Air fala à ELLE sobre os 25 anos de “Moon safari”
Dupla tocou seu influente disco de estreia na íntegra, no C6 Fest.

Uma legião de fãs saudosos se reuniu para ouvir Moon safari (1998) ao vivo, no último sábado (24.05), no C6 Fest, em São Paulo. O álbum de estreia do Air, embalado por uma sonoridade onírica, injetou novos ares na música pop na virada dos anos 90 para os 2000 e colocou o duo entre os grandes nomes da música francesa e eletrônica.
Em 2024, após o aniversário de 25 anos do disco, a dupla formada por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel, acompanhados por um baterista, deu início a uma turnê em que toca Moon safari na íntegra e na ordem das faixas do disco. Depois de passar pela Europa e América do Norte, a dupla recomeçou a tour na capital paulista e voltará à Europa e aos Estados Unidos com diversas paradas até outubro.
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Além de ouvir faixas como “Sexy boy” e “You make it easy”, de Moon safari, entre outros sucessos da dupla adicionados no bis, o público paulista assistiu a um show de belos efeitos visuais ao ar livre, no Parque do Ibirapuera, ainda que tenha sofrido uma adaptação do cenário em forma de caixa exibido na tour na Europa.
Pouco antes de subir ao palco do C6 Fest, Jean-Benoît, 55 anos, que tem uma prolífica carreira solo, conversou com a ELLE sobre o impacto do sucesso do disco em sua vida, as referências do álbum e a influência no trabalho seguinte da dupla (a trilha sonora de Virgens suicidas, 1999, de Sofia Coppola):
O show do Air no C6 Fest Foto: Divulgação
Por que as pessoas seguem gostando tanto deste álbum, 27 anos após seu lançamento. E o que o fez envelhecer tão bem?
É um mistério para mim. Acho que porque ele é muito sincero. Colocamos toda a nossa infância neste álbum. Quando o fizemos, tínhamos 27 anos e foi como um adeus à nossa juventude. Era hora de encontrar um emprego. Tive um filho, estava me tornando pai e foi um adeus à infância. Havia algo sobre ser criança, ser inocente, ter medo do futuro e voltar para uma espécie de concha emocional confortável, sabe? Acho que Moon safari tem esse componente de fazer você se sentir bem. E há algo medicinal, que pode te curar, efetivamente. É isso que sinto sobre este álbum.
“Depois de um ano, descobri que tínhamos feito muito sucesso e foi realmente assustador porque não estava preparado”
Você mencionou que tinha apenas 27 anos. Estava preparado para esse enorme sucesso? Vocês só haviam lançado alguns EPs.
Foi como um tapa na cara. Mas no começo não percebemos porque era tudo sobre promoção (do disco), sobre viajar e dar entrevistas durante uns seis meses. Então, não estávamos mais tocando. Ficamos meio que em choque. E achamos que era normal dar muitas entrevistas e viajar pelo mundo todo. Mas depois de um ano, descobri que tínhamos feito muito sucesso e foi realmente assustador porque não estava preparado. Eu me perguntava: “Por que eu? Por que agora? Sou muito jovem”. Não esperava por isso. Não sabia o que fazer. Mas também conheci meus ídolos, como alguns músicos muito famosos.
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Jean-Benoît Duncke, metade do Air Foto: Divulgação
Por exemplo?
Os caras do Massive Attack, o Fatboy Slim. Conhecemos o David Bowie, mas acho que em 2002. Me senti como um garotinho ingênuo perdido no espaço.
Você se lembra o que estavam ouvindo na época? Moon safari lembra Histoire de Melody Nelson (1971), disco de Serge Gainsbourg.
Esse álbum foi uma grande influência para nós. Costumávamos ouvir Melody Nelson no escuro porque gostamos de nos concentrar nele, há muitos detalhes. Também fomos influenciados pelo Kraftwerk, ouvíamos muito o álbum Radioactivity (1976). E também muitas trilhas sonoras, algumas românticas, outras francesas. E acho que isso nos ajudou nos arranjos orquestrais. Além disso, éramos grandes fãs do (então) novo álbum do Money Mark (tecladista dos Beastie Boys), com uma abordagem musical maluca. Era muito diverso.
Nicolas Godin, a outra metade da dupla Foto: Divulgação
Você mencionou trilhas sonoras. E logo depois de Moon safari criaram a de Virgens suicidas. O disco influenciou a trilha ou foram duas experiências diferentes?
Acho que houve uma grande influência de Moon safari. Jornalistas ingleses diziam que estávamos fazendo lounge music, easy listening, um tipo de música ingênua e agradável. E não queríamos fazer isso, mas uma música poderosa e sombria. Foi por isso que decidimos fazer uma trilha sonora bem sombria, falando sobre morte e suicídio. O fascínio pela morte foi um tema do álbum Virgens suicidas (a trilha foi lançada em disco). É por isso que há nela muitos órgãos de igreja.
“O fascínio pela morte foi um tema do álbum Virgens suicidas“
Quando vocês tocam Moon safari, tentam ser o mais fiel possível ao álbum ou há espaço para alguma atualização ou recriação?
É muito próximo do original. Mas às vezes tentamos ser ainda mais simples. O objetivo é aumentar a emoção e a sensação de tocar o álbum. Mas é muito, muito próximo da melhor versão ao vivo que poderíamos fazer.
É mais confortável tocar um álbum antigo ou um material novo?
É mais confortável tocar um álbum antigo porque já fizemos isso muitas vezes. Não é como improvisar. Já fiz alguns shows improvisando músicas novas. Nós apenas tentamos ser o mais coesos e profundos possível (no show de Moon safari) e reproduzir esse tipo de atmosfera. Buscamos a alma (do álbum), na verdade.
Podemos esperar algum material novo do Air (o último álbum da banda é de 2012) ou vocês estão mais focados em suas carreiras solo agora?
É uma boa pergunta. Não sei. Depende se conseguimos superar certas atitudes negativas. É sobre ser um anjo novamente e ser capaz de abrir nosso coração para a música. Porque ela tem que ser pura. Acho que quando você faz boa música, você se renova. Não pensa em sucesso ou em dinheiro. É sobre dar algo para o resto do mundo. Não sei se nós realmente conseguiremos fazer isso.
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