Explosão 3D

Uma nova safra de criativos está usando elementos tridimensionais para reforçar o espaço da maquiagem no campo da arte.


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Quem está prestando atenção no que vem acontecendo nas passarelas internacionais desde antes de pandemia do novo coronavírus já percebeu que elementos tridimensionais, principalmente joias, brilhos e pedrarias, estão cada vez mais em voga. Em Paris, os desfiles da Schiaparelli, principalmente, têm chamado muita atenção nesse sentido. Quem assina a beleza da marca fundada pela surrealista e histórica estilista italiana é a norte-americana Erin Parsons. O que mais cativa os olhos no trabalho da beauty artist é o fato de que sua maquiagem, não raro, parece quase uma extensão das roupas desenhadas por Daniel Roseberry, diretor criativo da etiqueta. Temporada após temporada ela vem aplicando essa estratégia que, pelo visto, tem dado muito certo. Há também aquelas marcas que estão entrando na onda mais recentemente e nos ajudam a reforçar o aspecto de tendência desses elementos. A gigante Pat McGrath (que acabou de lançar um kit de lábios com diferentes tipos de pedrarias) não hesitou na hora de adicionar um brilho extra nas meninas que desfilaram para Anna Sui no Verão 2020. Na mesma temporada, a superdescolada AREA convocou a talentosa Kanako Takase para contornar os olhos com strass de diferentes cores criando um efeito bem impactante.

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Beleza de Erin Parsons para o Verão 2020 da Alta-Costura da SchiaparelliFoto: Agência Fotosite

Saindo das passarelas e entrando no caótico universo do Instagram, essa história de ir além da tinta na hora de pensar maquiagem ganha contornos ainda mais artísticos. Aqui no nosso site, já conversamos com um dos maiores nomes dessa causa nas redes, a húngara Eszter Magyar que com sua conta (a @makeupbrutalism) tem desafiado os limites da beleza ao apropriar-se de materiais não convencionais para criar seus visuais. “Não tem como deixar a Eszter de fora. Ela é muito incrível, muito corajosa”, elogia a russa Anna Rudzit, também maquiadora cujo trabalho é igualmente disruptivo. “As pessoas, de vez em quando, se assustam com o meu trabalho. Isso acontece porque elas não conseguem entender que coisas são essas que estão no meu rosto”, diz a fundadora da comunidade @messymakeupcommunity no Instagram. “É claro que eu quero provocar. Mas também não quero provocar só por provocar. Estou tentando me expressar e essa é a maneira que eu encontrei de fazer isso”. Plantas secas, pedaços de frutas, embalagem de presente, cabos de eletrônicos, linha de pesca e até borracha já foram usados pela artista na hora de conceber suas “maquiagens” que mais são obras de arte do que qualquer outra coisa.

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Beleza assinada por Anna Rudzit para seu perfil no Instagram @sugaronyoursoulsFoto: Anna Rudzit

Também baseada em Moscou, a artista Margarita Art descobriu a maquiagem tridimensional enquanto tentava modernizar os seus looks para a noite. “Era ótimo porque é uma coisa que chama muita atenção e não necessariamente precisa dar muito trabalho. No fim das contas é só limpar e já era”, disse. Acostumada a trabalhar com materiais moldáveis como a plasticina, a russa acredita que vale mais a pena investir em elementos divertidos como esse do que em cosméticos tradicionais. “Acho que esse é o futuro”, opina. “Em 15 minutos, eu consigo terminar minha make 3D. Nada derrama, nada mancha e você não precisa de uma variedade insana de produtos. Grude coisas legais no rosto e pronto!”

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Diversão é a palavra-chave para a beleza da também russa Margarita ArtFoto: Margarita Art

No trabalho de Alma Negrot, que se autodefine como drag queer, as colagens surgiram como uma forma de pensar extensões do corpo, algo como próteses. “Não são necessariamente acessórios ou adornos. A proposta é desenvolver um novo corpo, uma nova pele. No limite, é tudo uma alusão ao fantástico”, explica. “Vale lembrar que isso também não é exatamente uma novidade. Na Idade Média, as pessoas colavam pintas no rosto e na milenar cultura indiana, os bindes também são uma espécie de pedraria aplicada à face”, destaca antes de listar Uýra Sodoma e Martin Shankar (no Brasil) e Ryan Burke (Estados Unidos) e Lyle Reimer (Canadá) como referências contemporâneas importantes. Para além de seu trabalho autoral, Alma Negrot também leva sua visão para desfiles de moda. Na Casa de Criadores, destaca-se a sua contribuição para as apresentações de Diego Gama nas quais entregou maquiagens surreais e diferentes para cada look desfilado.

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Alma Negrot em clique de Léo Fagherazzi

Falando em desfiles, impossível não citar o delicado e belíssimo trabalho de Mika Safro no primeiro desfile de Angela Brito no SPFW. Na ocasião, ela enfeitou o rosto das meninas com pétalas de flores verdadeiras. Ou seja, as possiblidades simbólicas da maquiagem 3D são infinitas.

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Beleza de Mika Safro para o primeiro desfile de Angela Brito no SPFWFoto: Sergio Caddah/ FOTOSITE

No caso de Bruno Nascimento, maquiador radicado em São Paulo, por exemplo, é o seu background em arquitetura e urbanismo que dá o tom de suas obras. Por vezes, elas ganham estruturas, armações que, de fato, aludem a construções cosmopolitas. “Utilizo uma metodologia de criação muito próxima daquela que aprendi no ensino da arquitetura. Eu tive um interesse particular na faculdade em relação a maquetes físicas e, hoje, aproveito muito dessa técnica (tanto de representação quanto de execução) no que construo para beleza. Os elementos tridimensionais exacerbam as intenções dramáticas das minhas criações e por isso me fascinam.”

“Quando a gente encara a maquiagem como uma forma de expressão da própria personalidade e não como uma tendência, fica difícil dizer como usar aplicações no dia a dia. Acho que tem a ver com o experimento de cada pessoa”, diz Alma Negrot. Se por um lado os brilhos e pedrarias têm uma entrada mais fácil no cotidiano dos aficionados por beleza, um mergulho mais profundo no universo da maquiagem tridimensional vai depender da coragem, da ousadia e do desejo de cada um. “É difícil ver esse tipo de beleza tão corriqueiramente. Até porque é tecnicamente desafiador compor looks como esses. Contudo, eu creio que existem formas de sair do convencional e explorar as colagens de um jeito mais prático”, sugere Bruno.

Aparentemente, essa é a vertente experimental da maquiagem que, ironicamente, chega mais perto da função de autocuidado. Uma reportagem da britânica Dazed Beauty publicada recentemente explica como essas brincadeiras com beleza podem nos revelar um novo mundo mais colorido e menos difícil de enfrentar. “Nesse período de quarentena, as pessoas estão experimentando as suas diferentes facetas. E a sua aparência, a maneira como se enxergam, é muito representativa disso”, diz o terapeuta Eric Paterson. “Essas mudanças e experimentações são todas maneiras de quebrar com a monotonia das nossas vidas cotidianas. Mais do que isso, sem o julgamento dos outros, sozinhos em casa, temos mais liberdade para desafiar noções pré-concebidas a respeito de nós mesmos. É uma ótima oportunidade para se conhecer mais e melhor.”

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