Chegou a vez dos infludancers

Conheça sete dançarinos que despontaram nas redes sociais e têm deixado nossas timelines muito mais animadas.

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As redes sociais mudaram por completo a nossa percepção sobre o ser humano. Mudaram como enxergamos a nós mesmos e os outros. Foi através delas que acompanhamos a evolução e o crescimento da figura do influenciador digital. E olha que já passamos por várias fases: do look do dia, dos instafoodies, das musas fitness, das divas da beleza, das gurus tech, e por aí vai. Cada nova categoria vinha acompanhada de um novo app ou da atualização e do aperfeiçoamento de algum já existentes. E, com isso, mais e mais pessoas relativamente comuns se tornaram verdadeiras celebridades, conforme seus conteúdos viralizam.

Exemplo mais recente é o TikTok, app criado pela empresa chinesa ByteDance, que superou dois bilhões de downloads em todo o mundo em abril, ultrapassando o Facebook, o Instagram e até o WhatsApp, segundo dados do Sensor Tower. Com conteúdo composto de vídeos curtos, com edição frenética e quase sempre acompanhados de trilha sonora, se tornou plataforma para dançarinos — profissionais ou não.

Para entender um pouco mais desse fenômeno, conversamos com alguns dos principais nomes da cena e das telas sobre suas histórias de sucesso na webdança. Confira:

Oumi Janta

Era meados de junho, e muitos de nós ainda estávamos no auge da quarentena, quando Oumi apareceu em nossos telefones com seu conjuntinho esportivo amarelo, patinando num dia de sol em Berlim. Não demorou muito para o vídeo atingir status viral – até o fechamento desta matéria eram 2,5 milhões de visualizações só naquele post – e despertar um mix de inveja e curiosidade em todos nós. Afinal, quem não queria estar com um par de patins vintage rodopiando debaixo do sol?

Aquele vídeo fez seu número de seguidores saltar de 60 para 831 mil. Hoje, a berlinense de origem senegalesa já pode ser considerada uma celebridade global, com direito a shootings, entrevistas e campanhas publicitárias parrudas, para a Adidas e uma marca de automobilística. Antes disso, porém, ela já era uma profissional conhecida na área.

“Tudo começou há 6 anos, quando fui a uma noite de rollerdisco com um amigo”, conta Oumi em entrevista à ELLE Brasil. “Dali em diante não consegui mais parar, fiz aulas por um ano, mas tive que interromper por conta da faculdade e, desde então, aprendi muita coisa sozinha e também aprendi com os colegas de profissão”, explica ela, que há quatro anos comanda os cursos de patins da Jamskate Club. “Na época, eu tinha um emprego fixo em outra área e não conseguia dar conta de tudo, então me demiti e passei a me dedicar exclusivamente aos patins.”

Os treinos de Janta não são diários, mas durante o verão ela chega a patinar do dia à noite, sem parar. “Mais do que treinar, gosto de encontrar outras pessoas da comunidade para dançar e me divertir”, diz. Para ela, as redes sociais são uma fonte de inspiração e aprendizado. “Absorvo muita informação, especialmente quando assisto a vídeos de patinadoras do Reino Unido. Uso esses materiais para melhorar minha prática.” Sua investida mais recente? “Estou trabalhando para dominar meus giros porque, na verdade, é o que mais odeio fazer.”

Os 22 do Passinho

Quem não está muito familiarizado com os termos cariocas achará que estamos falando de várias pessoas, quando, na verdade, se trata de um trio. “22 no Rio significa uma pessoa maluca, ou seja, somos os loucos do passinho”, explica Faiska (Jeferson Alves Santos). Ao lado dos seus irmãos Fumassa (Wellington Alves Santos) e Gegê (Gelson Mendonça), ele fundou o grupo de dança em São Gonçalo, em 2016, logo após um vídeo postado no YouTube viralizar nas redes. “Era uma coisa simples, eu e Fumassa dançando em casa, mas que teve uma repercussão muito boa. Gostamos da ideia, chamamos o Gegê para participar e saímos pela rua fazendo mais vídeos.”

