Parceira de YSL Beauté no país, a atriz, empresária de moda (ela é dona da Ginger, que está prestes a completar um ano) e diretora do marketplace ZZ Mall, conversou com ELLE Brasil sobre as suas crescentes guinadas pela indústria da moda, a sua relação ambígua com a beleza, além de feminismo, Brasil, liberdade e muito mais. Confira abaixo!
Quando você se sente livre?
Quando estou entre os meus. Eu vejo a liberdade como uma jornada, uma conquista individual e que também tem o seu lugar no acolhimento. E eu me sinto amada, cuidada e querida pela minha família e pelos meus amigos. É com eles que a minha liberdade aflora.
Então você entende que a sua liberdade foi algo que precisou conquistar?
Todo mundo tem liberdade para conquistar, seja ela social, financeira, emocional, artística… As minhas lutas pessoais foram conquistadas ao longo de muitos anos e com muito trabalho. Mesmo reconhecendo que eu saí de um lugar de muitos privilégios, eu precisei colocar muita dedicação e energia para estar na posição que eu ocupo hoje.
E quando você não se sente livre?
Quando existe julgamento.
Por quê?
Quando você não se coloca no lugar do outro, você repreende aquela outra maneira de se viver ou de se agir. Isso aprisiona tanto o julgado quanto o julgador. Eu sou uma grande defensora por empatia, compreensão e amor, para todos nós termos o direito de sermos quem nós somos.
Pelo que você tem “gritado por liberdade”, atualmente? Sobre o que você quer se fazer ouvida?
É preciso gritar por diversas liberdades, quando muitos ainda não têm os seus direitos mais básicos garantidos. Hoje, eu prefiro usar a minha voz para os outros, servir como um palco para as causas relevantes que eu acredito. As pautas feministas, as situações que envolvem maior vulnerabilidade, e as questões ambientais ocupam um lugar especial no meu coração. Eu tenho procurado me envolver com projetos e instituições respeitadas no país, porque eu quero contribuir justamente para essa garantia de liberdade a todos.
No final do ano passado, você lançou uma marca própria, a Ginger. De onde vem esse o seu interesse por moda?
Esse interesse sempre existiu, mas ao longo dos anos ele foi expressado de maneiras diferentes. Começou como consumidora e, com o desenvolvimento da minha carreira de atriz, eu fui parar no papel de garota propaganda. Eu tive a oportunidade de conhecer as melhores marcas do mundo, nacionais e internacionais, que me deram todo um grande repertório. [Com o lançamento da Ginger] foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de viver o outro lado da moda. E a minha relação passou para o lado criativo, o de fundar e fazer crescer uma marca. Eu considero um sonho poder viver todas essas facetas de algo que, pra mim, é uma grande paixão.
E, recentemente, você também virou diretora de moda do ZZ Mall, com direito a publicação da primeira edição de uma revista. Como é essa experiência?
Tem sido enriquecedor e complementar. São desafios diferentes quando se tem uma empresa pequena e quando se colabora para um grande grupo de moda. Eu procuro aprender e absorver o que há de melhor em ambos. Como eu recebi carta branca, do ZZ Mall, para propor ideias, a experiência tem sido ainda mais especial. Sou grata por confiarem e acreditarem na minha visão estratégica e criativa.
Você foi justamente da garota fotografada para a posição de quem está no comando. O que essa inversão no trabalho com moda trouxe para você?
As funções mudaram, mas o senso de responsabilidade é o mesmo. Todos os papéis são importantes e um não diminui o outro. Não se faz nada sozinho. Mas eu sinto que hoje tenho uma visão mais completa do processo, que fica ainda mais claro como todos estão envolvidos e contribuem para a construção daquela imagem que você vê no final.
Mas na marca você sente que consegue se expressar melhor?
Estar do lado da concepção criativa abre muitas portas em termos de expressão, sem dúvida. É uma outra maneira de se posicionar dentro da indústria e eu sinto que consigo mostrar um pouco mais da minha identidade por meio da Ginger, sim.
Na moda, quem você diria que é uma grande inspiração?
Yves Saint Laurent é uma grande inspiração. A irreverência, a ousadia e o espírito disruptivo. Eu sou apaixonada por casas que tem o que dizer e essa maison, sem dúvida, transborda personalidade. Moda é expressão.
O que você tem feito para se manter bem com as restrições impostas pela pandemia, como o distanciamento?
Como a maioria das pessoas, eu não consigo ficar bem sempre. E está tudo bem. Eu tive altos e baixos, dias bons e dias ruins e procuro lidar com uma coisa de cada vez. Claro, eu passei a respirar mais fundo, ficar mais próxima da natureza, ler livros, mas o principal foi ter mais paciência comigo, compreender melhor o que eu estou sentindo. É impossível não se afetar ou se sensibilizar pelo o que está acontecendo.
O que você mais tem sentido falta nesse período?
A resposta natural seria dizer que eu estou sentindo falta das pessoas, o que é verdade, mas eu tenho sentido muita falta mesmo de boas notícias. Estamos vivendo em um momento em que está difícil ter uma perspectiva boa do futuro. É como ser engolida por uma onda e, ao subir para respirar, vem outra logo em seguida. O nosso país sempre teve muitas questões, mas já faz um tempo que está especialmente difícil para os brasileiros.
Inclusive, como você tem lidado com as redes?
Existe sempre o ônus e o bônus. São ferramentas incríveis de trabalho, de conexão, de expressão, mas que também têm muito julgamento, ódio e angústia. Depende de como você lida com esses elementos e não existe fórmula mágica. Nos últimos anos, eu tenho buscado uma relação mais saudável com a vida online.
Você se considera uma pessoa intensa?
Já fui muito mais, confesso. Hoje, eu cultivo uma intensidade onde acho que faz mais sentido, como no meu trabalho, nos meus sonhos, nos meus projetos pessoais. Eu encaro como uma característica positiva, que nos leva para frente. Então eu sou intensa, com intenção.
O conceito de intensidade para Saint Laurent era também de “ser ao extremo”. No que você é ao extremo?
Eu sou ao extremo nos meus valores, no meu comprometimento, na minha ética, no meu respeito. Nessas questões não existe meio termo e é necessário ser ao extremo. Todos nós erramos e estamos em constante evolução, mas a intenção de ser sempre a melhor nesses quesitos é muito importante pra mim.
Você é um ícone de beleza, de imagem, para muitas mulheres. Como você se sente em relação a isso?
De verdade, eu não me coloco nesse lugar de ícone de beleza. Acho o meu papel como mulher mais importante e interessante em outras áreas. Está mais do que na hora de reforçarmos que existe beleza em todas as mulheres, quero cada vez mais quebrar esses padrões. Eu considero, inclusive, que este é um elogio que aprisiona.
Beleza significa o que pra você?
Estar bem comigo, ser feliz na minha própria pele. E nem sempre foi assim. Na verdade, foi um processo de amadurecimento longo e, muitas vezes, dolorido. Foi fundamental entender que existe aceitação fora do olhar do outro. Hoje, estou em uma fase em que a minha visão sobre mim é mais importante.
Você já teve medo de ficar refém dela?
Não só já tive medo como já fui refém. E eu não tenho problema de admitir. Quando parte do seu trabalho é a sua imagem, você pode facilmente cair nessa armadilha. É uma desconstrução intensa e diária, mas não me sinto mais prisioneira de como os outros me enxergam.
Perfumes têm essa capacidade de nos lembrar momentos. Quando você gosta de usar uma fragrância especial?
As fragrâncias estão presentes em momentos únicos da minha vida pessoal e profissional.
E você tem alguma memória olfativa especial que guarda com mais carinho?
Parece bobo, mas eu sempre me lembro nitidamente do perfume da minha mãe. Sabe quando a gente ganha aquele colo e consegue sentir o cheiro de quem a gente ama? Me traz tantas memórias boas! As fragrâncias têm mesmo esse poder de relembrar, de reviver e dar mais intensidade aos momentos que merecem ser celebrados.