A nova era do laser

A tecnologia ganha cada vez mais adeptos por trazer resultados eficazes e naturais com poucos riscos. Aqui, você conhece um pouco sobre a evolução dos protocolos e se inteira com o que existe de mais moderno no mercado.


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O laser foi um verdadeiro divisor de águas na dermatologia, da medicina à estética, e hoje faz parte da maioria dos tratamentos realizados no consultório. “Ele atua pela emissão de luz de forma amplificada, organizada e monocromática. Essa luz é muito forte, concentrada em um único feixe que não se espalha”, explica a dermatologista Laura Micherif. Essa emissão é realizada através de pulsos, com intensidades e durações variáveis. De acordo com o também dermatologista Abdo Salomão Jr., eles “penetram na pele e interagem apenas com estes pontos, poupando as estruturas adjacentes”.

Laura explica que o laser age basicamente em três alvos: a água, relacionada ao rejuvenescimento; a melanina, das manchas na pele; e a hemoglobina, dos vasos sanguíneos. “Ao atingi-los, ele os modifica, provocando pequenas lesões que irão cicatrizar e promover aumento de colágeno na pele”, continua. Dessa maneira, é possível tratar diferentes tipos de queixas e doenças com a sua ajuda.

E o laser passou por grandes evoluções ao longo dos anos. De acordo com Abdo, ele foi criado já com o objetivo de ser utilizado para tratamentos estéticos. “Eles tinham basicamente este mesmo funcionamento, porém a potência, o resfriamento, os comprimentos de onda, a forma de entrega de energia e a precisão eram extremamente limitados”, explica.

O primeiro, chamado Rubi, surgiu na década 1960 e tinha como objetivo remover manchas escuras e tatuagens. Pouco tempo depois veio o laser de CO2, focado no rejuvenescimento. “O original era bem diferente do que temos atualmente. Ele fazia uma ablação completa da epiderme, literalmente queimava toda a sua superfície. Era um procedimento bastante doloroso, com longo tempo de recuperação e vinha com a possibilidade de gerar complicações”, conta Laura.

Logo vieram também os lasers que tinham como foco a hemoglobina, componente dos glóbulos vermelhos e que dá pigmento ao sangue. “Eles foram pensados para tirar vazinhos, principalmente do rosto e das pernas, além de manchas do tipo hemangioma – aquelas avermelhadas que são de nascença ou que aparecem ainda na primeira infância”, explica o dermatologista Fernando Macedo.

Nessa época, a tecnologia já tinha alcançado certa popularidade nos Estados Unidos e na Europa. “Na França, por exemplo, eles já estavam bem difundidos. Eram utilizados principalmente os protocolos de rejuvenescimento e tratamento de manchas”, conta Fernando. Eles chegaram ao Brasil somente nos anos 1990.

O laser só ocupou o posto de queridinho da dermatologia quando a tecnologia evoluiu a ponto de ser possível fracionar a luz para atingir os alvos específicos, além de ter maior controle das energias e pulsos. “Hoje, os feixes são emitidos com um pequeno espaço entre eles, deixando a pele íntegra entre as micro colunas de ‘queimadura’. É só imaginar como se fosse um chuveiro ou uma peneira”, explica Laura. Dessa forma, a derme não é completamente queimada ou exposta, como nas primeiras versões não-fracionadas. A barreira cutânea fica intacta, mas lá dentro o colágeno está sendo todo remodelado.

De acordo com Laura, essas mudanças já garantiram ao procedimento maior segurança e conforto, diminuindo riscos de complicações e efeitos colaterais. Além disso, como a lesão tecidual é muito menor, o tempo de recuperação após o procedimento passou a ser mais rápido, permitindo que o paciente pudesse manter sua rotina normalmente.

“A evolução dos lasers e a ampla gama de tecnologias nos permitiu a associação de tratamentos que promovem uma regeneração de dentro para fora em todas as camadas. Assim, conseguimos ter uma ação mais natural e progressiva”, Laura Micherif, dermatologista.

Com essa evolução, os lasers se tornaram uma opção viável de tratamento para um maior número de pessoas. “Passamos a ter também tecnologias mais seguras e eficazes para pele negra, por exemplo, que têm mais tendência a inflamação e a hiperpigmentação”, explica a dermatologista Fernanda Porphirio. Até algum tempo atrás, ainda existiam lasers de depilação que não podiam ser utilizados em pessoas negras porque o aparelho confundia o pelo com a pele, aumentando a chance de queimaduras.

À medida que conquistou mais adeptos, também surgiram mais estudos acerca de seus benefícios, assim como novas tecnologias e possibilidades de uso. “Eles foram se tornando mais específicos. Antes tínhamos poucos aparelhos para tratar todos os tipos de questões. Hoje, eles são especialmente desenvolvidos para cada objetivo”, explica Fernando. Isso faz com que seja possível conseguir melhores resultados em menos sessões – às vezes, com apenas uma, já é possível ver resultados. “Logo foi possível também combinar mais de uma tecnologia em um mesmo momento do tratamento”, completa.

Se os primeiros lasers foram desenvolvidos para trabalhar na superfície da pele, tratando questões como rugas e manchas, toda essa evolução permitiu que fosse possível tratar tudo o que está nas três camadas da pele (epiderme, derme e hipoderme) e até os anexos (cabelo e unhas). “Isso inclui varizes, queda de cabelo, micose de unhas, gordura localizada, celulite, estrias, flacidez de rosto e corpo e até lesões pré-câncer, como a queratose actínica”, explica Laura.

De acordo com Fernanda, hoje conseguimos tratar com o laser locais que antes só era possível com cirurgia, como a região dos olhos e a papada. “Além disso, temos lasers que atuam na inflamação, auxiliando no tratamento de doenças como acne e rosácea, por exemplo”, completa.

Todas essas inovações vieram acompanhadas de resultados cada vez mais naturais, agindo principalmente na qualidade da pele como um todo sem tirar as características básicas da pessoa. “A evolução dos lasers e a ampla gama de tecnologias nos permitiu a associação de tratamentos que promovem uma regeneração de dentro para fora em todas as camadas. Assim, conseguimos ter uma ação mais natural e progressiva”, explica Laura.

Eles também vêm com uma abordagem maior na prevenção, principalmente quando o assunto são as rugas e a flacidez. “As pessoas estão mais preocupadas em prevenir os achados de envelhecimento do que apenas agir no tratamento. O laser pode ser um aliado principalmente através do estímulo da produção de colágeno”, conta Fernanda.

Outro ponto que está em constante evolução é a velocidade com que o calor do laser toca a pele. De acordo com Laura, quanto mais rápido o disparo e o contato, maior a precisão em atingir o alvo, causando cada vez menos dano aos tecidos ao redor. “Se antes tínhamos lasers que trabalhavam em nanossegundos, já como algo muito moderno e eficiente, hoje os aparelhos mais modernos trabalham em picossegundos, ou seja, com uma velocidade de ação que é uma trilionésima parte de um segundo”, explica. Este laser de picossegundos foi desenvolvido inicialmente para remover tatuagens, mas ele tem mostrado resultados também no tratamento de manchas de sol, melasmas resistentes, olheiras, cicatrizes de acne e estrias.

É consenso entre os dermatologistas que podemos esperar aparelhos de laser cada vez mais eficazes, seguros e confortáveis para o paciente. “Acredito que futuramente teremos à disposição várias tecnologias que associam diferentes tipos de lasers disparados simultaneamente. Ou ainda, com a possibilidade de associarmos um laser a outro tipo de tecnologia baseada em energia (como o ultrassom ou radiofrequência), otimizando as sessões”, conclui Laura.

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