Uma dessas publicações chamou a atenção de Nego do Borel, que os convidou para participar do clipe de “Me Solta”, produzido por Kondzilla, em 2018, outro hit da internet. Desde então, o trio não saiu mais dos holofotes. “Todos os nossos vídeos sempre nos ajudaram demais, não só dançando, mas também motivando e inspirando outros jovens, mostrando que existem outros caminhos possíveis na comunidade, e não só tráfico e perdição”, diz. “Nossa função é mostrar o outro lado da moeda, a coroa, onde há talentos, sonhos, prosperidade e realizações.”

Inspirados pelo Dream Team do Passinho, os meninos começaram a dançar cedo, incentivados pelas mães que os colocavam para participar de duelos de passinho nas festas da comunidade. “Nunca fizemos nenhum tipo de aula ou curso, somos autodidatas. A gente via, gostava e fazia do nosso jeito”, conta Faiska. Quando perceberam um engajamento cada vez maior das pessoas ao redor, a brincadeira virou coisa séria, e eles decidiram investir de vez na dança. “Sempre parece impossível, mas quando a gente quer e coloca no nosso coração que podemos e conseguimos, não tem como dar errado”, continua ele.

Atualmente o trio tem se concentrado na produção musical (sim, o talento extrapola a dança para composições próprias de funk) e no lançamento do seu brechó online de streetwear, o Black Fashion 22. O que não quer dizer que o passinho tenha ficado de lado: “Praticamos duas vezes por semana, com duas horas de ensaio de coreografias e exercícios para manter a forma”. Eles também estarão no elenco de Malhação 2020, adiada para 2021 por causa da pandemia.

Donté Colley

Os primeiros vídeos postados pelo canadense Donté Colley, 23, são de 2015. Na época, ele ainda estava na escola. Animados com emojis e mensagens de incentivo, ele criou uma identidade própria nas redes sociais, que mais tarde serviu de inspiração para uma parceria com ninguém menos que Ariana Grande e Victoria Monét para o clipe de “Monopoly” (2019). A coreografia é assinada por ele, que também aparece dançando no vídeo. De lá para cá seu número de seguidores cresceu para 865 mil no Instagram e para mais de 300 mil no TikTok.

“A dança sempre fez parte da minha vida, meus pais dizem que eu já bailava de fraldas”, brinca ele, durante uma conversa via Zoom. “Acho que é mais do que movimentos de perna, é um estilo de vida. Não sei como é viver sem dançar, porque isso me ajudou de muitas formas”, completa. Suas primeiras memórias são de quando tinha uns 10 anos e buscava tutoriais no YouTube. “Fazia pesquisas de como dançar ou como fazer coisas específicas, como uma pirueta.” Apesar de sempre ter desejado uma carreira na área, Colley nunca fez aulas. “Tentei duas vezes, mas não era para mim. Sofri muito bullying por ser o único homem, e isso pode ser muito desafiador. Ainda bem que a tecnologia foi evoluindo conforme eu crescia e me permitiu pegar referências e me educar para chegar onde estou agora.”

Apaixonado por hip hop, ele cria seus movimentos a partir da dança moderna e os contrasta com influências líricas e muito dinamismo. “Pratico diariamente, principalmente para me divertir, mas há momentos em que fico parado e depois volto com tudo, treinando umas 4 ou 5 horas sozinho, de fones de ouvido”, fala. “É um espaço fechado que entro e é só meu. Acho que isso é o melhor de tudo, essa libertação que também ajuda a manter a minha mente clara e firme.”

Com o sonho de um dia acompanhar Rihanna em uma turnê, Colley prefere seguir seu próprio flow quando se trata de redes sociais, sempre priorizando a transparência e a honestidade. “Tento não levar as redes muito a sério, afinal de contas, é a sua página, e você pode fazer o que quiser com ela”, dispara. “O Instagram é para ser aquele mundo editado perfeitamente, mas não acredito nisso. Quero compartilhar os altos e baixos da minha vida, porque sei que não sou o único passando por esses momentos.”

