. “O potencial de causar alergias, infecções, irritações, manchas e até mesmo potencial carcinogênico são reais.”

É que a composição dos produtos pode conter elementos perigosos, como metais pesados, ou ativos em concentrações não ideais. “Por não passarem por um processo dentro das normas da vigilância, eles podem estar, também, contaminados por bactérias e fungos”.

A pandemia dificultou o nosso acesso aos produtos mais babadeiros do mercado de beleza e isso é um saco, sem dúvida. Mas você está disposto a fechar com um segmento que pode adiantar o fechamento da sua marca favorita e, ainda por cima, causar danos irreversíveis na sua pele? O melhor caminho talvez seja fugir do pirata.

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