LFW: Simone Rocha, inverno 2025

Simone Rocha costura o antagônico: leve e pesado, delicado e agressivo, romântico e militar, e por aí vai. Na coleção de inverno 2025, apresentada neste domingo (23.02), durante a semana de moda de Londres, pode-se dizer que os elementos da vez foram infância e maturidade.

Simone Rocha, inverno 2025. Foto: Getty Images

Leia mais: O verão 2025 de Simone Rocha.

A música que toca ao final do desfile, quando todos os modelos entram na passarela, é praticamente um resumo do que se viu antes. A canção é “Past, present and future” (1966), “passado, presente e futuro”, do grupo Shangri-las.

Na letra, uma garota diz que o passado é cheio de alegrias silenciosas e alguns brinquedos quebrados. Ela dá a entender, a uma pessoa que a convida a dançar, de que está aberta ao convite no agora, só que está marcada por um trauma que viveu em uma paixão passada. Sobre o futuro, finaliza: ele é indefinido, porém tem a certeza de que nunca mais vai deixar que aquele amor antigo toque nela outra vez.

Simone Rocha, inverno 2025. Foto: Getty Images

Leia mais: Simone Rocha e Crocs lançam segunda collab.

A música é realmente intensa, até um pouco dolorosa, mas ajuda a pensar em como o nosso ontem molda o nosso hoje e, consequentemente, o amanhã. O casting também se conecta com isso e tem pessoas de várias idades – algumas delas famosas, como as atrizes Bel Powley e Fiona Shaw e a apresentadora Alexa Chung.

Nas roupas, a ideia do tempo é representada por peças de épocas distintas vestidas juntas. O destaque vai para a pesquisa sobre o universo infantil. De lá, saem vestidos curtinhos usados com calcinha da mesma estampa, bem roupa de bebê dos anos 1960. Do uniforme escolar, vem o suéter, a capa de chuva e as meias bordadas com cristais. Há ainda conjunto à la soldadinho, em cores verde-oliva e vermelho, e alguns looks de estilo princesa, com detalhes de fitas, laços e frufrus.

Simone Rocha, inverno 2025. Foto: Getty Images

Leia mais: Alta-costura de verão 2024 da Jean Paul Gaultier por Simone Rocha.

Os modelos agarram bichos de estimação, como uma tartaruga apertada contra o peito e um coelho de pêlo fake, que vira um cachecol no pescoço ou uma estola arrastada como cobertor. Os contrapontos, típicos de Simone Rocha, estão presentes na paleta de cor com azul celeste e preto total e nas jaquetas de motoqueiro ao lado de vestidos camisola leves e transparentes.

As estampas florais, que lembram um papel de parede, os casacos agigantados, como uma roupa que foi emprestada dos pais, e a presença de texturas felpudas, que remetem ao conforto, formam um conjunto de memórias.

Um ponto-chave, literalmente, é o uso de correntes com cadeados nas cinturas, contendo o volume do tecido nos vestidos e nas saias. Ao lado de cintos e harness, uma interpretação possível que fica é a de que estamos inevitavelmente vinculados ao passado. Carregamos a nossa criança para sempre, com seus encantos e suas dores.