Por dentro do hamman de um dos melhores spas do mundo
Experimentamos o tradicional banho árabe oferecido em grande estilo pelo Royal Mansour Marrakech, o superhotel de luxo que pertence ao rei do Marrocos. Confira os detalhes dessa experiência que renova a pele e o espírito.
Primeiro, uma confissão: faço parte de uma diminuta minoria que não curte massagem. É, existe gente assim. Não consigo relaxar, fico meio aflita para acabar logo, não sei. Dito isso, é até injusto que logo eu, na equipe da ELLE, tenha atravessado o Atlântico para conhecer um dos melhores spas do mundo, o Royal Mansour Marrakech Spa, no Marrocos. Mas a vida tem dessas coisas e a gente não pode recusar oportunidades, né?
O spa fica dentro do hotel de mesmo nome localizado na Medina de Marrakech – a parte antiga da cidade, cercada por muros de quase mil anos, onde estão as principais atrações turísticas. Destino procurado por jet-setters desde os anos 1970, Marrakech é pródiga em hotéis de luxo, como o La Mamounia e os endereços das redes Four Seasons e Mandarim Oriental. Mas o Royal Mansour tem um atrativo imbatível: ele pertence ao próprio rei do Marrocos, Maomé VI. Inaugurado em 2010, o hotel contou com cerca de 1.500 artesãos trabalhando em minuciosos mosaicos, marchetarias e detalhes de gesso esculpido, que representam o melhor das artes manuais do país.
O lobby do Royal Mansour: 1.500 artesãos trabalharam na construção do hotel. Foto: Divulgação
A construção segue a arquitetura tradicional, que privilegia a privacidade e cria ambientes com mais penumbra. O spa, entretanto, é uma exceção. O átrio central que recepciona os clientes é inundado de luz, com uma fonte decorada com flores flutuantes, circundada por arabescos esculpidos em madeira, numa interpretação contemporânea das treliças conhecidas como muxarabi.
O átrio do Royal Mansour Spa, todo trabalhado em treliças brancas de madeira esculpida. Foto: Divulgação
Os tratamentos são feitos sempre com hora marcada e, apesar de o spa abrigar dez salas de atendimento, além da academia de ginástica e de uma belíssima piscina sob uma cúpula de vidro, você pode ter a ilusão de que está sozinha lá, tamanho é o silêncio e a tranquilidade do lugar. Tudo é branco ou segue uma paleta clara e suave, o que deixa um ar meio mágico, meio celestial. A recepção delicada das atendentes também reforça essa impressão de chegada ao paraíso. Meio boquiaberta, sou apresentada a Hindi, a terapeuta responsável pelo minha introdução ao hamman.
A piscina aquecida do spa fica dentro de uma estrutura toda envidraçada. Foto: Divulgação
Conhecido no Brasil como banho turco, o hamman é tradicional em vários países árabes e tem suas particularidades em cada região. No Marrocos, ir ao hamman é uma atividade social importante. As pessoas vão às casas de banho regularmente para botar o papo em dia, relaxar e receber uma boa esfregada. E no spa do Royal Mansour a experiência é em grande estilo.
No vestiário, troco minhas roupas por calcinha, roupão e chinelos e acompanho Hindi até a sala de banho, toda de mármore, com luz suave, vapores aromáticos e barulhinho de água da fonte como trilha sonora. Tiro o roupão e deito sobre uma superfície aquecida, também de mármore. Hindi vai explicando os procedimentos a cada etapa.
Tudo começa com alguns baldes de água morna despejados sobre mim. A temperatura é bem agradável, assim como a sensação de água abundante escorrendo pelo corpo e levando a tensão embora. Em seguida, sou toda ensaboada com o beldi, o tradicional sabão negro marroquino, feito de oliva, altamente hidratante.
O ambiente do hamman, onde você se deita sobre o mármore aquecido e recebe baldes e baldes de água tirada da fonte. Foto: Divulgação
Mais alguns baldes de água para enxaguar e aí chegamos ao ponto alto do hamman: a esfoliação. Com uma luva feita de um tecido áspero, chamada de kessa, Hindi começa a me esfregar vigorosamente. Para alguém até então resistente ao toque alheio, devo dizer que fiquei bem relaxada e achei a experiência, no mínimo, reconfortante. A terapeuta é gentil, mas firme, e você se sente meio que de volta à infância, quando sua mãe resolvia dar aquela caprichada no banho. Hindi pede, eu obedeço: viro, levanto o braço, viro de novo e ela esfrega, esfrega. É inevitável ficar chocada com a quantidade de pele morta que sai nessa etapa. “Céus, como eu estava encardida”, foi o que pensei. Sem constrangimentos: todo mundo passa por isso, pode acreditar. Baldes e baldes de água despejados sobre mim levam embora as células mortas. Mas ainda não acabou: Hindi espalha sobre meu corpo um esfoliante à base de óleo de argan (uma das grandes contribuições marroquinas para a indústria da beleza) e mel. Mais uma enxurrada de água e pronto: me sinto como uma cobrinha reluzente, que acabou de trocar de pele.
Hindi me leva, então, ao ambiente ao lado, onde há uma pequena piscina (ou uma grande banheira) com água fria. Desço as escadas até a água, agacho para ficar com o corpo totalmente submerso e Hindi faz gestos para que eu mergulhe a cabeça também. Hindi pede, eu obedeço: mergulho o rosto e a sensação é revigorante. Deixo a minipiscina e parto pro abraço, ou melhor, para ser envolvida por uma toalha felpuda e, em seguida, pelo roupão macio do início. Para finalizar, Hindi borrifa água aromatizada com flores sobre mim. A nuvem me envolve com um aroma delicado, que prolonga um pouco mais a sensação de sonho dessa minha primeira experiência em um hamman marroquino.
Royal Mansour Signature Hamman: 1.440 dirhams (cerca de 685 reais) durante a semana e 1.600 dirhams (cerca de 760 reais) nos finais de semana. Duração: 75 minutos. Royal Mansour Spa, Marrakech, Marrocos.
A jornalista Patricia Oyama viajou ao Marrocos a convite do hotel Royal Mansour Marrakech.
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