Maquiagem na orelha e nas mãos: vai entrar nessa?

Se depender da britânica Martha Butterworth, a tendência surrealista tem, sim, espaço no dia a dia: "por que não?"


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Quem questiona Martha Butterworth (a @marthamakeupartist no Instagram) porque ela começou a explorar orelhas e mãos nos seus trabalhos de maquiagem, recebe outra pergunta como resposta: “por que não?” De Cambridge, Reino Unido, a makeup artist explica que nunca foi adepta a seguir regras. Quando a pandemia de Covid-19 forçou todo mundo a ficar dentro de casa — e quebrou com tudo aquilo que consideramos convencional —, não pensou duas vezes: “todas as áreas do rosto são esteticamente interessantes e, com o acesso a modelos e lugares limitados, passei a experimentar dentro da minha casa, no rosto das minhas próprias filhas, pinturas possíveis nessas regiões”, conta.

O céu foi o limite. Uma reprodução de um quadro de Monet foi parar na palma da mão. Um tubarão, como o do clássico filme Jaws, preencheu um dedão. E até cenários completos foram possíveis, como a miniatura de uma mulher pensativa, sentada nos lábios que formam uma piscina de bolinhas. O surrealismo do trabalho tem tudo a ver com a maneira como as ideias vêm, não só do seu consciente. “A maioria das inspirações surgem quando estou na cama, prestes a dormir”, explica. Sonhos se misturam com imagens de plantas, ossadas de animais, criaturas marinhas e pássaros, que rondam os seus pensamentos, como ela conta. Some a isso ainda as pesquisas que faz em artes visuais, história da moda, fotografia, e por aí vai.

Afinal, sair da caixinha foi o que a trouxe até aqui. Formada em artes visuais, seguiu pelo design gráfico por influência de um professor que acreditava no seu potencial dentro dessa área. Mas depois de passar anos trabalhando nessa indústria entendeu que não era o que esperava. “De certa forma, até matava a minha paixão, porque me sinto mais viva com um lápis e um pincel na mão”, justifica. Já mãe e com carreira estabilizada largou tudo e voltou a estudar. Martha fez cursos de beleza terapia, além de efeitos especiais para cinema e teatro, onde aprendeu técnicas de maquiagens e cabelos artísticos. Se explorar um novo caminho dava certo frio na barriga, ganhar duas vezes uma competição nacional, organizada pela Royal Opera House, ajudou a dar a confiança necessária para seguir em frente.

“Decidi não desistir de quem eu sou, permanecer consistente no que eu faço e curtir bastante o que eu crio, me divertir”, Martha Butterworth

“Eu amo cores e texturas, me atraio facilmente por coisinhas brilhantes e materiais incomuns. Coleciono todo tipo de objeto, enfeite ou elemento que posso aproveitar em uma maquiagem. Decidi não desistir de quem eu sou, permanecer consistente no que eu faço e curtir bastante o que eu crio, me divertir”. No Instagram essa verdade foi reconhecida. Hoje, a maquiadora já conta com mais de 90 mil seguidores em seu perfil pessoal, pessoas que, segundo ela, se sentem encorajadas a fazer o mesmo: expandir os horizontes e se permitir.

A rede social, de acordo com Martha, é uma plataforma que pode ser poderosa para se mostrar para o mundo. “É uma maravilhosa maneira de construir uma comunidade, ter inspiração, compartilhar ideias e colaborar, desde que você não deixe que as redes te consumam e consiga fugir dos haters, porque são pessoas que falam muito e não fazem nada. Essa negatividade pode ser bastante perigosa”, pondera.

E como lidar com obras de arte tão efêmeras, que somem com o demaquilante logo após a foto que vai parar em um post na internet? O segredo é não se apegar, ela conta. “Como muitos artistas, nunca me sinto completamente satisfeita e sempre olho de forma crítica para o que faço, me pergunto como eu poderia produzir de um jeito diferente ou melhorar da próxima vez”. O que pode parecer uma cobrança excessiva, por fim se revela bastante libertador. “Me instiga a tentar sempre o novo, outras ideias e conceitos diferentes.”

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