Este foi o ano em que tudo mudou. Foram meses de quarentena, em que boa parte de nós esteve isolada em casa, sem poder exercer nossa coletividade. Com isso, fomos obrigados a olhar para dentro e encarar questões que por anos deixamos de lado. Adaptamos nossas rotinas a quatro paredes, reaprendemos a nos relacionar, a nos divertir, aprendemos a trabalhar à distância e a seguir, apesar de tantas incertezas.
Ao fim deste ano caótico, dolorido e transformador, perguntamos a dez nomes o que eles aprenderam e levam deste ciclo:
Foto: Divulgação
ERIKA PALOMINO, diretora do Centro Cultural São Paulo e colunista da ELLE Brasil
“Tudo ficou virado de cabeça para baixo neste ano. Todas as poucas certezas que a gente tinha foram sacudidas e chacoalhadas. Passei a viver um dia de cada vez, uma semana depois da outra, sem saber como iria ser o mês ou o ano que vem. Foi um ano de muitas mudanças e transformações, em que eu me mudei de casa e entendi que tinha coisas demais. Estava em um lugar de excesso, de desperdício, de pouca atenção para o que eu realmente gostava e gosto. Fui priorizando coisas e entendendo o que é importante para mim, olhando para quem eu me transformei, como é minha vida hoje e como eu quero que ela seja. Entendi que muitas coisas que eu estava carregando – literalmente – não eram minhas. Consegui deixar muitas delas para trás e fiquei mais leve.”
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BOB WOLFENSON, fotógrafo
“Este ano foi uma experiência que nunca esperei viver e, como tudo, tem o ‘lá e cá’. Houve o lado horroroso, que continua existindo, que é o medo de pegar a doença, o de transmiti-la e o de não poder ter uma vida sem privações. Por outro lado, tive uma vida mais introspectiva, li mais, reorganizei meus negócios, minha forma de trabalhar. Comecei a pensar no meu trabalho de outra forma. Nesse sentido, quando a pandemia acabar, acho que a ampliação do mundo digital terá sido muito importante e mudará tudo. Todo mundo vai sair ganhando com isso.”
Foto: Divulgação/Ana Alexandrino
LETRUX, cantora
“2020 escancarou o que já era sabido, mas muitas vezes disfarçado: o Brasil é governado por pessoas negacionistas, racistas, homofóbicas e machistas. É na hora do caos que você percebe quem tem empatia e quem consegue transformar. Infelizmente, estamos à deriva, esperando que pelo menos o capitalismo (quem diria torcer por ele?) faça com que a vacina seja real e gratuita. E ainda no ano que vem, para todos os grupos.”
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HELDER RODRIGUES, maquiador
“Este ano me fez refletir muito. Aprendi a ver mais o lado das pessoas, a ouvir mais, a ter mais paciência. Também vivi momentos de ansiedade pelo futuro. Deixei de consumir em excesso e me desapeguei de muita coisa. Estou vivendo um dia de cada vez.”
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CAROL RIBEIRO, modelo e apresentadora
“Senti que ainda tenho muita coisa para aprender – e essa foi minha maior lição este ano. Sempre fui muito estudiosa e a gente tende a ter muitas certezas, mas neste ano eu as desconstruí. Me coloquei mesmo num palco com um holofote por cima de mim para eu me observar e tentar melhorar. Ainda não melhorei por completo e estou em busca disso. Preciso dar tempo para que essa melhora seja verdadeira. A gente está muito acostumado ao imediatismo, mas é tijolinho por tijolinho, uma construção diária. É preciso estar disposto a quebrar nossas certezas e reaprender coisas que estavam erradas.”
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MADAMA BR0NA, astróloga
“Este ano me ensinou coisas muito importantes que espero lembrar e levar para a vida: não ficar só na minha cabeça, ‘fritando’ nas ideias. Também me ensinou a voltar para o corpo, fazer coisas manuais de novo. Me reconectei com isso. Tive muitas crises de ansiedade, de identidade e de gênero, mil coisas das quais antes eu conseguia fugir. Como fiquei seis meses em um apartamento pequeno, não tinha muito para onde escapar. Pensei muito em fugas, mas encarei essas questões e foi importante para meu amadurecimento. Não vou falar ‘obrigada, coronavírus’ nem ter esses papos nada a ver, mas espero ter tirado algo de lição, experiência e aprendizado desse ciclo.”