Para o bailarino, foco e dedicação são essenciais para quem deseja trilhar esse caminho. “Se você está feliz com isso, continue fazendo. Não é fácil e nem deveria ser, tudo que vem fácil não vale a pena”. Não se basear nas críticas negativas também está na sua fórmula de sucesso. “Sempre tenha em mente que o que as pessoas pensam de você não é seu assunto. Você é diferente dos outros, e é assim que tem que ser, portanto trabalhe duro, dê o seu melhor e nunca desista de você.”

Letícia Brum

Dançarina desde os 3 anos de idade, Letícia viu sua carreira dar um salto há um ano e meio, quando seus vídeos online chamaram a atenção de Tony Salles, líder da banda de pagode baiano Parangolé. “Ele gostou do meu trabalho e me convidou para dançar como convidada no Carnaval de 2019, em Salvador. Foi uma experiência maravilhosa”, lembra. “Um mês depois ele me enviou uma mensagem novamente, dessa vez me convidando para integrar o ballet oficial da banda.” A carioca de 23 anos não pensou duas vezes e fez as malas para Salvador, onde mora atualmente.

Para Letícia, as redes sociais sempre foram fundamentais na construção de sua carreira. “Se hoje estou onde estou é por conta disso, afinal foi por causa dos meus conteúdos que tive oportunidades profissionais”, fala. “A internet pode nos proporcionar muita coisa boa quando usada da forma certa.”

Com quase 400 mil seguidores no Instagram e mais 157 mil no TikTok, a bailarina começou no balé clássico e passou a acrescentar novos ritmos, conforme participava de workshops e cursos de dança no Rio de Janeiro. “Sempre amei cultura, fiz faculdade de Artes Cênicas, mas não conseguia deixar a dança de lado. Essa é a minha maior paixão”, diz ela, que não passa um dia sem dar uma boa chacoalhada no esqueleto. “Ensaio, faço shows com a banda, produzo vídeos, crio coreografias e dou aulas também, mas não tenho um horário estipulado de treinamentos.”

Expandir os conhecimentos na dança está no topo de prioridades de Brum atualmente, assim como uma possível carreira de atriz. “É algo que gosto tanto, mas que ficou parado nesse meio tempo”, diz. “Mas isso é bem para o futuro. Costumo viver o meu momento e aproveitar cada segundo dessa experiência que estou vivendo”, arremata.

Ramana Borba

Nascida no Rio Grande Sul, a jovem de 19 anos sempre foi apaixonada pelo meio artístico, mas nunca se sentiu representada com o que via. Quer dizer, até assistir a um vídeo de Beyoncé, por volta dos seus 12 anos. “Quando vi ela dançando no palco junto às bailarinas, que mais tarde também viraram referências, fiquei chocada e decidi fazer aulas”, relembra ela. A dança logo virou uma ferramenta de libertação da timidez. “Sempre fui aquela menina que gostava de dançar escondida no quarto, então busquei algo que me ajudasse a me soltar mais.”

Aos 13, ela iniciou a incursão acadêmica com um workshop ministrado por profissionais como Raphael Centurião e Arielle Macedo. Na sequência, iniciou um canal no YouTube para documentar sua evolução. “Na época, não havia meninas negras brasileiras com visibilidade na plataforma, e isso impulsionou as visualizações dos meus conteúdos”, conta. “Muitas passaram a se identificar comigo não só pela dança, mas pela beleza e pela moda também.” Hoje, o canal já ultrapassa 1 milhão de inscritos, e Ramana possui uma lista poderosa de colaborações com artistas como Iza, Ludmilla, Projota, Pedro Sampaio, além de páginas bombadas no Instagram, Facebook, Twitter e TikTok. “As redes te dão a oportunidade de conhecer pessoas e ter uma visibilidade que antes só teria se conseguisse chegar à televisão. As possibilidades são muito maiores”, afirma.

Por conta da pandemia, Ramana precisou interromper a rotina de aulas presenciais, mas não parou de agitar nas redes: seu vídeo fazendo o #WapChallenge da Cardi B foi uma de suas viralizações mais recentes – até o fechamento desta matéria, eram 15 milhões de views, com direito até a repost pela própria rapper. “Fiz dois vídeos, e ela repostou os dois. Fiquei muito feliz, porque quando se entra no meio artístico há tantos altos e baixos, então esse é um momento especial.”

