Conheça os destaques da Nomad Capri
Brasileiros marcam presença na edição de verão do evento, que mistura arte, arquitetura e design na badalada ilha italiana.
O cenário não poderia ser mais inspirador. A edição de verão da Nomad Capri volta mais uma vez ao monastério de Certosa di San Giacomo, a construção mais antiga da ilha, erguida em 1371, às margens do mar Mediterrâneo, em meio a jardins e vistas espetaculares.
Como diz o nome, a Nomad é uma mostra itinerante. Idealizada por Giorgio Pace e Nicolas Bellavance-Lecompte, reúne apresentações especiais e peças de arte contemporânea e design colecionável sob a curadoria primorosa dos organizadores e de galerias internacionais em alta no momento. A cereja do bolo fica por conta das locações, que por si só já valem a viagem.
Vista do mosteiro em Capri, que sedia a Nomad de verão. Foto: P. Sorgetti M.Parodi F. Floriani
A versão de inverno acontece em St. Moritz, na Suíça (a última em fevereiro passado), mas a feira já passou, em outras estações, por lugares como Veneza, Mônaco, arredores de Cannes, entre outros destinos charmosos, somando dez shows desde 2017.
Entre os destaques desta temporada, que vai de 6 a 9 de julho, está o terceiro capítulo de Artists in Flux, um projeto promovido pela Gucci – os dois primeiros aconteceram em St. Moritz e em Milão, durante o Salão do móvel. Desta vez, a grife de moda italiana apoia três nomes em ascensão.
Cedric Mizero, de Ruanda, apresenta The Package of Thoughts, uma instalação multimídia e imersiva, em que o público pode entrar em contato com bolas vibrantes, cada uma delas simbolizando diferentes memórias e emoções. Uma forma de questionar o poder transformador das lembranças. O artista apresenta ainda outros trabalhos, como Uber Luxe Safaris & Africa Privé e Ikibibi (ou marca de nascença), em que celebra a ancestralidade e as ligações entre passado e presente.
Obra Uber Luxe Safaris & Africa Privé, de Cedric Mizero. Foto: Divulgação
Detalhe da obra Ikibibi, de Cedric Mizero. Foto: Divulgação
Misha Kahn traz a Double Shuck Pea, uma divertida poltrona, repleta de curvas azuis, verdes, amarelas e formas brancas, com toques surrealistas e biomórficos. Com um trabalho bastante inusitado, o designer americano se tornou conhecido por usar todo tipo de técnica e de material em suas obras, de vidro à cerâmica, de tecido à madeira, passando por metal, resina e cimento. Um bom exemplo é seu segundo trabalho em exposição, Spaghettification, um enorme tapete dupla face de mohair criado por ele e executado pela Tapeçaria Stephens, baseada em Joanesburgo e Suazilândia, com restos de tecidos, tingimento manual e técnicas tradicionais.
Poltrona de Misha Kahn. Foto: Divulgação
Tapete de mohair Spaghettification, de Misha Kahn. Foto: Divulgação
Já o egípcio Tarek Shamma tem no currículo o fato de ter trabalhado sob a batuta de arquitetos de peso, como Zaha Hadid e David Chipperfield (o Pritzker de 2023), além de contabilizar passagens pelo mundo da moda (ele assinou lojas de Louboutin em Madri). Em Capri, mostra as mesas MinaMina, que misturam mármore travertino, cerâmica, alabastro e vime. Feitas à mão por ele mesmo, no Cairo, as peças fazem referência à cultura local e prestam homenagem à ancestralidade – Mina é o nome de um rei do antigo Egito e também de seu avô. A proposta é explorar diferentes linguagens, culturas e narrativas, sempre com foco no artesanal e na beleza dos materiais.
Mesas feitas à mão por Tarek Shamma. Foto: Divulgação
Brasil na Nomad Capri
O joalheiro Fernando Jorge e a arquiteta e designer Juliana Vasconcellos carregam o espírito brasileiro para a mostra. Sob o título From the Source, celebram os materiais naturais, com certificação de origem, a preocupação com a sustentabilidade e a elegância descontraída nacional, que atrai tanto os olhares estrangeiros.
Fernando leva uma série de brincos, colares e pulseiras, inéditos na Itália, em que a estrela é a água marinha leitosa. “Essa pedra é de um verde acinzentado, azulado, que tem tudo a ver com as cores da ilha e com o verão”, conta Fernando, que já tinha estado na Nomad St. Moritz.
Peça de Fernando Jorge, com água-marinha leitosa. Foto: Divulgação
Ele e Juliana têm em comum Londres, onde o joalheiro está baseado (formou-se na Central Saint Martins) e onde a arquiteta vive parte do ano. Contatos e projetos comuns acabaram aproximando os dois, que já haviam criado um tecido para a Coven.
A trama de jacquard, usada em algumas peças de Juliana Vasconcellos, foi inspirada nas montanhas de Minas Gerais. Foto: Divulgação
Aliás, a trama de jacquard, inspirada nas montanhas de Minas Gerais, terra natal de Juliana, é usada como detalhe em alguns dos móveis em madeira certificada que Juliana incluiu com exclusividade na exposição. Outros têm juta no acabamento, caso dos banquinhos triplos com o assento recoberto pela fibra. Uma combinação tão elegante quanto surpreendente.
Juta e madeira: mistura em harmonia no banco de Juliana Vasconcellos. Foto: Divulgação
“São peças que trazem uma estética de simplicidade, do estar no campo, no mar. Têm uma ideia de terra, de natureza, que trago muito nos meus projetos. Como venho de Minas, um lugar de muita montanha, muita água, gosto de colocar isso em minhas peças”, diz Juliana, que destaca ainda a importância de preservar o feito à mão, o artesanal, e a responsabilidade com a origem dos materiais. “Isso é um ponto que não se pode deixar de lado. É uma questão de consciência social”, afirma.
As joias de Fernando, por exemplo, são feitas com ouro SMO (Single Mine Origin), uma certificação que identifica e torna auditável toda a cadeia de produção de cada grama de ouro utilizada.
High-tech também tem lugar
Outros trabalhos que merecem um olhar atento nesta Nomad Capri são os assinados pelo estúdio italiano Altreforme, com a coleção de produtos colecionáveis Blu di Prussia. A marca, que foi criada em 2008, como um braço do grupo Fontana, uma indústria da década de 1950 que produz os corpos em alumínio para carros de luxo, como Ferrari e Rolls Royce, tem suas criações fortemente influenciadas pela estética do design automotivo.
Na instalação que fizeram para a Nomad, Doriana e Massimiliano Fuks usaram os fluidos empregados para marcar os carros na linha de montagem, durante os testes de qualidade, como ponto de partida. Uma mistura entre arte e alta tecnologia.
Detalhe da instalação da Altreforme. Foto: Divulgação
Outro participante forte é a Nilufar, de Nina Yashar. Baseada em Milão, a galeria é reconhecida pela seleção de design contemporâneo e a aposta em novos talentos. Na Nomad, marca presença com uma instalação com itens assinados por Christian Pellizzari rodeados por criações de outros designers e artistas escolhidos a dedo por Nina. A natureza e os elementos orgânicos são o ponto de convergência, fazendo um diálogo interessante também com o cenário delicioso ao redor.
Peças luminosas da galeria Nilufar, de Milão. Foto: Divulgação
Programas não faltam. A organização ainda oferece talks, encontros com os expositores, concertos de música, tours por ruínas romanas, visitas a vilas históricas e passeios de barco, tudo embalado pelo dolce far niente italiano.
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