Cinco fatos sobre Billie Holiday

Estados Unidos vs Billie Holiday estreia no streaming e retrata como uma das maiores vozes da música foi vítima de uma perseguição pelo governo de seu país.


image 778
Foto: Getty Images/William Gottlieb/Redferns



Em uma cena da nova cinebiografia sobre Billie Holiday, com direção de Lee Daniels (O mordomo da Casa Branca e Preciosa: uma história de esperança), a cantora é questionada sobre os motivos de o governo dos Estados Unidos persegui-la constantemente. Billie responde que não era parte de uma guerra às drogas, como poderia supor a opinião pública. O motivo era a canção “Strange fruit”, um hino contra o linchamento de afro-americanos, escrito na década de 30. Para a cantora, a música fazia o governo se lembrar de que ele era o responsável pelas mortes da população negra. Na tentativa de calar Billie, o governo precisava minar sua carreira.

O filme mostra como ela era uma espécie de fixação do agente de narcóticos do FBI, Harry Anslinger, responsável pela prisão da cantora em 1947, um dia depois dela cantar “Strange fruit” numa apresentação. Anslinger perseguiu Billie até seu leito de morte. Com a saúde totalmente debilitada por anos de consumo excessivo de álcool e o uso de heroína, ela foi algemada à cama do hospital onde estava internada.

Estados Unidos vs Billie Holiday (disponível no Prime Video) tem roteiro da dramaturga vencedora do Pulitzer Suzan-Lori Parks e foi baseado em Chasing the scream, livro sobre a guerra às drogas do jornalista Johann Hari. A cantora Andra Day – já premiada com o Grammy – foi vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz dramática e indicada ao Oscar de melhor atriz por sua atuação como Billie. Ela interpreta, de fato, as músicas do filme, tomando emprestado várias das características vocais da cantora.



Quem é: Billie Holiday nasceu Eleanora Fagan em 1915, na Filadélfia. É considerada a primeira cantora a ganhar popularidade por imprimir sentimento em interpretações de clássicos do blues, arrebatando plateias inteiras. A morte prematura aos 44 anos de cirrose, em 1959, não a impediu de se tornar uma das maiores intérpretes do jazz, além de uma das grandes vozes do século 20.

Veja a seguir cinco fatos sobre a cantora:

Abusos e prostituição: O pai de Billie, Clarence Holiday, um guitarrista de jazz, abandonou a mãe da cantora pouco após o nascimento da filha. Desde a infância, Billie teve uma vida conturbada: foi criada por parentes que não se importavam com ela e abusada sexualmente aos 10 anos. Ao chegar em Nova York, ainda adolescente, trazida pela mãe que trabalhava como doméstica, foi morar no quarto de uma casa elegante no Harlem. A mãe da futura cantora não sabia, mas a dona da casa era uma prostiuta. Logo, Billie começou a fazer uma renda extra trabalhando como garota de programa, o que acabou lhe rendendo quatro meses na prisão.



Strange fruit: Billie interpretou pela primeira vez a famosa canção, considerada um marco inicial na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, em 1939. Dois anos antes, o senado estadunidense havia analisado um projeto de lei que proibia o linchamento de afro-americanos, mas a lei não foi aprovada. “Strange fruit” foi escrita por um professor judeu de Nova York, Abel Meeropol, depois de ver uma fotografia de 1930 que mostrava o linchamento de dois rapazes negros no estado de Indiana. Na imagem, os corpos estão pendurados numa árvore, cercados por uma multidão de mulheres e homens brancos. “Strange fruit” ajudou Billie a se tornar uma estrela da música. Era o ponto alto de suas apresentações, mas ela só podia interpretar a canção em lugares considerados seguros, o que não era o caso, por exemplo, da região sul dos Estados Unidos à época. Billie cantava a letra com tamanha intensidade que era comum a plateia ir às lágrimas e permanecer em total silêncio durante a apresentação.

Decadência e glória: No auge da carreira, nos anos 40, Billie, que já consumia álcool em excesso, passou a usar drogas pesadas por influência de seus parceiros. Com o primeiro marido, Johnnie Monroe, começou a fumar ópio; com o segundo, o trompetista Joe Guy, se viciou em heroína. A cantora ainda perdeu dinheiro administrando sua própria orquestra com Joe Guy. No mesmo período, Billie ficou profundamente abalada com a morte da mãe. E após passar oito meses na prisão, em 1947, sob alegação de posse de drogas, as apresentações em clubes de jazz ficaram cada vez mais difíceis. No entanto, foi nesse período que ela gravou algumas de suas mais belas canções, como “Lover man” e “Don’t explain”.

Lady Day: foi o saxofonista Lester Young quem deu esse apelido a Billie. Ela passou a chamar o amigo de “Prez”, abreviação de presidente. Billie e Young tiveram uma amizade intensa e uma relação totalmente platônica. Ambos passaram por dores semelhantes na vida artística, como abusos racistas, e travaram uma luta parecida com vício em drogas. Billie admitia que gostava de cantar da mesma maneira como Young improvisava no saxofone, adicionando notas inesperadas, esticando e recortando sílabas e frases.

Gardênias e luvas: Billie tinha um estilo próprio e um olho para moda que ia além das gardênias usadas no cabelo, uma de suas marcas registradas. Longe dos palcos, ela gostava de casacos de pele e óculos escuros com armações cravejadas de brilho. Paolo Nieddu, que assina o figurino de Estados Unidos vs Billie Holiday, encontrou várias imagens da cantora que o deixaram intrigado, em que ela se mostrava à frente de seu tempo. Billie, por exemplo, aparece em algumas fotos sem sutiã, numa época em que lingerie era algo quase obrigatório para as mulheres. Glamourosa em suas apresentações, usava quase sempre longas luvas, que tinham também uma função: esconder as marcas de agulha nos braços, deixadas pela heroína.

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes