Esta reportagem não é engraçada, mas também não usaria a expressão “sem graça” para que você não desista da leitura já aqui, no primeiro parágrafo. Mas é um texto que, apesar de falar com humoristas e dar espaço a seus pensamentos e conflitos, não se presta a trazer comédia. É uma pena o que você lerá agora, mas humoristas são seres humanos e não estão à disposição do nosso riso 24 horas por dia, sete dias por semana. Eles também não são felizes o tempo todo. Dá para acreditar? Alguns – assim como boa parcela da população – sofrem com depressão, ansiedade e outros transtornos mentais. Mas, diferente de você ou de mim, eles são obrigados, às vezes por contrato, a trazer sorriso aos nossos pândegos rostos. Mas como fazer o outro sorrir quando não se está bem? Como levar alegria para alguém quando o sentimento é medo, raiva ou dor?
Há uma linha tênue entre a tragédia e a comédia. Momentos agudos como a pandemia que vivemos agora são muito férteis para a construção da piada, porque às vezes é melhor rir da catástrofe do que potencializar a dor que ela traz. Mas ela existe e muitos comediantes a internalizam de forma grave. Como o ator e comediante Robin Williams, que se suicidou em 2014, assim como Fausto Fanti, um dos criadores do humorístico
Hermes & Renato.
A lista de humoristas que sofrem ou sofreram de algum transtorno é grande e não vale aqui ficar elencando quem tem ou não depressão, ansiedade ou outras características, mas fica um alerta. Em 2014, um estudo da Universidade Oxford com 523 comediantes, 404 homens e 119 mulheres, revelou que o perfil de personalidade dos profissionais é pouco comum e bastante contraditório. Há um lado introvertido e depressivo e outro extrovertido e cheio de manias. A pesquisa conclui que a comédia talvez seja uma forma de lidar com a depressão. Mas tudo isso, claro, não se aplica a todos os humoristas e as análises psicológicas não podem ser generalizadas.
Há, porém, pontos em comum no dia a dia dos profissionais do riso, como você verá nos depoimentos de Dani Calabresa, Yuri Marçal, Felipe Fagundes Torres e Dadá Coelho. Ouvimos também Christian Dunker, psicanalista, escritor e professor do Instituto de Psicologia da USP, sobre o tema e suas repercussões.
Clique nas fotos para conferir os depoimentos.