Uma ode ao poder da autoexpressão

Em entrevista à ELLE Brasil, o sueco Ben Gorham conta como montou a incensada Byredo e revela todos os detalhes por trás da coleção de maquiagem feita em colaboração com a genial Isamaya Ffrench.

A Byredo não é como qualquer outra marca de luxo que você conheça. Diferentemente da maioria, em vez de ser 100% focada em um tipo de produto feito com muito esmero e cuja história atravessa os séculos, a etiqueta, fundada pelo sueco Ben Gorham, inventou um lifestyle. Ou seja, a Byredo pode vender qualquer coisa. Não à toa, seu repertório atravessa mercados relativamente desconectados: ao mesmo tempo que velas e perfumes estão no catálogo da grife, acessórios de couro, joias e óculos também figuram na lista.

 

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Assim, a nova empreitada, que curiosamente teve seu lançamento em plena quarentena global, é uma linha de maquiagem desenvolvida ao lado da genial Isamaya Ffrench. Em entrevista à ELLE Brasil, o diretor criativo da marca revelou que, apesar de os produtos terem chegado às prateleiras e e-commerces em plena pandemia, o desenvolvimento começou cinco anos atrás. “Na época, eu tinha a sensação de que a maquiagem poderia ser uma manifestação física da beleza da Byredo, em contraste com as fragrâncias que, de certa forma, são invisíveis”, relembra.

Filho de mãe indiana e pai canadense, Ben nasceu na Suécia e dividiu sua infância entre cidades como Toronto, Nova York e Estocolmo. Sua figura marcante não passava despercebida pelos desfiles e festas no circuito Londres-Milão-Paris e, claro, não demorou para que ele investisse em criar a sua própria empresa. O sucesso da Byredo, portanto, está na flexibilidade da marca e na sua capacidade de criar hits sem perder a veia vanguardista.

“A abordagem de design para mim é tão importante quanto o próprio produto.” Ben Gorham

Quando lançou as fragrâncias Bibliotèque, Mister Marvelous e as mais aclamadas, Bal d’Afrique, Gypsy Water e até mesmo um perfume sem nome (Unnamed), o sueco foi tido como um revolucionário da perfumaria. As atrizes Kate Bosworth e Sienna Miller são fãs de carteirinha dos frascos da grife, que também conta com a top Rosie Huntington-Whiteley em sua lista vip de clientes.

E como levar essa complexa fórmula que mistura o disruptivo e o elegante para o campo da maquiagem? “No começo, era até difícil imaginar como conseguiríamos fazer isso. Principalmente por eu não ter uma relação prática com maquiagem: não uso no dia a dia. Foi aí que eu conheci a Isamaya.”

No alto panteão da maquiagem, a britânica é conhecida assim mesmo, por seu primeiro nome. Sua carreira começou com colaborações para veículos de peso do Reino Unido. Estamos falando de Dazed & Confused, W e LOVE Magazine, entre outras revistas icônicas. As imagens autorais que criou nessas marcas chamaram a atenção de uma série de mulheres que, atualmente, são suas clientes e, no limite, resumem sua estética corajosa, futurista e, tal qual a Byredo, versátil. Para ter uma ideia, a lista começa na bombshell, empresária e cantora Rihanna e termina na performer, cantora e artista multimídia Björk. Depois um tempo como editora de beleza da i-D, ela começou a prestar consultoria para etiquetas de luxo, como Tom Ford, Yves Saint Laurent e, mais recentemente, Burberry Beauty. Isso sem contar que Isamaya foi um dos principais agentes para o lançamento da Dazed Beauty, portal que vem revolucionando a maneira de falar sobre beleza na internet nos últimos anos.

 

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Ben lembra que a primeira vez que se encontraram não foi de caso pensado, para uma reunião formal. “Tínhamos amigos em comum, depois nos víamos em desfiles e em algumas ocasiões chegamos até a dividir um táxi ou outro. Foi em uma dessas viagens que começamos a discutir sobre maquiagem e que retomei o projeto. Nossa conversa desde o início girou em torno das cores, da autoexpressão e a conexão emocional que esses produtos podem gerar. Temos muito em comum: nós dois amamos o ar livre e a natureza, o que realmente fortaleceu nossa parceria e fez com que nos conectássemos em outro nível”, ponderou o sueco – que, vale dizer, antes de se encontrar na turma fashionista era jogador profissional de basquete. Atualmente, ele se isola algumas vezes por ano para surfar e praticar diferentes esportes radicais.

Segundo Ben, todo o processo criativo foi uma grande descoberta e o que mais impressionou foi ver Isamaya em ação, criando diferentes looks “em menos de dez minutos”. Tamanha sintonia promete se estender, já que algumas novas cores e produtos devem, em breve, fazer companhia aos seis tipos já lançados (diferentes cores de batom, diferentes cores de um bastão cremoso que serve para pintar qualquer área do rosto, um delineador clássico preto, uma máscara para cílios tradicional com aplicador bem delicado, algumas paletas de sombra com tons “fora da caixa”, como amarelos esverdeados e roxos profundos, e um lip balm). “Por exemplo, para mim, as embalagens têm um fator atemporal que também levo em consideração na hora de criar os perfumes. A inspiração veio de artefatos antigos que você vê em museus. Desse estranhamento entre o fato de serem milenares e, ao mesmo tempo, aparentarem tão modernos”, explica.

“Não queríamos sair com apenas uma garota usando batom, sabe? Tinha que ser tão especial quanto todo o processo. É sempre, sempre sobre autoexpressão.” Ben Gorham

“É um processo complexo com muitas variáveis, mas acho que no final é realmente sobre algo que você sente. E essa abordagem de design para mim é tão importante quanto o próprio produto”, continua. Indo além das convenções estabelecidas, Ben e Isamaya convidaram a artista Jesse Kanda, expert em computação gráfica, para adicionar um olhar futurista à campanha de lançamento. Nas imagens, criaturas mágicas e seres indefinidos foram clicados com o intuito de desafiar seus clientes a usarem os produtos de maneiras não convencionais. “Não queríamos sair com apenas uma garota usando batom, sabe? Tinha que ser tão especial quanto todo o processo. É sempre, sempre sobre autoexpressão”, conclui.

 

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Animado e finalmente familiarizado com a linha de maquiagem, Gorham revelou que está fascinado pelas sombras, principalmente pelo desenho do pequeno estojo em que elas ficam guardadas. “A ideia surgiu depois que vimos ouro líquido sendo pingado em uma ostra. Essa ideia era muito vívida e acho que chegamos bem perto! Elas também são muito fáceis de usar. São realmente universais e multiúso: podem ser usadas nos olhos, nos lábios e nas bochechas.” Para fechar, a vontade de se maquiar e se divertir fica ainda maior quando você descobre que uma dessas minipaletas foi criada em homenagem a Yves Tumor, produtor de música eletrônica estadunidense em ascensão. Afinal de contas, há forma melhor de se expressar do que brilhando e dançando, mesmo que seja sozinho em frente ao espelho?