Quem é Olivia Rodrigo e por que a internet está obcecada por ela

"Nunca vimos nada parecido com esses números", é o que dizem os profissionais do Spotify. Com o seu single de estreia, "Drivers License", a artista de 17 anos também alcançou o topo da Billboard Hot 100. Mas, afinal, quem é ela?


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Se você acessou a internet nos últimos dias, provavelmente ouviu falar de Olivia Rodrigo, e se você for um millennial ou fizer parte de uma das gerações anteriores, deve ter se perguntado quem seria ela. A atriz e cantora de 17 anos já estava no radar da Geração Z, mas foi só na última semana que Olivia estourou a bolha geracional e virou notícia pelo mundo todo após ter lançado o seu single de estreia, “Drivers License”, e ter batido recordes nas plataformas digitais, se tornando dona da música mais ouvida em 24 horas no Spotify e alcançando o topo da Billboard Hot 100.

O marco ganhou as manchetes e os veículos não pouparam atenção para o fato de que Olivia, logo em seu primeiro lançamento, já estava desbancando nomes consolidados, como Ariana Grande, Justin Bieber e SZA, antigos donos do recorde relacionado ao Spotify. Porém, entre os muitos comentários elogiosos escritos pelos fãs da nova artista ao redor da internet, havia também inúmeros questionamentos. “De onde ela surgiu?”, “Quem é essa?” e “Só eu que não a conheço?” eram alguns deles. E, se esse for o seu caso, te dizemos que não, você não é o único, mas, se depender dos esforços da indústria musical, irá ouvir falar da jovem cada vez mais.

Ok, mas afinal quem é Olivia Rodrigo?

A sua história começa assim como as das estrelas pop dos anos 2000. A estadunidense com ascendência filipina começou a atuar ainda criança, mas foi aos 13 anos que, de fato, passou a fazer grandes trabalhos. Após participar de um filme infantil, Olivia chamou atenção da Disney que, em 2015, a contratou como integrante fixa de seu elenco. Como uma aposta do canal, um ano depois, já tinha sido escalada para o papel de protagonista da série Bizaardvark Shorts, funcionando como uma apresentação da artista para o público.

O sitcom deu certo e foi renovado até 2019, o mesmo ano em que Olivia estrelou, também como protagonista, em High School Musical: A série, produção feita para o Disney+ revivendo a trilogia responsável por marcar toda uma geração. E foi justo nesse momento que a atriz e cantora conquistou os GenZs e passou a construir uma base de fãs engajada e superativa. Com o aval da Disney, pode-se pensar que o seu sucesso já estaria garantido, mas a verdade é que, nos últimos anos, a fábrica de novos talentos pareceu ter dado uma desacelerada, como explicamos abaixo.

Um pouco de contexto sobre a escola Disney

Lá nos anos 1990, o canal apresentou ao mundo Britney Spears, Justin Timberlake e Christina Aguilera. Na década seguinte, foi a vez de Selena Gomez, Miley Cyrus e Demi Lovato. Já nos anos 2010, não temos tantas referências musicais saídas da Disney ou, para sermos sinceros, não temos nenhuma. Zendaya até poderia ter se tornado uma delas, mas a jovem escolheu deixar a música de lado para focar apenas nas artes cênicas, e hoje, com o seu enorme sucesso em Euphoria, muitos nem mesmo sabem que ela já teve uma passagem pela Disney.

A verdade é que a fabricação de uma personalidade moldada por olhares quadrados e toda a pressão envolvida nisso ー o que, inclusive, gerou depois inúmeros problemas psicológicos para vários dos Ex-Disneys ー já não parece mais tão interessante para a nova geração. E mesmo entre as tentativas de estreias constantes na programação do canal, com a consolidação das mídias sociais e com os novos movimentos se emergindo, o processo pelo qual o público se conecta com um artista mudou e nunca esteve mais pulverizado.

Agora, sem depender de gravadoras ou grandes orçamentos, um cantor pode ser notado entre as paredes do seu quarto com um simples vídeo publicado na internet, como foi o caso de Conan Gray. Graças à sua comunidade engajada de fãs, o Gen-Z conquistou a atenção da indústria musical e passou a lançar as suas canções originais. Ainda nesta safra capaz de conectar-se com a nova geração, há o fenômeno Billie Eilish. Sendo o oposto da imagem da figura pop feminina dominante por tantos anos, a californiana desafia as normas de gênero e canta sobre os complexos reais de uma juventude, gerando uma identificação como poucas vezes vista.

