LFW: Burberry, inverno 2025

Encerrando a semana de moda de Londres, Daniel Lee apresenta sua melhor coleção como diretor criativo da Burberry.


Burberry, inverno 2025
Burberry, inverno 2025. Foto: Getty Images



O que todo mundo queria saber sobre o desfile de inverno 2025 da Burberry é se seria o último de Daniel Lee na direção criativa da marca. É um boato que corre à boca miúda já faz algum tempo e foi retomado na semana passada. Até a publicação deste texto, nada oficial foi comunicado. Mas se os rumores se confirmarem, seria uma pena – ainda que não uma surpresa.

Primeiro, vamos à coleção: nesta temporada, Daniel se inspirou no interior das grandes casas de campo inglesas. Mas grandes mesmo. Se você assistiu a The Crown, Assassinato em Gosford Park, Bridgerton e Downton Abbey, sabe do que estamos falando. Aliás, alguns atores dessas produções estavam no casting, como Richard E. Grant (Gosford Park), Elizabeth McGovern (Downton Abbey), Jessica Madsen (Bridgerton) e Lesley Manville (The Crown).

Durante sua pesquisa, o estilista ficou impressionado com a qualidade do trabalho manual e dos materiais de estofados, papéis de parede e tapeçaria. O exercício, então, foi interpretar os elementos dos interiores dessas casas a partir de códigos contemporâneos do vestir e combiná-los com tecidos resistentes usados peças para atividades ao ar livre.

Burberry, inverno 2025

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As calças de montaria são combinadas à tradicional alfaiataria de Savile Row. Detalhes artesanais em damasco de chine desfiado dão um toque excêntrico e romântico a trench-coats. O shearling aparece em patchwork ou com jacquards inspirados em tapetes. As capas, agora, são de tricô – um misto de manta com detalhes de trench. Tecidos com estampa de faisão são cortados de maneira intrincada para criar acabamentos que imitam penas. E a renda é feita com bordados de miçanga.

A ideia é um mix de referências domésticas, familiares e tradicionais, com funcionalidade, inovação e espírito desbravador. Os acessórios resumem e representam bem essa história, principalmente os sapatos.

Nossa diretora, a Susana Barbosa, estava lá e confirmou as impressões que vi tudo por vídeo (a minha, pelo menos). Segundo ela, o comentário geral era de que essa foi a melhor coleção de Daniel Lee para a Burberry. Ela destaca a riqueza dos materiais, como os couros dos trench-coats e dos casacos de silhuetas ampliadas e os brocados de veludo de alguns ternos e smokings.

Burberry, inverno 2025

Burberry, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Burberry, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Burberry, inverno 2025. Foto: Getty Images

Ela também ressalta o equilíbrio entre o apelo das roupas e dos acessórios, que são o ponto forte do estilista. E isso é importante para entender a boataria sobre a possível saída de Daniel.

Quando ele assumiu a direção criativa da Burberry, em 2022, a principal estratégia era elevar a percepção e o posicionamento com produtos mais sofisticados e distantes de elementos facilmente associados à marca, como o xadrez e o trench. Não deu muito certo.

A imagem se afastou demais do que as pessoas esperam ou buscam da Burberry. Os preços também subiram muito, colocando a casa em competição direta com outras marcas mais estabelecidas em certos nichos de mercado.

Burberry, inverno 2025

Burberry, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Burberry, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Burberry, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Só que essa estratégia não foi traçada só por Daniel. Ela fazia parte de todo um planejamento desenhado e avalizado pelo, então, CEO Jonathan Akeroyd, que deixou o posto na metade do ano passado. Ele foi substituído por Josh Schulman. O atual executivo chefe está reforçando o lado comercial com propostas focadas em aspectos pelos quais a etiqueta é reconhecida.

Em outras palavras, rolou um ajuste de rota. O inverno 2025 é a segunda coleção de Daniel desde então. E, pelo que parece, as coisas estão se encaixando. No desfile de hoje, foi possível identificar a silhueta meio relaxada, meio controlada, que ele introduziu desde sua estreia, os experimentos elaborados com texturas e superfícies têxteis, e uma conexão menos óbvia com expressões culturais britânicas. Tudo isso sem deixar de fora a camisa xadrez, a bolsa-desejo, o trench-coat clássico e outros produtos que não custarão fortunas ao chegarem às lojas.

Correções de trajeto levam tempo para se concretizarem na moda. Mas não são impossíveis. É só questão de ajustar os relógios. Aquela coisa: timing é tudo, sabe?

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