Brendan Fraser e Sadie Sink emocionam em “A baleia”

Filme sobre homem obeso que só vê a bondade e tenta se reconectar com a filha concorre a três Oscars.


Brendan Fraser caracterizado como personagem obeso de A Baleia
Fotos: Divulgação



Sadie Sink foi a primeira a ser escalada para o elenco de A baleia, filme de Darren Aronofsky que concorre a três categorias do Oscar – maquiagem e cabelo, ator (Brendan Fraser) e atriz coadjuvante (Hong Chau) – e estreia no Brasil nesta quinta-feira (23.2). “Ela é minha nova atriz favorita”, disse o diretor de Cisne negro (2010), pelo qual Natalie Portman levou a estatueta de atriz. A declaração foi feita na entrevista coletiva durante o Festival de Veneza, em setembro, onde o longa foi exibido em competição. No mesmo evento, em outra coletiva igualmente acompanhada pela ELLE, Fraser também era só elogios. “Vamos ouvir falar muito dessa mocinha”, afirmou, ao lado da própria. 

Sadie Sink em A Baleia

Sadie Sink: a Max, de Stranger things, não decepciona na telona.

Na produção baseada na peça de Samuel D. Hunter, também autor do roteiro, Sadie Sink, de 20 anos, interpreta Ellie, uma adolescente vista pela própria mãe como má. Depois de anos sem contato, ela aparece na casa do pai, Charlie (Fraser), que acredita odiar. Ele é um professor que finge ter problemas na câmera do computador porque sabe que seus alunos ficariam horrorizados com sua aparência. Charlie pesa cerca de 300 quilos e só tem contato face a face com sua amiga enfermeira, Liz (Hong Chau, de O menu, de 2022, e Watchmen, de 2019).

Ellie não deixa de colocar sua raiva para fora, acumulada durante anos de ressentimento por Charlie ter abandonado a família para viver um amor com um homem. “Eu vi essa jovem enfrentar um monstro bem aterrorizante alguns meses atrás”, disse Brendan Fraser, referindo-se a Stranger things, a série que tornou Sadie famosa, na pele da personagem Max “E pensei comigo: ‘Eu conheço bem esse olhar’”, completou o ator, voltando a falar de A baleia

Para Sadie, foi uma oportunidade e tanto. “Eu sempre fui fã do trabalho de Darren”, disse. Quando o cineasta foi conversar com a garota, no entanto, não havia nem certeza de que o projeto sairia do papel. Ela foi chamada para fazer uma simples leitura. Brendan Fraser estava lá. “E algo aconteceu”, contou a atriz. A química entre os dois era inegável. Aronofsky, que demorou dez anos para conseguir fazer o filme, finalmente tinha sua dupla principal. Durante anos, o diretor havia procurado o ator para fazer Charlie. Viu gente famosa e desconhecidos. Até que assistiu ao trailer da produção 12 horas até o amanhecer (2016), dirigido por Eric Eason e rodado no Brasil. E teve um estalo: talvez o seu Charlie fosse aquele ator, meio sumido depois do estrelato no passado, em produções como A múmia (1999). O teste com Sadie Sink só comprovou sua intuição.

Fraser precisou de ajuda de maquiagem protética, que demorava quatro horas para ser aplicada e uma para ser retirada, todos os dias, para parecer ter 300 quilos. A equipe e o ator receberam consultoria da Obesity Action Coalition para tratar a obesidade com respeito. “Nós não queríamos repetir o erro de tantos filmes de tornar pessoas obesas alvo de piadas”, disse o ator. 

Para Sadie, A baleia oferece a oportunidade de que todos se identifiquem com os personagens, por mais que sejam cheios de defeitos. “Em princípio, você pode apenas achar que Ellie é uma adolescente raivosa. Mas, na verdade, ela tem um nível de inteligência e maturidade que só Charlie enxerga”, define a atriz. 

O pai da jovem não é capaz de ver qualquer traço maligno na filha, nem em ninguém. “Eu fiz o filme por causa dessa frase: ‘As pessoas são incapazes de não se importar’”, disse Aronofsky. “É a mensagem mais importante para colocar no mundo agora, porque nós estamos nos deixando levar pelo cinismo, pela escuridão. Todos estão desistindo da esperança. E isso é exatamente o que não precisamos no momento. Temos de acreditar que, apesar de tudo, nós acreditamos uns nos outros. Precisamos nos agarrar a isso e provar uns aos outros.”

A crença de Charlie na humanidade e na bondade dos outros, e sua busca por redenção, fazem com que seja um papel cheio de emoções, que atravessam o rosto de Fraser, mesmo parcialmente coberto de maquiagem.

A história do ator é, de certa forma, parecida com a de Charlie. Depois do sucesso em comédias e filmes de ação, ele foi esquecido, fazendo produções de baixo orçamento como aquela rodada no Brasil. Mas A baleia e sua indicação ao Oscar têm toda a pinta de um retorno triunfal. Ele está também no novo filme de Martin Scorsese, Killers of the flower moon, ainda sem data de estreia. É a típica narrativa que Hollywood adora. 

Por saber dos altos e baixos da carreira, ele serviu de inspiração para Sadie Sink. “A minha jornada tem sido muito louca, mas por sorte tenho muita gente bacana à minha volta que posso admirar”, disse a atriz. Toda a experiência com A baleia nem foi tão diferente assim da que ela tem com a série de fantasia da Netflix, com festivais de cinema no lugar de convenções de fãs. “Sempre fico surpresa quando vou a uma convenção de fãs ou uma sessão oficial como aqui em Veneza. Parece meu primeiro dia, tudo de novo.”

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