Sua próxima empreitada será uma colaboração internacional ainda a ser revelada. Sua dica para quem deseja seguir uma carreira na dança é correr atrás e não desistir. “Sempre haverá pessoas que vão te criticar e tentar te colocar para baixo, mas não se deixe abalar. Seja diferente, procure o seu tipo de conteúdo, estude bastante, pesquise, se divirta e não ligue para os comentários negativos. Se for para ser, vai ser, e é isso.”

Tati Bambofit

Além dos patins de quatro rodas, os bambolês também fizeram seu comeback nas redes sociais graças a infludancers como Tati Oleinik, criadora da modalidade BamboFit (mistura dança e bambolê) e duas vezes recordista em dança com o maior número de bambolês segundo o livro dos recordes RankBrasil. “Comecei com 20 bambolês, depois fui para 22 e atualmente me apresento com até 35”, explica ela. O feito lhe rendeu participações em diversos programas de televisão, mas por muito tempo a paulistana de 28 anos não viu isso como uma possível carreira. “Era apenas um hobby pra mim, nunca fiz curso, até porque não é fácil achar aulas de bambolê.”

O bullying na escola também dificultou o processo. “Os alunos falavam de forma pejorativa que eu só sabia rebolar, outros diziam que eu teria que ter uma profissão quando crescesse e, de certa forma, eu acreditei.” Desencorajada, tentou buscar propósito no jornalismo, mas não demorou para retomar sua verdadeira paixão. “Apresentei um telejornal, viajei como repórter correspondente, mas nunca deixei de fazer apresentações com bambolê em paralelo”, conta. “Quando voltei para o Brasil, larguei o jornalismo para acompanhar a minha mãe em um tratamento contra o câncer e comecei a repensar tudo”. Mais segura de sua missão de vida, se jogou no lançamento da BamboFit.

Hoje, 22 anos após sua primeira experiência com o bambolê, Tati já construiu um pequeno império rebolante
com a sua marca online. Lá, ela oferece desde vídeos ensinando a escolher o modelo certo do arco, até cursos avançados e produtos como bambolês portáteis de diferentes tamanhos e pesos. “Inclusive, as crianças terão um modelo desenvolvido exclusivamente para elas. Ao contrário do que as pessoas pensam, não é um bambolezinho pequeno.” Fica a dica.

Isa Zendron

Isa Zendron estava começando a consolidar seu sonho de ter um espaço físico para realizar as aulas de sua Boate Class quando a pandemia da Covid-19 chegou puxando seu tapete. “Fazia dois anos que o curso havia começado de forma orgânica e gradativa”, explica. “Estava com um público muito legal, alunos fiéis e uma troca de energia ótima. Foi um momento difícil.”

Até então, ela utilizava as redes sociais mais como ferramenta de divulgação do que de criação de conteúdo, mas rapidamente reverteu a situação a seu favor. “Nas primeiras semanas de quarentena comecei a fazer lives das aulas no Instagram e foi um boom na internet. A Fernanda Paes Leme participou, depois fui parar no programa Saia Justa e rolou uma divulgação enorme.” Com o objetivo de descomplicar a dança e tornar a experiência mais divertida e acessível, a Boate Class caiu como uma luva para quem sempre quis dançar, mas não tinha coragem de se mostrar.

“De certa forma, a aula online permite uma liberdade maior. Sinto que as pessoas conseguem se jogar mais, e foi muito bonito, porque entenderam essa minha proposta de se permitir a dançar, com erros e risadas. Isso é para todo mundo, e não precisa ter vergonha”, diz Isa que, apesar de não ter formação acadêmica na área, tem uma extensa bagagem técnica, que inclui desde competições federadas de ginástica olímpica até um curso na Broadway.

A viralização das lives também trouxe novas propostas de colaborações com marcas para o curso. Hoje, a Boate Class se tornou a Boate Virtual, com força especial no Instagram, apesar de Isa curtir os dance challenges do TikTok. “Eu faço, mas posto no Insta. Acho que estou velha demais para outra rede social”, brinca. Mas não para ser uma infludancer. “Assumo que virei uma blogueira, porque faço toda a comunicação das páginas e acabei desenvolvendo uma relação mais íntima com os meus alunos e seguidores.”