Ilustração @viamagalhaes
Posicionamento x Instagram. O que você tem a ver com isso?
O Instagram já foi descrito de várias formas, inclusive como um experimento de mundo. Um ambiente controlado onde certas tendências e comportamentos podem ser mapeados, testados e medidos. Nessa terra com leis bastante específicas, o famoso algoritmo é apontado como uma espécie de deus cuja natureza, aos poucos, tem sido questionada e descoberta.
Mas, antes de entrarmos em algo de muito revelador sobre a divindade instagrâmica, vamos passear por seus domínios. O Instagram, como seus primos, é uma rede de influência. Em resumo, tem mais poder quem consegue influenciar mais pessoas. Há casos particulares, por exemplo, a influência de topo, quando o influenciador age sobre um grupo seleto de pessoas que têm, por sua vez, domínio de massa.
Conforme nos afastamos das altas esferas, entramos em áreas de influência menores, digamos, de médios e pequenos poderes.
No topo da influência, podemos ver de Kardashians e grandes estrelas da música a gente sem grandes talentos ou projeção prévia em outras mídias.
O conceito de celebridade hoje não só comporta essa nova categoria como tem sido modificado por ela. Alguém pode ser célebre mostrando um conteúdo banal, com rotinas de beleza, selfies e imagens de casa, por exemplo. O material costuma ser turbinado por presentes e viagens, ou seja, coisas e cenários que, mais do que camuflar a falta de assunto, a exaltam. Ou seja, o bom é não falar nada de muito desenvolvido e alimentar um fluxo de imagens planejadas, elogios e toques de ódio.
Da mesma forma, isso vale para os influenciadores menores, que vivem à sombra e à moda dos líderes de audiência e engajamento.
Há outras categorias, evidentemente. Profissionais liberais, conteudistas, empresas de mídia, militantes, especialistas, artistas independentes etc. Mas elas são elementos de composição, e não a estrutura principal.
Nesse mundo, o poder das contas individuais supera o das contas de instituições e empresas. Exceto, é claro, o da empresa que capitaliza tudo isso. E, mais interessante, tendo de responder muito pouco pelas consequências de suas práticas.
E é aí que se revela uma das faces do algoritmo, uma face social e política de seu funcionamento.
Quando uma celebridade bastante influente se recusa ou defende seu direito de não se posicionar sobre uma pandemia devastadora, ela segue as ordens não ditas do deus interno. Porque é assim que as coisas funcionam no nível superior da chefia divina. Contas comprovadamente responsáveis por postagens violentas e criminosas são misteriosamente mantidas. Outras, sem razão aparente, são derrubadas. Tudo sem muita explicação, fazendo uso da prerrogativa de não se pronunciar até onde for possível.
Isso, nos níveis menos favorecidos, se traduz em um sentimento de que não pega bem falar abertamente de sofrimento, caos pessoal e falta de perspectivas.
Tudo o que aparece nesse sentido tem de ser performático, calculado ou didático e carregado de algum otimismo, aquele semitom dono da verdade fofinho. É como se ninguém estivesse se sentindo perdido, ou realmente triste e miserável. A queda, a sarjeta, os estragos, em geral, se devem a perfis de humor, que não à toa vêm ganhando espaço.
No baixo Instagram, ou seja, nos perfis da plebe instagrâmica com poucos seguidores, ainda se encontra alguma espontaneidade. Mas nem sempre. A sombra da promessa de celebridade é o que leva milhões de pessoas a abrir uma conta, pra começar. Ou seja, o comportamento descomplicado e padrãozinho é pautado logo de início.
A coisa ganha em complexidade quando pensamos que, nas últimas décadas, houve um deslocamento brutal do debate político das áreas do trabalho e da economia para a arena do entretenimento.
Porém, em uma rede como o Instagram, esse debate tende a seguir as regras da casa. Só pode acontecer de forma ampla se, como o perfil de certas influenciadoras, for sem substância. Nada para ver além da superficialidade. Um quadradinho de luto, um slogan repetido, uma foto que viraliza e some em questão de dias, às vezes horas. Tudo tende à neutralidade, que favorece certos fluxos de negócios.
Ou seja, não se posicionar ou fazê-lo de forma inofensiva é a regra, e não o contrário. Pelo menos até aqui.
Como no resto do mundo, esse da rua, que anda tão esquecido, há grandes disputas em curso. O que, de certa forma, começa a fazer eco nos arrabaldes do Instagram, com ecos nas altas esferas. Vale observar os próximos capítulos dessa história.