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JOICE BERTH, arquiteta, urbanista, escritora e colunista da ELLE Brasil
“O ano de 2020 não me trouxe exatamente um aprendizado, mas um reencontro com meu lado mais paciente. Um reencontro com a resignação, que eu sempre cultivei. E a consolidação da minha fé. Foi preciso acreditar muito na vida, ter muita fé para conseguir atravessar esse período turbulento com o mínimo de saúde. O que eu aprendi é que devemos usar todos os recursos interiores para o fortalecimento mútuo. Muita gente me fortaleceu, e eu fortaleci muita gente com palavras, trocas, muita escuta, pequenas alegrias diárias, como o envio de flores ou uma ajuda profissional. A verdade nas relações humanas nunca se fez tão necessária. Tudo que era falso acabou se dissolvendo, e o que era verdadeiro se solidificou ainda mais. Outra lição importante foi observar mais a fundo que a solidariedade e a gratidão têm importâncias e significados que variam muito. Muita gente consegue ser solidário na dor, mas não no compartilhamento das alegrias, pequenas ou grandes, do mesmo modo que alguns pensam que a gratidão é uma troca material. A pandemia mostrou que não, a gratidão é a troca de afeto espontânea. E essa é uma certeza que eu vou levar daqui pra frente. Mostrar é mais verdadeiro e poderoso do que dizer.”
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RAFAELLA CANIELLO, estilista
“Em termos econômicos e pessoais, este ano foi difícil para todo mundo. A gente foi afastado de todas as nossas alegrias momentâneas e até dos planos futuros. Ficamos totalmente à mercê do presente, tanto pessoal quanto profissionalmente. Não precisamos mais planejar tanto o futuro porque a gente não tem controle sobre ele. Temos que ter sonhos e metas, mas também temos que considerar que tudo pode mudar de um dia para o outro. As mudanças bruscas nos guiam para lugares e para pessoas diferentes de onde estávamos e do que aconteceria se tivesse ‘tudo dado certo’. Minha lição foi essa.”
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LARISSA LUCCHESE, stylist
“O que eu mais aprendi e o que vou levar de 2020 – ou pelo menos tentar – é fazer tudo com um pouco mais de calma e cuidado. Não que eu não tivesse isso antes na minha vida pessoal e profissional, mas este ano fez a gente enxergar que não temos controle sobre nada. Então, não adianta muito correr e fazer as coisas com pressa, atropelando, sem pensar e sem consciência. Estou tendo mais calma, mais cuidado e mais alma nas coisas que estou fazendo, planejando e querendo. Foi muito importante essa pausa. Ao mesmo tempo que foi muito doloroso, foi um aprendizado muito grande e uma evolução enorme saber o que eu quero, me focar nisso e fazer tudo com mais propósito.”
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ANGELA BRITO, estilista
“O ano de 2020 foi de muitos desafios, em todos os sentidos, para todo mundo. Na minha marca, a gente sabe que existe muito pouco espaço para que os pequenos possam ter visibilidade. Os espaços e os ganhos na parte comercial são muito raros e, muitas vezes, inexistentes. 2020 trouxe esse histórico de falta de apoio, atrelada à questão racial, que também influencia muito e acaba limitando a questão financeira. Como uma marca pequena, sem ajuda, quase sem ponto de venda e com o ateliê fechado, fiquei só com o site. Foram grandes os desafios para que a gente pudesse estar aqui. Estamos vivendo um dia de cada vez. Foi um ano difícil, de muito aprendizado, mas também nada diferente do que a gente viveu nos anteriores – talvez um pouco mais difícil pela parte financeira. Foi tudo muito planejado e contido para que a gente pudesse resistir o maior tempo possível. Tenho muito orgulho de ter chegado ao fim deste ano e apresentado minha nova coleção, mantido minha equipe e meu ateliê. Se eu cheguei aqui, agora vou continuar.”