As novas donas do pedaço

Elas escutam, elas respondem, elas resolvem: cada vez mais populares e evoluídas – o que inclui saber se defender de assédio –, as assistentes virtuais já são indispensáveis para muita gente. E vêm com tudo para tomar conta da sua vida também.

 

“Hey, Google! Por favor, me acorde às 7h tocando a música
Shallow“. Ok, despertador programado, e exatamente no horário pedido, ao som dos agudos de Lady Gaga, começam os dias da empresária Daniela Graicar, de 42 anos. Esse foi um dos primeiros comandos dados à Nest Mini, caixinha arredondada de tecnologia americana, que entrou na vida da empreendedora e de sua família há quase um ano. Dia após dia, a assistente virtual mostra novas habilidades (ou no jargão, skills) e assume mais tarefas. “A Google”, como chamam o dispositivo por causa da voz feminina, agora se responsabiliza por despertar os cinco moradores do apartamento no Jardim Paulistano, em São Paulo, informar as notícias ao casal, ajudar os três filhos nas lições de casa, abrir e trancar todas as portas, assumir o papel dos controles remotos das televisões, além de contar piadas e histórias para dormir. Nos saudosos tempos do expediente no escritório, Daniela monitorava a rotina dos meninos no celular, pedindo para mostrá-los nas câmeras de seu imóvel. Até o fim do ano, os Graicar planejam adaptar outros itens da residência, permitindo que o dispositivo ajuste automaticamente as luzes, o ar-condicionado e as persianas. “Ela se tornou uma espécie de mascote, de tão presente em nossas vidas. Agradecemos, pedimos ‘por favor’, até por carinho e respeito. Em julho, durante nossas férias em Camburi, sentimos muita saudade da Google. Perdemos o costume até de usar o controle remoto. Para nós, viver sem essa tecnologia é como voltar à era dos Flintstones“, descreve a empresária.

Apego semelhante sente a historiadora Maria Helena Alves, de 26 anos. Em junho, comprou um Echo Dot, caixinha de som que “incorpora” Alexa, a assistente virtual da Amazon, tecnologia que fica hospedada na nuvem. Fez o investimento de cerca de 350 reais pensando nos pais idosos e na avó, que perdeu a visão por causa do diabetes. “Foi uma das melhores aplicações que fiz: agora ninguém precisa mais caçar o celular para fazer uma ligação. Se alguém cair ou em caso de acidentes, basta dizer ‘Alexa, ligue para a Helena’. Sem contar que passamos a ouvir mais música em casa. Precisa ver a felicidade da minha avó quando Alexa tocou Celly Campello”, conta a historiadora.

Interruptores, fechaduras, controles remotos e até telefones celulares passaram a se tornar obsoletos na vida de alguns brasileiros desde o ano passado, quando a Alexa e o Google Nest Mini aprenderam português e estrearam no país. “Por mês, cerca de 500 milhões de pessoas acionam o Google Assistente no mundo. O Brasil representa o terceiro maior mercado nesse segmento”, revela Walquiria Saad, líder de marketing e parcerias do Google Assistente no Brasil.

Já há mais smartphones do que pessoas no país hoje em dia. Somos cerca de 212 milhões de habitantes, donos de 234 milhões de celulares (todos ativos, ressalte-se), de acordo com relatório da 31ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, divulgada em junho pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).

Os Androids representam mais de 90% do número de celulares. Como possuem instalados o Google Assistente desde 2012, a pessoa pode nem saber, mas já pode falar “Ok, Google” para o aparelho e logo ter respostas sobre as oscilações do tempo, as notícias do dia, aprender a fazer pão, ligar para a casa da mãe etc. Nos iPhones, essas mesmas tarefas podem ser exercidas pela Siri e, nos gadgets da Samsung, pela Bixby. Quem possui aparelhos da Microsoft bate esse papo com a Cortana.

Hoje em dia, dificilmente você encontrará alguém que ache estranho conversar com aparelhos: 69% dos brasileiros têm o hábito de controlar o celular por voz. De acordo com dados do Google, as pessoas procuram o assistente por três razões: responder a perguntas, realizar tarefas e (pasmem) conversar. Por causa dessa demanda, executivos do Google e da Amazon informam que seus principais investimentos ocorrem para a evolução constante dessa tecnologia, tornando-a cada vez mais interativa e inteligente, capaz de perceber intuitivamente os contextos, a localização e até as emoções dos usuários.

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@viamagalhães