A quebra de fronteiras é um outro fator importante nessa equação. O K-Pop se tornou o gênero musical favorito entre a Geração Z, promovendo uma potência cultural e rompendo as barreiras criadas pela indústria ocidental, especialmente, pela estadunidense. Blackpink e BTS são exemplos de grupos coreanos que passaram a disputar a atenção global no cenário do entretenimento e, mesmo sofrendo com a xenofobia, se fazem presentes com a força de um fandom impressionante.

É entre a complexidade dessa nova cena musical que Olivia Rodrigo conseguiu emplacar o seu single de estreia, mesmo depois de alguns anos sem grandes nomes saídos da Disney. O sucesso, claro, é resultado de uma soma de diferentes fatores, mas, prestes a completar 18 anos, a jovem já nasceu diante do dinamismo digital e parece à vontade para se comunicar com honestidade com o seu público, estimulando desafios no TikTok, construindo uma conexão próxima com os seus fãs e se mostrando real, sem esconder as suas vulnerabilidades.

Oi, vulnerabilidades

Essas tais vulnerabilidades, aliás, são essenciais para o sucesso do seu primeiro single. Com uma letra extremamente íntima, “Drivers License” é como uma ode ao fim de um relacionamento ou, mais especificamente, à uma garota que acaba de tirar a sua carteira de motorista e está dirigindo pelos subúrbios entre lágrimas porque o seu namorado a traiu. “Quando eu pensei nessa canção, eu estava passando por uma decepção muito confusa para mim. Colocar todos os meus sentimentos ali fez parecer tudo mais simples e claro”, contou Olivia em um comunicado divulgado à imprensa.

Entretanto, a garota, que criou o hábito de compor quase diariamente ao longo da quarentena, deixou essa música guardada na gaveta. “Eu estava com tanto medo de lançá-la. São as minhas mais profundas inseguranças listadas ao longo de quatro minutos”, revelou em entrevista à Billboard. Quem a fez mudar de ideia foi Sam Riback, um dos líderes da Interscope Geffen, gravadora responsável por Olivia, ao aconselhá-la que a letra mais íntima deveria ser a escolhida para a sua estreia.

E deu certo. Em apenas duas semanas, “Drivers License” fez a cantora liderar a concorrida Hot 100 da Billboard, passando assim a dividir com Billie Eilish o título de artista mais jovem a alcançar o feito. “Tem sido os dias mais estranhos. A minha vida inteira mudou esta semana mas, ao mesmo tempo, tudo é exatamente igual”, falou Olivia, seis dias após o lançamento do single.

Nicole Bilzerian, vice-presidente da Geffen, conta que começou a sentir “Drivers License” como algo maior cerca de uma hora após o lançamento do clipe. “Descobrimos que a camiseta usada por Olivia no vídeo estava esgotada. Trinta minutos depois, o moletom também. Sempre queremos que os fãs fiquem animados, mas uma vez que você os vê realmente comprando o artista, isso vai além. Foi quando comecei a perceber: ‘nós temos algo'”, disse em entrevista à Billboard.

Becky Bass, líder do Global Hits do Spotify, concordou e ainda foi além: “Nunca vimos nada parecido com esses números. No primeiro dia, eu e a minha equipe pensamos ‘uau, esses streams estão enormes’ e aí no segundo dia já estavam maiores, no terceiro também. É um caso sem precedentes”. O executivo aproveitou a entrevista para a Billboard para também fazer uma análise da atual cena: “A gente tem músicas como Dynamite, do BTS, e 7 Rings, da Ariana Grande, que saem com grandes números logo no primeiro dia. Temos também artistas mais recentes como Tones and I com “Dance Monkey” e Lil Nas X com “Old Town Road”, que demoraram um pouco mais para crescer e chegar ao topo das paradas. Porém, não há nenhuma comparação direta com o que aconteceu com a Olivia”.

Apesar de todos os elogios e recordes quebrados, ao que tudo indica, o mais legal para a jovem é ter o selo de aprovação de uma pessoa: Taylor Swift. Por aí, “Drivers License” tem sido sempre definida como um encontro entre Taylor e Lorde. A comparação faz sentido, ainda mais quando se sabe que Olivia tem, declaradamente, elas como as suas principais referências. A primeira, aliás, comprou a brincadeira de Olivia, que a chama de mãe nas mídias sociais, e comentou em um de seus posts no Instagram: “É o meu bebê, estou muito orgulhosa”.

Aclamada pela crítica e público, Olivia Rodrigo promete ser uma das grandes revelações de 2021. A cantora já anunciou que, em breve, lançará um EP e espera até o final do ano apresentar também um álbum. Por enquanto, “Drivers License” deve seguir quebrando recordes e, convenhamos, em meio ao caos atual, merecemos a permissão para recuar, por pelo menos alguns minutos, e escutar um bom drama adolescente de quem também entende a pequenez de seu mundo.

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