Pintando o rosto com Josie Shipley

A maquiadora estadunidense surpreende ao usar técnicas pouco convencionais para compor os makes incríveis que posta no Instagram.


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Há dois anos, Josie Shipley criou uma conta no Instagram. Ela não sabia muito bem qual seria o propósito de @sunshinethebee, mas se abriu para as possibilidades: o que é arte, afinal, senão exatamente o resultado deste desejo por experimentações? Rapidamente, a estadunidense entendeu a fórmula da sua investida e começou um quadro chamado Squiggle Sundays, no qual a artista de ascendência chinesa improvisa uma pintura em seu rosto. Hoje com 20 anos, Josie é parte de um movimento que tem ganhado força nas redes sociais ao buscar novas compreensões sobre o que pode ser beleza. Ao lado de outros que, como ela, têm levado o jogo para um outra dimensão, da maquiagem criativa, Josie já sabe qual ponte quer atravessar.

Não é sobre cobrir as espinhas, nem disfarçar a idade. O objetivo desse tipo de maquiagem é refletir: quais são (e será que existem?) limites quando se fala em pintar o rosto? Por que apenas algumas manifestações de beleza são válidas socialmente? “Eu quero dividir a minha arte com o mundo; não é só sobre o prestígio do que eu faço, mas também reconhecer o que eu faço como arte. É arte e ponto final”, atesta Shipley. Dos vídeos filmados na banheira de casa, em Olathe, no estado do Kansas, nos Estados Unidos, a artista encontra fluidez na sua linguagem e o questionamento chega sem tumulto: suas obras são marcadas pela sua sensibilidade e destreza nos pincéis. Abaixo, confira o nosso bate-papo exclusivo com ela.

Como você começou a se sentir atraída por tintas para além do que é designado pelo mercado como maquiagem?

Honestamente, estava cansada de fazer os looks tradicionais de maquiagem. Comecei a observar o trabalho de outras pessoas que me inspiraram a sair do convencional. Foi assim que passei a testar diferentes técnicas em mim mesma. Estava fazendo testes, na verdade, para descobrir uma maneira interessante de traduzir o que penso no meu rosto. Antes de pensar em maquiagem criativa, ou só sobre maquiagem, por assim dizer, eu pintava telas. Ou seja, o desafio era transportar o estilo que eu já tenho no canvas para a face. E esse processo tem sido muito divertido. É ver o que funciona e o que não funciona. Mas, para ser sincera, tudo começou de um tédio, basicamente. (risos)

Há quanto tempo você pinta em telas?

Eu fui uma artista flexível que usava lápis comum e lápis colorido. Comecei a fazer aulas particulares quando estava na quarta série. Hoje, tenho 20 anos.

E como você passou a se sentir mais interessada em maquiagem?

Quando comecei a minha conta no Instagram, não sabia muito sobre a comunidade de beleza no geral e até hoje eu não consigo me considerar como parte dessa comunidade porque o meu estilo é tão diferente que, às vezes, é difícil sentir que de fato pertenço a esse mundo. Mas, realmente acredito que maquiagem é para se expressar – pouco importa se é um look natural ou não. Se você se sente poderosa e confiante em relação ao que você está fazendo, você está fazendo isso do jeito certo.

É curioso isso que você disse sobre se sentir uma outsider. Eu acredito que todo mundo se sente dessa forma, mas o mais interessante é que quando você consegue não se importar tanto com isso e abraçar que você é uma outsider. Muitas criações podem partir justamente disso, não?

Exatamente! Concordo plenamente. Neste ano, quero focar mais nas coisas que eu realmente quero fazer. Por exemplo, amo muito meus Squiggle Sundays porque eles são super divertidos: eu não planejo nada, só crio. Mas, para meus posts de fotos de maquiagem, acho mais chato porque sinto que estou voltando para o look básico que é o que todo mundo faz – e é o que não quero mais fazer. Quero me estimular ainda mais a criar com materiais que todo mundo usa, mas de maneiras diferentes.

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Quais materiais têm te inspirado agora?

Um ano e meio atrás, usei papel machê e gostaria de voltar a ele. Foi tão divertido! Basicamente, usei lencinhos e misturei cola de glitter com água para criar a umidade que precisava para colar o papel no meu rosto. Só cortei pedaços de papel e colei conforme eu sentia que encaixava, sabe? Sempre me pego pensando nesse dia… Além disso, acho que miçangas ou joias seriam legais! Outros elementos naturais também, não necessariamente flores, mas plantas e água em si. Acho que seria muito legal fazer um look de água, usar gotas para criar uma certa forma no rosto e colocar corante nessa forma… Não sei, estou pensando sobre isso ainda.

“Se você se sente poderosa e confiante em relação ao que você está fazendo, você está fazendo isso do jeito certo”

Qual é a parte mais desafiadora de pintar na pele?

Para ser sincera, não foi tão difícil fazer a transição. Prefiro usar meu rosto para criar porque já tenho uma estrutura, então sinto que consigo fazer mais coisas no meu rosto do que em uma tela, até porque já estou acostumada ao meu rosto. Além disso, tem muitos materiais que podem ser usados no rosto e que tornam o resultado mais interessante. Consigo enfatizar as partes que gosto do meu rosto mais facilmente do que em uma tela. No caso da tela, preciso criar uma estrutura primeiro para depois mergulhar nos detalhes – não preciso me preocupar com isso lidando com o meu rosto. Só vou! Com os Squiggle Sundays, realmente, tento não planejar nada. Às vezes, uma ideia aparece na minha cabeça e, ok, vamos com ela. Mas é bem raro. Geralmente, só sento na minha banheira – gravo os vídeos na minha banheira porque é onde tem a melhor iluminação (risos) – deixo minhas ferramentas à mão, escolho uma cor e vou.

Quais são suas maiores referências de estilo?

Meu processo criativo é bem intuitivo. Gosto de pensar em como estou me sentindo e como gostaria de me sentir. Não sei se isso faz sentido… Mas, se eu quero me sentir mais poderosa, bonita, tenho uma visão na minha cabeça do que isso se parece e é ela que se torna a base para o que vou criar. Ou então, vejo padrões na natureza e me inspiro nisso. Sobre outras pessoas, quando comecei minha conta e não tinha ideia do que estava fazendo, fui muito inspirada por @nightmaring, o nome dela é Ana e ela é incrível, tão livre em tudo que ela faz; e a @sosodoesmakeup, a Sophia é brilhante, ela chegou em uma combinação de glamour e arte na conta dela que eu admiro muito, foi também uma das primeiras influenciadoras de beleza que segui quando estava começando a fazer minha conta. Ela me ensinou que eu posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo: arte e maquiagem.

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Se você pudesse ser uma obra de arte que já existe, qual você seria?

Plexus nº27, de Gabriel Dawe. Ele é um artista que trabalha com cordas e, nessa instalação, quando a luz bate no ângulo certo, forma-se um espectro. Algo como um arco-íris. É lindo! Acho que eu seria essa.

O que beleza significa para você?

Para mim, é uma coisa que muda diariamente. Beleza é subjetivo: pode ser qualquer coisa que faz você se sentir bem – mas, acho que isso é beleza pessoal. Em um sentido mais amplo, beleza pode ser qualquer coisa, quase qualquer coisa pode ser bonita. Acho que é mais sobre um mindset do que qualquer outra coisa. Se você consegue ver beleza em qualquer situação, isso é incrível, sabe?

Quase um super-poder.

Sim! Acho que você meio que tem que ter o olho para ver a beleza.

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