Dior, cruise 2026
Em Roma, sua cidade natal, Maria Grazia Chiuri combina as coleções da Dior de cruise 2026 e inverno 2025 de alta-costura em desfile cinematográfico.

Antes do desfile de cruise 2026 da Dior, em Roma, a diretora de criação Maria Grazia Chiuri recebeu convidados no Teatro della Cometa. Uma espécie de projeto pessoal, o espaço foi restaurado com investimentos da própria estilista e de sua família. Algo não muito diferente do que fez a patrona original do local – e das artes em geral –, a condessa Anna Laetitia Pecci-Blunt (conhecida como Mimi), em 1958.
Horas depois, o evento oficial aconteceu no jardim da Villa Albani Torlonia, um palácio do século 18 e casa da maior coleção privada de esculturas gregas e romanas antigas, a Torlonia. O dress code era preto e branco. No caso, preto para os homens e branco para as mulheres. A inspiração veio do Bal Blanc, em 1930, uma das muitas festas de Mimi Pecci-Blunt, esta com registros fotográficos de Man Ray.
Dior, cruise 2026. Foto: Getty Images
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A coleção segue a mesma cartela de cores, com toques pontuais de dourado e vermelho. Ela parte das abordagens do inverno 2025 sobre a evolução da vestimenta e da história da moda. Se na apresentação de março, na semana de moda de Paris, a narrativa seguia uma lógica cronológica, na de agora é diferente. Se lá havia um aspecto fantasioso, aqui o resultado é mais real. Na verdade, é um pouco dos dois, tudo misturado. Inclusive prêt-à-porter com haute couture. O desfile combinou itens do cruise 2026 e do inverno 2025 de alta-costura.
Do guarda-roupa masculino, fraques e coletes são sobrepostos a saias longas ou incorporados à construção limpa de uma única peça. Jaquetas militares dividem espaço com blusas e capas com referências a roupas clericais. Plissados e drapeados remetem aos trajes da antiguidade enquanto o veludo, aos looks de Anita Ekberg em La dolce vita (1960). Os vestidos são de rendas delicadas, texturizados ou bordados. Eles lembram criações emblemáticas de Maria Grazia, como aqueles soltos e transparentes sobre lingerie (arrematados por venda nos olhos), ou clássicos da marca, como o modelo Junon, de 1949, com suas camadas em forma de pétalas.
Dior, cruise 2026. Foto: Getty Images

Dior, cruise 2026. Foto: Getty Images

Dior, cruise 2026. Foto: Getty Images
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Quem tentou assistir ao desfile online, viu apenas um filme do diretor Matteo Garrone – é sua terceira colaboração com Chiuri. Embalado pela colisão de temporalidades de Fantasmas em Roma (1961), de Antonio Pietrangeli, o curta explora como lembranças de séculos passados coexistem com elementos do presente. No vídeo, novas criações atuais dividem espaço com interpretações de figurinos de clássicos italianos, como O leopardo (1963), de Luchino Visconti. A produção é da casa Tirelli, a mesma companhia responsável pelas versões originais, em parceria com os ateliês de alta-costura da Dior.
A confusão entre realidade e fantasia, racional e irracional é uma característica central do neorrealismo, movimento cinematográfico que tem Federico Fellini e Pier Paolo Pasolini como principais expoentes. Apesar da inicial crueza dos contextos, cenários e situações, poesia e alegoria fantásticas se tornaram recursos marcantes. Desde que chegou à Dior, em 2016, Maria Grazia trabalha entre tensões de opostos similares. Não por acaso, se equilibra melhor na alta-costura e nas meia-estações (cruise e pre-fall). São momentos em que as frentes técnicas e conceituais têm demandas igualmente importantes e atuantes.
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